Câmara quer apoiar financeiramente nova ala pediátrica do Hospital São João
Rui Moreira defende ajuste directo para acelerar a construção do novo centro pediátrico e diz que a autarquia está disposta a comparticipar a obra através da Associação Um Lugar para o Joãozinho.
O presidente da Câmara do Porto revelou esta quarta-feira que a autarquia está disponível para juntar-se aos mecenas da cidade e apoiar financeiramente a construção do novo centro pediátrico do Hospital São João, obra iniciada pela Associação Joãozinho, em 2015, e parada há mais de dois anos.
Um dia depois de a ministra da Saúde, Marta Temido, ter garantido, no Parlamento, que o Governo irá “pôr todo o seu empenho na resolução da ala pediátrica”, mas sem adiantar prazos para a retoma das obras, Rui Moreira disse que o problema chegou “ao limite do intolerável”, razão pela qual defende, segundo o Expresso, que a construção arranque o mais breve possível através de um ajuste directo com a associação criada por Pedro Arroja, em 2014.
“Se o Estado não consegue fazer a obra, que deixe que alguém a faça e a Câmara do Porto está disponível para apoiar, dentro das suas possibilidades”, garante o autarca, sem, contudo, se comprometer com uma verba. Após uma reunião com o representante dos pais das crianças em tratamento oncológico, Jorge Pires, Moreira diz que há “mecenas dispostos a comparticipar a construção” e não vê impedimento a que o próprio Estado não apoie financeiramente a obra, através de uma associação privada, tal como apoia “fundações como Serralves ou a Casa da Música”.
Apesar de o Governo ter assinado um despacho, em Setembro, a viabilizar a obra, Rui Moreira, tal como Jorge Pires, teme que a revisão do projecto de arquitectura do novo Centro Pediátrico não esteja pronto antes de Abril, após o qual será “lançado um concurso público internacional, e mais prazos para visto do Tribunal de Contas, o que significa que não teremos a ala pediátrica pronta antes de três a quatro anos“.
“Isso se não houver impugnações ao concurso internacional”, adverte o líder da Associação Pediátrica Oncológica, que revelou estar “satisfeito” por saber que os pais das crianças “têm mais um aliado para retomar a obra”. Jorge Pires afirma ser “inacreditável a série de trapalhadas do Governo”, recordando que desde Maio o Ministério da Saúde avançou que o dinheiro (23 milhões de euros) para a construção estava disponível, “quando agora a ministra da Saúde diz-se incapaz de adiantar um prazo para o início da mesma”.
“Governo usa faits divers para adiar a obra”
Jorge Pires lamenta que o PS tenha votado, em Outubro, contra um projecto do PSD a pedir um ajuste directo para agilizar a obra da ala pediátrica por a "resolução estar mal redigida”. “Se algo estava mal corrigia-se na hora, em vez de usar faits divers para empurrar para a frente o problema”, refere, acrescentando que o que está em causa é um caso de saúde pública do Porto e da região Norte, “e não uma brincadeira”.
O porta-voz dos pais das crianças internadas no Hospital São João afirma ainda que o arquitecto responsável pelo novo projecto lhe garantiu que o mesmo não estará pronto antes de Abril, além de que “não difere assim tanto do anterior” da Associação Joãozinho, que se comprometeu a angariar 19 milhões de euros para o mesmo. “A obra está concursada à Lucuis/Somague, basta que a a administração do São João liberte o espaço para que a obra interrompida seja retomada”, propõe.
Questionado sobre as declarações de Marta Temido no Parlamento, nesta terça-feira, que disse “não dormirá tranquila enquanto o problema não estiver resolvido”, Rui Moreira afirma que o “sono da ministra” não o preocupa mas sim as “condições das crianças” hospitalizadas.
O presidente da Câmara do Porto confirmou ainda que a ministra ainda não respondeu às cinco questões enviadas pelo município há uma semana, entre as quais qual o calendário previsível para os procedimentos de construção da nova ala pediátrica, qual a viabilidade da transferência de serviços para o IPO, para outra unidade de saúde ou para o interior do próprio Hospital de São João até à conclusão da empreitada, ou a razão que levou o ministério a desperdiçar todo o trabalho já realizado e as verbas já despendidas na obra.