Marcelo diz que está a ser criada "uma nebulosa" em torno de Tancos

Presidente da República repetiu no Funchal que nada sabia ou sabe sobre Tancos. Se soubesse, argumentou, não estava sempre a pedir esclarecimentos.

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Marcelo está de visita à Madeira LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
Presidente participou num debate com alunos
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Presidente participou num debate com alunos LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
Presidente comentou o caso Tancos
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Presidente comentou o caso Tancos LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
Marcelo de regresso à escola
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Marcelo de regresso à escola LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

O “mundo de pernas para o ar” e uma “nebulosa” com um único efeito prático: não apanhar o ou os responsáveis pelo furto de armas em Tancos. Marcelo Rebelo de Sousa reagiu assim à possibilidade avançada pela RTP de que a Casa Militar da Presidência da República tinha conhecimento do “encobrimento” no caso de Tancos.

“Se eu soubesse o que se tinha passado, não passava a vida a exigir o esclarecimento. Era muito simples. Se eu tivesse sabido desde o dia 2 de Julho e depois ao longo do processo que se tinha passado, para quê estar a insistir num esclarecimento, como insisto hoje?”, argumentou o Presidente da República aos jornalistas, garantindo que vai continuar a insistir, “contra tudo e contra todos”, para que a verdade seja apurada.

“O Presidente da República acha, do ponto de vista do sentido de Estado e da falta da noção das coisas, do outro mundo achar-se que quem efectivamente andou a insistir permanentemente em relação ao esclarecimento da verdade apareça agora como tendo sabido a verdade", acrescentou Marcelo, dizendo que, por este caminho, o de “disparar em várias direcções”, os responsáveis nunca serão encontrados. “É o mundo de pernas para o ar, e por aí nunca se apurará nada”, sublinhou no Funchal, à margem da visita ao Liceu Jaime Moniz.

A reportagem do programa Sexta às Nove, da RTP, adianta que o antigo director da Polícia Judiciária Militar "fez vários contactos com o ex-chefe da Casa Militar da Presidência antes e depois da recuperação das armas" e cita o próprio general João Cordeiro, que terá confirmado os contactos, negando "ter percebido qualquer encobrimento".

Não facilita investigação

Em reacção, Marcelo alerta para os riscos que a “nebulosa” que está a ser criada em torno deste caso acarreta para a sua resolução. “Até parece, de vez em quando, que é de propósito", disse, porque de cada vez que é preciso dar "espaço à instrução criminal para que ela aprofunde, surge uma nebulosa", o que "obviamente não facilita investigação", continuou, insistindo: “Não sei quem é que furtou. Não sei onde é que andaram as armas. E não sei concretamente o que se passou, com que envolvidos e de que maneira, na recuperação”.

O Presidente da República adianta que até poderia acontecer não poder falar do caso por ele ser matéria de segredo de justiça ou estar em instrução criminal. Mas, se fosse esse o caso, não estaria sempre a insistir e a exigir esclarecimentos.

“Se hoje soubesse quem furtou, não exigia um esclarecimento. Se hoje soubesse o destino das armas, não exigia um esclarecimento. Se hoje soubesse exactamente o que se passou, não exigia um esclarecimento. Se eu insisto, é porque não sei”, disse, rejeitando que a saída do general João Cordeiro da chefia da Casa Militar da Presidência da República estivesse relacionada com o caso. 

João Cordeiro "já desmentiu saber o que quer que fosse sobre memorando, reuniões, encobrimento. Supondo que houve encobrimento, uma vez que o o último testemunho é de que não teria havido encobrimento”, disse Marcelo. A saída de Belém esteve relacionada apenas com a passagem à reserva. “Estava previsto que se afastasse no fim do Verão de 2017, mas foi-lhe pedido para ficar para haver a transição”, justificou.

Perguntas ao Governo

Também nesta sexta-feira, o PSD decidiu envolver no caso outro ministro do Governo de António Costa. Depois de ter enviado um requerimento com perguntas sobre o "grau de conhecimento" que a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, tem do caso de Tancos, o PSD quer agora respostas sobre se o ministro da Administração Interna sabia do encobrimento.

Numa pergunta enviada àquele ministério, o líder da bancada "laranja", Fernando Negrão, e o vice-presidente do grupo parlamentar Carlos Peixoto querem saber se Eduardo Cabrita "teve, em algum momento, conhecimento dos contornos da operação que levaram ao encobrimento do desaparecimento das armas de Tancos".

O governante já respondeu através da agência Lusa. "O ministro da Administração Interna não teve conhecimento nem qualquer informação relativa à recuperação das armas" e recorda que "não exercia as funções de ministro da Administração Interna à data da recuperação do material furtado".

A recém-aprovada comissão de inquérito a Tancos vai ser discutida na conferência de líderes do dia 6 de Novembro de forma a poder iniciar os seus trabalhar ainda este mês. Segundo o regime jurídico das comissões de inquérito, citado pela Lusa, "compete ao presidente da Assembleia da República, ouvida a conferência dos representantes dos grupos parlamentares, fixar o número de membros da comissão", que podem ter, no máximo, 17 deputados.

A julgar pelas perguntas entregues no Parlamento e pelas declarações que os vários grupos parlamentares vêm prestando sobre o assunto, esta comissão de inquérito arrisca-se a ser uma das que mais membros do Governo em funções chamam à Assembleia da República, incluindo o primeiro-ministro, António Costa. 

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