Promoção da StartUp Portugal com pitada política gera críticas
Mensagens que rejeitam extrema-direita e populismo foram criticadas, mas o líder da estratégia nacional para o empreendedorismo defende a campanha. E pede mais envolvimento.
As mensagens com toque político da StartUp Portugal não caíram bem em todos os estômagos. Houve quem não gostasse de algumas das frases da campanha promocional que foi lançada no dia 1 de Novembro e que foram usadas para promover o país durante a Web Summit.
Destinada a estrangeiros, a campanha aposta numa mão cheia de frases em inglês:
- Far right? Não! Far West
- Uniforms? Não! Unicorns
- Populism? Não! Popup Biz
- Xenophobia? Não! Startup Visa
É o próprio CEO da StartUp Portugal, Simon Schaefer, que reconhece que a campanha causou dissabores, revelando que estas mensagens foram objecto de alguma crítica. Porém, este alemão que foi escolhido para liderar a estratégia nacional de apoio ao empreendedorismo, defende esta aposta, afirmando estar "muito feliz por se ter convencido o Governo a aprovar" uma campanha deste teor.
"Este ano apostámos em mensagens mais fortes, porque quisemos mostrar que Portugal está numa trajectória muito boa e melhor do que muitos outros países", diz Simon Schaefer, que trabalha em regime "pro bono" nesta estratégia nacional lançada em 2016 com o objectivo de criar e dar apoio ao ecossistema das startups, acelerar a internacionalização e atrair investidores nacionais e estrangeiros.
"O problema que estamos a tentar resolver é ajudar a decidir para onde vai quem tem uma boa empresa. Para onde vai quem tem uma boa ideia? Digo sempre que a Alemanha está fechada porque é rica, os EUA têm um problema terrível com Donald Trump, o Reino Unido tem o "Brexit" e a Estónia está muito perto de Vladimir Putin. E é isto que a campanha está a dizer, penso que veicula muito bem a mensagem de que Portugal é a solução", explica Schaefer ao PÚBLICO.
As referidas mensagens foram divulgadas em diferentes canais: na Internet, mupis em Lisboa e também pelo próprio stand que a StartUp Portugal teve no pavilhão três da FIL, durante a Web Summit que hoje terminou.
Em fóruns populares na Internet como o Reddit, encontra-se exemplos de como este piscar de olho à política numa mensagem promocional do país irritou algumas pessoas. Schaefer compreende as críticas, mas minimiza-as. Até porque, defende, a mensagem está correcta, porque "Portugal é um país seguro e onde o populismo ainda não chegou" e também porque as startups e as empresas tecnológicas "devem envolver-se mais nestas questões".
"Eu criticaria o mundo das startups por não ser politicamente activo, acho que isso é mesmo um grande problema deste ecossistema. Creio que as diferenças de tratamento que algumas empresas tiveram de enfrentar, como por exemplo a Uber, acontecem porque essas empresas entendem que não se devem preocupar [com a política]. E é assim que se geram populismos, quando esse tipo de alheamento grassa e se generaliza a largas fatias da sociedade e da economia. Há demasiadas pessoas que não se importam e, por essa razão, penso que é bom para nós tomarmos uma posição firme" através desta campanha, argumenta Schaefer.
"Tivemos muitas críticas, sobretudo na Internet, mas isso é bom porque queremos provocar uma reacção já que temos a certeza de que estamos a promover algo em que acreditamos, um ambiente político positivo, um bom ambiente para a inovação, para a criatividade e para os negócios. É isso que Portugal representa nesta altura."
Schaefer diz que também há reacções positivas. "Há pessoas que estão agora a perceber que não há populismo a mandar em Lisboa, no Porto, em Braga ou em Faro. Estão a tentar perceber por que é que não há disso por cá e a questionar-se porque razão têm disso nos países deles."