Funcionários do Google protestam contra discriminação e assédio na empresa
Trabalhadores da empresa em vários países do mundo saíram à rua para protestar contra a forma como o Google tem gerido internamente casos de abuso sexual. E pediram ainda o fim da desigualdade salarial entre homens e mulheres.
Funcionários do Google em todo o mundo saíram à rua nesta quinta-feira para protestar contra a liderança da empresa, na sequência de notícias onde é denunciado o apoio das chefias a elementos acusados de assédio e abuso sexual.
O protesto teve início às 11h de cada fuso horário, abrangendo pelo menos 60% dos escritórios do Google em países como Singapura, Índia, Alemanha, Suíça, Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos, entre outros países.
Na semana passada, o jornal norte-americano New York Times revelou as verdadeiras razões que levaram à saída do Google, em 2014, de Andy Rubin, fundador e então director da Android Inc. (empresa criada em torno do sistema operativo móvel do mesmo nome que foi comprada pelo Google em 2005). O Google omitiu durante vários anos que Rubin tinha sido afastado na sequência de uma queixa de abuso sexual (terá forçado uma funcionária a fazer sexo oral, segundo concluiu uma investigação interna), pagando ainda ao acusado cerca de 90 milhões de dólares (79 milhões de euros) pela sua saída — Rubin nega a acusação.
Mas este caso não terá sido o único. No trabalho do New York Times foi também mencionado o nome de Richard DeVaul, outro executivo do Google acusado de assédio sexual e que, até à sua demissão na terça-feira, mantinha-se em funções na empresa.
Perante as acusações de conluio e silenciamento, a empresa revelou que despediu 48 funcionários (incluindo 13 quadros de topo) ao longo dos últimos dois anos devido a denúncias de abuso sexual, sem pagar qualquer indemnização aos acusados. “Queremos assegurar-vos que investigamos todas as denúncias de abuso sexual ou conduta imprópria e que agimos para as resolver”, declarou o CEO da empresa, Sundar Pichai.
"Não vamos continuar a tolerar isto", afirmam os trabalhadores
A declaração de Pichai não convenceu os funcionários do Google. “Por cada história como a do New York Times, há centenas de outras histórias, a todos os níveis da empresa”, denunciam em comunicado os organizadores do protesto desta quinta-feira, citados pelo Washington Post. “Não vamos continuar a tolerar isto”.
A organização do protesto exige que o Google ponha fim aos acordos secretos celebrados com suspeitos de abusos sexuais, que divulgue de forma transparente os dados relativos a queixas desse teor e que estabeleça um mecanismo "claro, uniforme e globalmente inclusivo" para denunciar este tipo de abusos.
É ainda pedido o fim da desigualdade de género no que diz respeito a salários e oportunidades no seio da empresa, e que seja divulgada publicamente a lista de vencimentos.
“Isto não está bem, Google”, lia-se num dos cartazes das manifestações ocorridas nesta quinta-feira. Sundar Pichai terá consciência disso, e esta quarta-feira voltou a pedir desculpa pelas “acções passadas da empresa” — porque, escreve o New York Times, o primeiro comunicado não foi suficiente.
O responsável afirmou que os funcionários que quisessem manifestar-se contariam com "todo o apoio da empresa" e elogiou as "ideias construtivas sobre como melhorar políticas e processos” apresentadas pelos trabalhadores, acrescentando que a administração está aberta a propostas para "poder colocar essas ideias em acção".