Google protegeu criador do Android acusado de abuso sexual
O caso remonta a 2014, quando Andy Rubin foi afastado da empresa com um acordo de 90 milhões de dólares. Agora, o New York Times revela quais os motivos do afastamento, que a Google tentou ocultar.
Há quatro anos, em Outubro de 2014, a Google despedia-se de Andy Rubin, fundador e director da Android Inc. (empresa criada em torno do sistema operativo móvel do mesmo nome que foi comprada pelo Google em 2005). O então director executivo da empresa norte-americana, Larry Page, desejou-lhe boa sorte para o futuro e elogiou o seu trabalho.
Esta quinta-feira, o New York Times revela as razões do afastamento de Andy Rubin da gigante tecnológica, que a Google tentou esconder durante quatro anos. Rubin foi afastado depois de a Google ter investigado uma denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária da empresa, e de ter concluído que as acusações eram credíveis. Em vez de ser despedido, Rubin saiu com uma compensação de 90 milhões de dólares. E não foi o único trabalhador protegido pela empresa em circunstâncias semelhantes.
A denúncia contra Rubin foi feita por uma funcionária da equipa Android com quem o egenheiro manteria uma relação extraconjugal, acusando-o de a ter forçado a fazer sexo oral num quarto de hotel em Março de 2013. Foi apresentada uma queixa às autoridades e ao departamento de recursos humanos da Google, que abriu uma investigação ao caso e concluiu que a acusação — que Rubin nega — teria fundamento.
Ainda assim, a empresa assinou um acordo de 90 milhões de dólares (79 milhões de euros), pagos em tranches mensais de dois milhões de euros. O último pagamento está agendado para o próximo mês.
O porta-voz de Rubin, Sam Singer, afirma que o criador do Android nunca foi informado de qualquer conduta inapropriada na empresa e que “qualquer relacionamento que Rubin teve na Google foi consensual”, garantindo ainda que o engenheiro abandonou a empresa por opção pessoal.
No seu artigo, o New York Times conta que teve acesso a documentos internos da empresa e que entrevistou mais de 30 funcionários da companhia (a maioria optou pelo anonimato devido a acordos de confidencialidade ou por receio de represálias). E cita pelo menos mais dois casos de dois executivos que terão sido protegidos pela empresa face a acusações semelhantes. Também em relação a estes, o motivo de saída foi escondido e os dois funcionários receberam grandes quantias de dinheiro.
Em resposta ao jornal, a vice-presidente de operações da Google, Eileen Naughton, afirmou que a empresa tem levado cada vez mais a sério as denúncias de assédio que são recebidas. "Investigamos e tomamos medidas, incluindo o despedimento", disse. "Nos últimos anos, adoptamos uma postura particularmente rígida quanto à conduta inadequada de pessoas em posições de autoridade. Estamos a trabalhar seriamente para continuar a melhorar a forma como lidamos com este tipo de comportamentos", acrescenta.
Google reage e diz ter despedido 48 pessoas
Já esta quinta-feira, após a publicação do artigo pelo jornal norte-americano, a gigante tecnológica enviou um comunicado a todos os funcionários da empresa, assinada pelo seu CEO, Sundar Pichai. No documento, o responsável diz que nos últimos dois anos foram despedidas 48 pessoas, incluindo 13 executivos de topo, devido a denúncias de abuso sexual na empresa.
O presidente executivo da Google diz que “foi difícil” ler a história do New York Times e garante que a Google está empenhada em garantir “um ambiente de trabalho seguro e inclusivo”.
“Queremos assegurar-vos que investigamos todas as denúncias de abuso sexual ou conduta imprópria e agimos para as resolver”, acrescentou o CEO, citado pela BBC, repetindo a garantia já dada pela vice-presidente de operações da Google ao jornal.
As acções da Alphabet, a empresa que detém a Google, caíram mais de 3% na bolsa de Nova Iorque depois de conhecida a notícia do New York Times.