Índice de bem-estar dos portugueses volta a subir em 2017

Segurança pessoal e participação cívica contribuem para a subida. Dados do Instituto Nacional de Estatística mostram uma melhoria, face a 2016, tanto na qualidade de vida como nas condições materiais de que os portugueses dispõem.

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Nuno Oliveira

Entre 2016 e 2017, o índice de bem-estar da população portuguesa cresceu 3,8%. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicados nesta quarta-feira mostram que são as melhorias registadas na segurança pessoal (avaliada através da taxa de criminalidade, grau de confiança na polícia e proporção de pessoas que se sentem seguras a passear sozinhas à noite, por exemplo) e na participação cívica (medida através da participação eleitoral e confiança nas instituições), que mais contribuem para o crescimento positivo do indicador.  

índice de bem-estar, calculado pelo INE, retrata a evolução do bem-estar da população recorrendo a dois índices sintéticos: as condições materiais de vida e a qualidade de vida. Por sua vez, estes dois são compostos por dez indicadores calculados através de dezenas de estatísticas relacionadas com emprego, mortalidade, abandono escolar, salários, entre muitos outros. Por enquanto, os dados disponibilizados são preliminares.

No ano passado, o índice de bem-estar da população portuguesa correspondia a 131,4% do valor de 2004 (ou seja, tinha melhorado 31,4 pontos percentuais face a 13 anos antes). Em 2016 era de 126,6%.

O INE explica que, entre 2004 e 2013, as condições materiais de vida e a qualidade de vida que compõem o índice de bem-estar evoluíram em sentidos opostos. Os indicadores que medem as condições materiais (por exemplo, rendimentos) pioraram. E os que medem a qualidade de vida (saúde, educação...) melhoraram. A partir de 2013, ambos "iniciaram uma evolução no mesmo sentido: o da melhoria do bem-estar em Portugal", destaca o INE.

É a qualidade de vida que mais contribui para a evolução positiva do índice de bem-estar. Só a participação cívica (que inclui variadíssimos indicadores, como o grau de satisfação demonstrado pelas pessoas com as instituições públicas ou a confiança no Governo e no Parlamento) registou um aumento de 12,6 pontos percentuais entre 2016 e 2017. O INE diz que tem vindo a crescer desde 2010. A segurança pessoal (que inclui por exemplo o grau de confiança na polícia) registou uma subida de 10,6 pontos percentuais no mesmo período. Foram estas as duas áreas que mais melhoraram. 

Independentemente das melhorias destes dois indicadores em relação a 2016, a educação "teve uma evolução muito positiva", nota o INE. "Os dados projectados para 2017 revelam a manutenção desta tendência, embora com evolução menos pronunciada, estimando-se um índice de 215,2." A redução da taxa de abandono escolar precoce é o factor que mais contribui para o desempenho positivo da educação.

Para Rui Brites, sociólogo que escreveu uma tese de doutoramento sobre os valores e felicidade dos portugueses no século XXI, os números reflectem as grandes "mudanças ocorridas no índice de bem-estar". E mostram que os portugueses estão mais satisfeitos com a vida do que no passado. Os dados do Inquérito Social Europeu, utilizados para construir alguns destes indicadores, como o grau de satsifação geral com a vida ou a confiança nos políticos, "são congruentes" com os números do INE, pelo que confirmam a tendência. 

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Aumentar

Por outro lado, o balanço vida-trabalho, que mede aspectos como a proporção da população empregada a trabalhar habitualmente 50 ou mais horas por semana ou o índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares, foi o único que teve uma evolução negativa entre 2016 e 2017. Outras estatísticas que compõem esta medida, como o índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares e o índice de realização de actividades de apoio familiar são as que têm evoluído de forma mais desfavorável nos últimos anos.

Menos pobres

Quanto às condições materiais, que ainda ficam abaixo do valor base de 2004, o trabalho e remuneração e a vulnerabilidade económica ainda são os que mostram uma evolução mais desfavorável. Mesmo assim, em relação 2016 registaram uma melhoria de 5,6 e 6,7 pontos percentuais, respectivamente.

O INE lembra, em relação à vulnerabilidade económica, que se registaram "evoluções positivas a partir de 2014, provocadas sobretudo pela redução da taxa de privação material e da taxa de risco de pobreza". Desde então, "todos os indicadores deste domínio apresentaram uma evolução favorável".

O trabalho e remuneração regista uma evolução "mais desfavorável" desde 2004. Muito por causa do aumento do desemprego. "A partir de 2013 verifica-se uma inversão desta tendência, tendo-se projectado para 2017
a continuação desta melhoria", lê-se ainda no documento publicado pelo INE.

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