Maria Begonha é candidata única mas está a dividir a JS

A candidata viu várias concelhias demarcarem-se da sua candidatura.

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Maria Begonha é o rosto da candidatura "Razões de esquerda"

Maria Begonha apresenta-se como a candidata única à liderança da Juventude Socialista (JS) no congresso de 14 a 16 de Dezembro, em Almada, mas nem por isso se afirmou como uma candidata consensual. Nas últimas semanas viu algumas dezenas de concelhias demarcaram-se da sua candidatura. “Não nos revemos na postura que a candidata tem assumido, com um conjunto de práticas que descredibilizam e fragilizam a JS”, escreveram no Facebook militantes da concelhia da Moita. As estruturas de Proença-a-NovaTrofa e Lousada são outros exemplos de contestação.

O PÚBLICO apurou que a primeira proponente da moção "Razões de esquerda” tem telefonado a líderes de concelhias a "tentar desmarcar" assembleias-gerais em que seria debatida a posição das estruturas face à candidatura. E a sugerir a substituição das assembleias "por reuniões” com os membros da lista.

Contactada pelo PÚBLICO, Maria Begonha, que preferiu responder por email, confirmou que contactou militantes de algumas concelhias "para participar em reuniões" e "ter a oportunidade de explicar" a sua visão dos factos em relação a "polémicas passadas" (referindo-se ao caso dos erros no seu currículo) e rejeitou ter "exercido qualquer tipo de pressão". Afirma que a sua candidatura tem consigo a "esmagadora maioria dos militantes da JS".

Como as concelhias de Lousada e Trofa resolveram marcar reuniões para debater a posição em relação à candidatura de Maria Begonha, na qual acabaram por assumir uma postura de neutralidade, surgiu uma advertência por parte do líder da federação do Porto da JS, Eduardo Barroco de Melo, no sentido de que aquela atitude ia contra os estatutos e, por isso, era passível de processo interno. Em carta enviada ao PÚBLICO, o líder da federação do Porto diz sim ter enviado "uma mensagem", ainda antes dos comunicados serem emitidos porque entende que, de acordo com os estatutos da organização, as concelhias não podem declarar a sua posição (mesmo que neutra) relativamente a qualquer candidatura.

Esta tomada de posição por parte da concelhia de Lousada levou a que a então presidente da comissão federativa de jurisdição da federação do Porto da JS, Eduarda Ferreira, se tenha demitido. Ao PÚBLICO, Eduarda Ferreira, que também é presidente da Assembleia Concelhia de Lousada, disse ter saído "porque não entendia aqueles comunicados (da Trofa e de Lousada) como violadores de qualquer norma" e saía para impedir "eventual conflito de interesses" entre os dois cargos.

O Congresso Nacional da JS foi agendado numa reunião da Comissão Nacional, a 7 de Outubro em Albufeira. Nesse dia, Eduardo Barroco de Melo foi também eleito presidente da Comissão Organizadora do Congresso (COC). O líder da federação do Porto da JS já tinha, dois dias antes da reunião, completado os 30 anos. Barroco de Melo não considera impedimento ter-lhe sido atribuído esse novo cargo com mais do que a idade máxima para militar na JS porque é presidente de uma federação (a do Porto) e a COC é uma "comissão de serviço temporária", referindo de igual decisão tomada pela comissão de jurisdição da "Jota" no congresso da JS-FAUL.  

A Comissão Nacional também não aprovou a acta, nem uma minuta de acta da reunião magna, pelo que, para todos os efeitos, as decisões tomadas na reunião, entre as quais se incluem a marcação do congresso para este mês de Dezembro, não podem ser levadas a cabo. Também não há qualquer reunião da Comissão Nacional marcada até ao Congresso para aprovação de uma eventual acta.

“Duartecordeirismo”

Na JS a candidatura de Maria Begonha é vista como visando "sustentar posições de outros políticos que já não estão sequer na JS”, nomeadamente "do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, e de Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa”. Ambos antigos líderes da JS descritos como “jovens turcos” do PS, onde se posicionam mais à esquerda do que António Costa. 

Na sessão de apresentação da candidatura, a 21 de Outubro, Maria contou com a presença e apoio dos últimos cinco secretários-gerais da estrutura. Nessa sessão estiveram também presentes os antigos líderes da JS Sérgio Sousa Pinto e Margarida Marques.

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Apresentação da candidatura de Maria Begonha, na sede do Partido Socialista, a 21 de Outubro de 2018. Na imagem, da direita para a esquerda, João Torres (secretário-geral da JS entre 2012 e 2016), Ivan Gonçalves (secretário-geral da JS desde 2016), Duarte Cordeiro (secretário-geral da JS entre 2008 e 2010), Pedro Nuno Santos (secretário-geral da JS entre 2004 e 2008), Margarida Marques (secretária-geral da JS entre 1981 e 1984) e Diogo Leão (ao fundo à esquerda). Candidatura "Razões de Esquerda"

O percurso político de Maria Begonha

Maria Begonha entrou na JS através da concelhia de Lisboa, em Setembro de 2004. A própria revela só ter tido uma militância activa a partir de 2007, quando integrou os órgãos da JS Lisboa. Diz ao PÚBLICO ter entrado na JS por se identificar com "os valores do socialismo e o legado do PS".

A candidata ocupou vários cargos ao longo dos últimos anos: foi eleita para a, entretanto extinta, Freguesia da Lapa, em 2009; assumiu o papel de vogal no executivo da Junta do Beato (com responsabilidades nas áreas da Educação, Cultura e Juventude); e também foi deputada municipal em Lisboa. 

Assinou o primeiro contrato público na Junta de Freguesia de Benfica, em 2014. Apesar de no contrato do ajuste directo constar o apoio ao secretariado, Maria Begonha diz ter feito também, como a própria revelou ao PÚBLICO, "assessoria ao executivo e nomeadamente à presidente" da junta. Contactada pelo PÚBLICO, a Presidente da Junta de Freguesia de Benfica, Inês Drummond, diz que Maria "correspondeu às expectativas" no trabalho que desenvolveu.

Em 2016, Begonha deixou de ser deputada municipal para assessorar o gabinete de Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara de Lisboa. Acabou por rescindir o contrato com o gabinete do vereador a 30 de Setembro, para se dedicar inteiramente à candidatura à liderança da JS.

O que defende Maria Begonha?

"Crítica do funcionamento do capitalismo e adversária do conservadorismo e do liberalismo económico", Maria Begonha afirma conhecer os problemas da juventude portuguesa e defende "um papel mais interventivo do Estado que actue sobre as vulnerabilidades" a que "a geração mais nova do país está sujeita". 

Maria Begonha quer proteger o Estado social e lutar no combate à pobreza, exclusão social, integração de minorias e valorização da igualdade de género, afirmando "a intransigência no combate ao racismo, à xenofobia e ao populismo", disse ao PÚBLICO. 

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Maria Begonha (ao fundo à esquerda) num dos debates do Fórum da Moção, este Domingo no Centro de Congressos de Aveiro. Candidatura "Razões de Esquerda"

Defensora da "propina zero", a candidata quer ter uma JS com uma voz activa dentro do PS, mas com uma postura "critica" às reformas "que o PS procura implementar neste governo e no próximo".

Congresso Nacional da Juventude Socialista realiza-se em Almada entre 14 e 16 de Dezembro. Na reunião plenária da JS vai ser escolhido o sucessor de Ivan Gonçalves na liderança da estrutura.

Nota: Actualizado a 19 de Novembro com as declarações de Eduardo Barroco de Melo.

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