Vêm para Portugal cerca de 5,2 milhões de euros de projectos europeus de inovação

O Conselho Europeu de Inovação atribuiu financiamento a quatro projectos europeus com participação de sete instituições científicas e empresas portuguesas.

Foto
O Conselho Europeu de Inovação premeia tecnologias emergentes e do futuro MICHAEL DALDER/REUTERS

Sete instituições científicas e empresas portuguesas fazem parte de quatro projectos europeus que ganharam financiamento do programa FET Open (que premeia tecnologias emergentes e do futuro), do Conselho Europeu de Inovação (EIC, na sigla em inglês). Esses quatro projectos – que envolvem entidades de diferentes países da Europa – recebem no total cerca de 14,6 milhões de euros. Desse financiamento, vêm para Portugal cerca de 5,2 milhões de euros.

A criação do Conselho Europeu de Inovação é uma das medidas do programa de financiamento da Comissão Europeia (CE) para o período entre 2021 e 2027, o Horizonte Europa, que foi apresentado em Junho. Contudo, foi lançada uma fase-piloto do EIC em que ainda se usará o orçamento do seu antecessor, o programa Horizonte 2020. Segundo um comunicado da CE, entre 2018 e 2020, a fase-piloto do EIC tem 2700 milhões de euros para inovações que criem novos mercados.

O FET Open (Future and Emerging Technologies) é uma das “partes centrais do EIC”, como frisa o comunicado: “Apoia cientistas de topo, investigadores, inovadores, empreendedores e pequenas empresas com ideias brilhantes.” Esta é a primeira ronda de financiamento do FET Open e houve 375 propostas. Foram seleccionados 38 projectos – que envolvem 236 beneficiários de 23 países europeus – no valor de 124 milhões de euros. Quatro desses projectos envolvem instituições científicas e empresas portuguesas.

Esta semana também foram revelados os vencedores das bolsas de “sinergia” do Conselho Europeu de Investigação (ERC). Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), faz parte de um consórcio europeu que terá dez milhões de euros. Para o IMM, virão cerca de 3,3 milhões. Já o cientista Ricardo Schiappa (do Instituto Superior Técnico de Lisboa) integra uma equipa de um projecto com investigadores da Dinamarca, Suíça e França para se construir uma (nova) teoria matemática da quantização. O financiamento que virá para o IST ainda é indefinido. Portanto, se juntarmos o valor da bolsa do ERC para o IMM e dos quatro projectos FET Open do EIC, virão para Portugal cerca de 8,5 milhões de euros. Vejamos quem são estes últimos vencedores.

Chips à velocidade da luz

O Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) é a entidade coordenadora do projecto ChipAI, que conta com a participação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, assim como de instituições científicas do Reino Unido, Holanda, Espanha e empresas do Reino Unido e da Suíça. Este projecto durará três anos e terá cerca de 3,9 milhões de euros. O INL terá cerca de 650 mil euros e a Faculdade de Ciência à volta de 290 mil. 

Foto
Bruno Romeira DR

“O ChipAI visa desenvolver os primeiros chips que vão permitir o processamento de informação à velocidade da luz e com os mesmos princípios de funcionamento dos neurónios e sinapses do nosso cérebro”, diz Bruno Romeira, coordenador do projecto e investigador do INL. “Através de métodos avançados de fabricação à escala nano (mil milhões de vezes mais pequeno que o metro), o ChipAI desenvolverá LED, lasers e fotodetectores de muito pequenas dimensões (100 vezes mais pequenos do que as tecnologias existentes) com elevada eficiência energética, de elevada largura de banda (gigahertz) e capazes de emular as mesmas funções dos neurónios e sinapses, isto é, com funcionalidades cognitivas únicas.”

Bruno Romeira frisa que estes chips permitirão validar a futura geração de tecnologias cognitivas de redes neuronais que usam a luz como veículo principal para transmitir informação, ao contrário das tecnologias actuais dos nossos computadores que utilizam microelectrónica. “Isto permitirá desenvolver tecnologias disruptivas criadoras de novos mercados na tão esperada revolução industrial 4.0, nomeadamente nas áreas da Internet das coisas, Big Data [grandes quantidades de dados] e inteligência artificial.”

O INL fará a concepção e fabrico da tecnologia de nano-LED, assim como usará novos métodos de fabrico para conexões sinápticas entre os chips, nomeadamente técnicas de impressão a três dimensões com resolução micrométrica. A Faculdade de Ciências irá desenhar, testar e simular os componentes desenvolvidos pelos parceiros.

Microambiente tridimensional da espinal medula

A Universidade de Aveiro coordena o projecto NeuroStimSpinal no valor de 3,5 milhões de euros. Também estão envolvidas duas instituições científicas de Espanha, uma da Grécia e outra da Holanda. As empresas portuguesas Graphenest e a Stemmatters também integram o consórcio.

O que se quer criar? “Este projecto tem por objectivo o desenvolvimento de um tecido tridimensional com uma nanoestrutura fibrosa e porosa próximas da morfologia da espinal medula usando técnicas de microfabricação”, responde Paula Marques, coordenadora do projecto e investigadora da Universidade de Aveiro. “Pretende-se recriar o microambiente tridimensional da espinal medula combinando características eléctricas, químicas, mecânicas e topográficas capazes de preservar a sobrevivência e melhorar a diferenciação de células progenitoras.”

Foto
Paula Marques DR

Para tal, usar-se-á uma combinação de uma matriz biopolimérica descelularizada (retirada da camada adiposa humana, rica em proteínas) com grafeno. “Uma vez implantados, os biomateriais terão associada uma interface eléctrica que permitirá a sua estimulação via wireless”, adianta a cientista, referindo que irão realizar-se testes com células neuronais progenitoras, bem como em ratos e coelhos. “Os resultados contribuirão para uma melhor compreensão dos principais factores que controlam a reparação dos tecidos danificados e, consequentemente, dar um passo em frente em novas abordagens terapêuticas para a recuperação da espinal medula.”

A Universidade de Aveiro terá cerca de 1,1 milhões de euros e produzirá os biomateriais e a interface eléctrica. A Graphenest e a Stemmatters receberão cerca de 209 mil e 403 mil euros, respectivamente.

Vírus que se alojam no sistema nervoso central

Já o Instituto de Medicina Molecular coordena um projecto (NOVIRUSES2BRAIN) financiado com cerca de 4,2 milhões de euros. Para o IMM vão 2,1 milhões e o responsável é o investigador Miguel Castanho. O projecto conta com uma universidade de Espanha, outra do Brasil e uma empresa da Alemanha. “O objectivo é desenvolver um medicamento inteligente capaz de inactivar simultaneamente vários tipos de vírus capazes de se alojarem no sistema nervoso central e provocar complicações neurológicas”, refere-se num comunicado do IMM. Esses vírus são o do sarampo, VIH-sida, dengue, Zika ou o chicungunha.

Foto
Miguel Castanho DR

“Um medicamento capaz de inactivar um espectro muito largo de espécies virais em simultâneo é urgentemente necessário. É da maior importância que esse medicamento consiga alcançar os vírus acumulados no cérebro”, lê-se no comunicado. Como tal, o projecto quer desenvolver e seleccionar fármacos eficazes e capazes de transpor as barreiras placentária e hematoencefálica (camada de células que cobre todos os vasos sanguíneos do cérebro e evita que muitas moléculas, células e organismos patogénicos saltem para o mundo dos neurónios), chegando assim ao cérebro dos infectados e aos fetos no caso das grávidas.  

Criar um micro-intestino

A empresa Biofabics participa no projecto Fish-AI, que é coordenado pela Universidade de Milão (Itália). Foram atribuídos cerca de três milhões de euros a este projecto e a Biofabics terá meio milhão de euros. Estão ainda envolvidas instituições científicas de Israel, Bélgica, Holanda e Noruega, assim como uma empresa norueguesa. “O projecto Fish AI consiste no desenvolvimento de um microdispositivo com tecnologia organ-on-a-chip [onde se põem células que se comportarão como se estivessem no corpo humano, mimetizando um órgão], que pretende criar algo semelhante a um micro-intestino”, refere Pedro Costa, fundador da Biofabics.

Foto
Pedro Costa DR

“Neste caso particular, será semelhante a um intestino de peixe, de modo a permitir mimetizar, estudar e melhorar a eficiência da sua nutrição, particularmente em aquacultura”, indica Pedro Costa. A Biofabics terá um papel central na criação do dispositivo, que será usado e testado por outros membros do consórcio.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários