Varandas avança já para a sua escolha e abdica de Peseiro, o treinador das emergências

Nove vitórias, um empate e quatro derrotas foi o que o técnico ribatejano conseguiu na sua segunda passagem pelo Sporting. Tiago Fernandes assume o cargo de forma interina até haver solução definitiva.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

José Peseiro nunca pareceu uma opção para o futuro a longo prazo do Sporting e o próprio até tinha consciência disso quando aceitou o convite de José Sousa Cintra para voltar aos “leões”, 13 anos depois de uma época e meia de quase sucesso em Alvalade. Não fazia sentido, dizia o treinador, assinar um contrato de longa duração numa altura em que o clube iria ter um novo presidente. Quatro meses e 14 jogos depois, Peseiro foi despedido por Frederico Varandas, poucas horas após a derrota em Alvalade frente ao Estoril-Praia para a Taça da Liga, naquela que é a primeira “chicotada psicológica” da temporada na I Liga.

Tiago Fernandes, filho de Manuel Fernandes e adjunto da “casa” na equipa técnica de Peseiro, será o interino até que se encontre uma solução definitiva, sendo seguro que o antigo treinador dos juniores do Sporting estará no banco no próximo domingo, nos Açores, frente ao Santa Clara, havendo também uma alta probabilidade de comandar a equipa na quinta-feira seguinte, em Londres, frente ao Arsenal.

A solução de futuro poderá passar por Paulo Sousa, Rui Faria (ambos livres) ou mesmo Jorge Jesus (no Al-Hilal, da Arábia Saudita), sendo que o cenário de um técnico estrangeiro também está em cima da mesa. Leonardo Jardim, treinador dos “leões” em 2013-14, estaria no topo das preferências de Varandas — Jardim chegou mesmo a convidar Varandas para assumir a chefia do departamento clínico do Mónaco em 2014 —, mas o ex-treinador dos monegascos já fez saber que não está disponível.

Peseiro sai quatro meses depois de ter sido apresentado e menos de dois meses depois de Frederico Varandas ter sido eleito, a 8 de Setembro, mas não irá abdicar da verba a que tinha direito até ao final do seu contrato — cerca de 1,5 milhões até ao final da presente época, com mais uma de opção. Terá sido essa, de resto, a questão que adiou a comunicação oficial do clube já depois de consumada a rescisão unilateral. Nos arranques de época dos últimos 20 anos, houve três treinadores despedidos com menos jogos disputados, sendo o próprio Peseiro um deles.

O italiano Giuseppe Materazzi fez apenas seis jogos em 1999-00, sendo depois substituído por Augusto Inácio, que viria a conquistar o título de campeão nessa época. Depois, Peseiro saiu após 11 jogos em 2005-06, ele que na época esteve à beira da glória, perdendo o título de campeão na recta final e, de seguida, a final da Taça UEFA disputada em Alvalade.

Mais recentemente, e depois de ter pegado na equipa a meio da época anterior, Ricardo Sá Pinto iniciou a temporada de 2012-13, mas saiu ao fim de nove jogos. Seria o primeiro de quatro treinadores, seguindo-se depois Oceano Cruz, Franky Vercauteren e Jesualdo Ferreira. A presente temporada já vai pelo mesmo caminho. O treinador que Varandas contratar será o quarto da época, depois de Sinisa Mihajlovic, o sérvio escolhido por Bruno de Carvalho e despedido por Sousa Cintra, Peseiro e Tiago Fernandes.

Resultados razoáveis

Varandas, o candidato, tinha dito durante a campanha que Peseiro era o seu treinador se fosse eleito (quase todos os candidatos disseram o mesmo, com a excepção de Madeira Rodrigues, que anunciara a intenção de contratar Claudio Ranieri). A época foi avançado e foi ficando claro que Peseiro só iria ter margem de manobra na mesma proporção dos resultados que conseguisse.

Os resultados não foram desastrosos (Lopetegui, por exemplo, só conseguiu seis vitórias em 14 jogos antes de ser despedido do Real Madrid), mas também não foram espectaculares. É verdade que os “leões” estão apenas a dois pontos da liderança da Liga portuguesa, continuam em prova na Taça de Portugal e têm francas probabilidades de se manterem na Liga Europa e na Taça da Liga, mas, em termos globais, ganharam nove jogos, empataram um (Benfica) e perderam quatro (Sp. Braga, Portimonense, Arsenal e Estoril), com muitas vezes a equipa a roçar o medíocre em termos exibicionais.

Este desfecho diz tanto sobre Frederico Varandas, como sobre José Peseiro. Por um lado, o presidente “leonino” e anterior director-clínico do clube quer, desde já, um treinador da sua própria escolha. Foi o que deixou subentendido numa entrevista no podcast de Daniel Oliveira divulgada após o jogo com o Estoril, mas realizada antes. “Peseiro sabe que pode não ser o treinador para a época”, disse Varandas.

Por outro lado, este foi mais um emprego de curta duração para o técnico ribatejano de 58 anos. No final da última temporada, esteve 10 jornadas no banco do Vitória de Guimarães (quatro vitórias, quatro derrotas e dois empates). Em 2016-17, iniciou a época no Sp. Braga, naquela que já era a sua terceira passagem pelo clube minhoto, mas sairia à 13.ª jornada. Em 2015-16, foi chamado por Pinto da Costa para substituir Julen Lopetegui, mas também não ficou no Dragão para a temporada seguinte.

Mesmo Sousa Cintra, que o apresentou declarando que era o homem certo para levar o Sporting ao título de campeão nacional, deu várias entrevistas recentes, após deixar de ser presidente da SAD, a dizer que Peseiro não tinha sido a primeira opção (Cintra queria Jesus) e que se tinha mostrado muito indeciso a escolher jogadores.

Até ao fim, Peseiro, o treinador para todas as emergências, foi mantendo o discurso de defesa da qualidade do seu próprio trabalho, como demonstra uma das frases após a derrota com o Estoril, uma equipa da II Liga: “Não jogámos mal. Fizemos uma exibição boa.”

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