Macron responde à impopularidade com um Governo renovado para o mesmo guião

Presidente francês promove dança de cadeiras e equilibra a balança ideológica e de género no executivo, sem alterar, no entanto, as suas linhas programáticas. Christophe Castaner será ministro do Interior.

Christophe Castaner (à esquerda) é o novo ministro do Interior
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Christophe Castaner (à esquerda) é o novo ministro do Interior EPA/JULIEN DE ROSA
Emmanuel Macron, Presidente francês
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Emmanuel Macron, Presidente francês EPA/PHILIPPE WOJAZER / POOL

Ao fim de quase duas semanas de negociações intensas entre o Presidente Emmanuel Macron e o primeiro-ministro Édouard Philippe, foi finalmente revelada a nova disposição do Governo francês. Em resposta à crescente quebra de popularidade do “macronismo”, acentuada com a demissão de ministros importantes nos últimos meses, a República em Marcha (LREM, na sigla original) promoveu esta terça-feira uma remodelação no seu executivo, com mudanças nos ministérios do Interior, da Cultura, da Agricultura e da Coesão Territorial. 

Mexidas importantes que não beliscam, porém, as principais linhas programáticas definidas pelo chefe de Estado para o seu mandato. Prova disso é a manutenção do núcleo duro de ministros-chave do executivo: Phillipe (primeiro-ministro), Bruno Le Maire (Finanças) e Jean-Yves Le Drian (Negócios Estrangeiros).

“O mandato político continua a ser o mesmo. [Os novos ministros e secretários de Estado] guiarão a sua acção pela continuidade com a política desenvolvida pelo Governo e pelo calendário de reformas dos próximos meses”, confirmaram à AFP fontes do Palácio do Eliseu.

Com quatro saídas e oito entradas, entre ministros e secretários de Estado, o novo Governo passa a ter 35 membros – mais três que a disposição anterior – e uma distribuição paritária: 17 mulheres e 17 homens (excluindo o primeiro-ministro). Já o número de representantes da sociedade civil fica-se pelos 15.

O principal destaque da dança de cadeiras é a nomeação do director executivo do LREM, ex-porta-voz de Macron durante a campanha presidencial de 2017 e homem próximo do Presidente, Christophe Castaner, para a espinhosa e importante pasta do Interior. O antigo dirigente socialista ocupará a vaga de Gérard Collomb, outro ex-membro do Partido Socialista francês, que apresentou a demissão do cargo no início do mês, empurrando com esse gesto o Presidente para a reorganização desta terça-feira.

Collomb foi o terceiro ministro a bater com a porta a Macron desde o final de Agosto e a quinta baixa no Governo no espaço de um ano, desiludido com o rumo seguido por Presidente e executivo. Antes dele, o popular Nicolas Hulot largara a pasta do Ambiente – em directo num programa de rádio –, cansado da falta de compromisso de Macron com as causas ambientais. Pouco depois de Hulot, a antiga campeã olímpica de esgrima e ministra do Desporto Laura Flessel também abandonou o barco, mas por motivos pessoais.

As duas primeiras demissões beliscaram a autoridade do chefe de Estado francês. Em queda nas sondagens praticamente desde que assumiu o cargo, em Maio de 2017, Macron está agastado internamente pelo ritmo frenético das suas reformas, pela estratégia pouco conseguida de descolar a sua imagem dos lobbies e grandes grupos económicos e até pela gestão desastrosa do escândalo que envolveu um ex-segurança seu, filmado a agredir manifestantes nos protestos de 1.º de Maio.

Esta remodelação apresenta-se, por isso, como uma oportunidade para relançar a sua presidência e apresentar aos franceses um Governo de cara lavada.

O plano de mudanças, descrito pelo Le Monde como “nada espectacular, apenas eficiente”, implica ainda um maior equilíbrio ideológico dentro do executivo que o LREM apresenta há muito como não sendo “nem de direita nem de esquerda”
Para além da promoção de Castaner para o Interior, o ex-republicano Franck Riester substitui Françoise Nyssen na Cultura; o antigo socialista Didier Guillaume assume a Agricultura, em detrimento de Stéphane Traver; e Jacqueline Gourault, do MoDem, deixa de ser adjunta do Interior para se tornar na nova ministra da Coesão Territorial, substituindo Jacques Mézard.

Ao MoDem, partido aliado do LREM no Governo, foi oferecido um papel de maior destaque, com a atribuição do cargo de secretário de Estado para as relações com a Assembleia Nacional – ocupado até agora por Castaner – a Marc Fesneau, líder da bancada parlamentar centrista.

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