Nos EUA prescrição de vitamina D cresceu 83 vezes em dez anos

Especialista em medicina baseada na evidência desmonta "mitos" da "epidemia" de défice de vitamina D.

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JOAO GUILHERME

A  “epidemia” de défice de vitamina D "varia de acordo com aquilo que consideramos os valores normais e aqui é que está o grande problema", explica João Júlio Cerqueira, responsável pelo Scimed, um blogue que visa promover a literacia em saúde da população fornecendo informação actual e baseada na evidência.

O que se passa é que vivemos hoje "numa histeria de testes e prescrição" desta vitamina, à semelhança do que sucedeu nos EUA desde o início do século, "onde a prescrição de vitamina D aumentou 83 vezes entre 2000 e 2010", recorda.

Por que é que isto aconteceu? "O mito das vantagens da suplementação com vitamina D foi criado quando saíram os primeiros estudos observacionais, com vários problemas metodológicos, que pareciam demonstrar uma diminuição do risco de uma série nas pessoas" que a tomavam. "Mas quando estudos de melhor qualidade saíram, os estudos experimentais, essas vantagens desapareceram", acrescenta. 

"A realidade é que nenhuma revisão de estudos experimentais demonstrou vantagens em rastrear ou suplementar adultos assintomáticos com vitamina D. Não diminui a mortalidade. Não diminui o risco de cancro. Não diminui o risco de doenças cardiovasculares. Não diminui os sintomas de depressão. Não parece ser útil em praticamente nenhuma circunstância", sintetiza.

Como é que se explica então esta espécie de fervor pela vitamina D? João Júlio Cerqueira lembra o que aconteceu: O valor de 20 ng/mL [nanogramas por mililitro) teve origem num relatório publicado pelo Institute of Medicine [norte-americano] em 2010. "No entanto, em 2016, os autores principais desse relatório publicaram um artigo no New England Journal of Medicine dizendo que o valor de 20 ng/mL não estava destinado a ser usado para estabelecer a existência de deficiência" do nutriente.  "Dizem mesmo que se criou esta 'epidemia' de défice de vitamina D desnecessariamente", nota.

Em suma e, tendo em conta que "neste momento não existem vantagens demonstradas com o rastreio ou suplementação de vitamina D", estes actos "deviam ser reservados apenas para pessoas de alto risco: doentes com osteoporose, doença renal ou hepática crónica, doenças com má absorção e indivíduos obesos".

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