Reacções: “Quem precisa de ser remodelado é o primeiro-ministro”

Além da líder do CDS, reagiram à remodelação o PCP, o BE, o PEV e o PAN.

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Assunção Cristas criticou a remodelação do Governo

Assunção Cristas defendeu que a remodelação no Governo feita por António Costa mostra não ter “rasgo” e reflecte um executivo “fragilizado”. “A remodelação não resolve nada. Quem precisa de ser remodelado é António Costa que já mostrou em vários momentos que não tem estatura para ser primeiro-ministro. E este é mais um episódio”, afirmou a líder do CDS-PP, no discurso de encerramento da Escola de Quadros, em Peniche.

Referindo que a remodelação aconteceu “por arrasto” da demissão do ministro da Defesa, Assunção Cristas considerou que esta mudança em três ministérios “não é nenhum reforço”, mas sim “a prova dos nove da extraordinária fragilidade do primeiro-ministro”, depois de ter vindo nos últimos dias a expressar a confiança em Azeredo Lopes.

Para a líder do CDS, a remodelação governamental foi feita com a “prata da casa de agora ou de alguém que esteve com José Sócrates”, numa referência ao novo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, que foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação entre 2005 e 2011.

No caso da Saúde, Cristas lembrou que o ministro Adalberto Campos Fernandes dizia que era “Centeno” e que a sua saída é um sinal de facilitismo: “Quando o ministro já não tem mais cara para falhar com necessidades de investimento então não há nada mais fácil do que trocar a cara.” 

BE: País apanhado desprevenido

Em declarações à agência Lusa e à RTP à margem da participação na Universidade de Outono do Podemos, em Madrid, Espanha, Catarina Martins foi questionada sobre a remodelação e respondeu: "As remodelações dos governos são normais, são naturais, fazem parte da vida. Não nos importa a nós discutir agora os nomes, o que importa são as decisões que vêm, o que vai acontecer", começou por responder.

Sobre o 'timing' desta remodelação, a coordenadora do BE admitiu que "apanha o país um bocadinho desprevenido, neste momento", sendo certo que "era esperada pelo menos a substituição do ministro da Defesa".

"Há duas preocupações que nós temos e que não posso esconder. Uma preocupação com a saúde e o caminho da Lei da Bases da Saúde. Veremos se a remodelação corresponde a um esforço de fazer avançar dossiês que são tão importantes como esse", disse.

A outra preocupação do partido, que apoia parlamentarmente o Governo minoritário do PS, "é a questão da energia".

"Pela primeira vez há alguma capacidade de fazer a EDP pagar pelos sobrecustos que tem tido. O BE tem-se empenhado muito nesse dossiê. Esperemos que esse trabalho seja para continuar e para aprofundar e que não haja nenhum retrocesso", avisou.

Sobre a eventualidade desta remodelação poder provocar instabilidade no processo orçamental, Catarina Martins disse apenas que "o Governo, como um todo, terá de responder por aquilo que foi negociado e por aquilo que está acordado".

"Há depois outras pastas, como por exemplo a cultura, que sendo um ministério nunca teve verdadeiramente o peso de um ministério", disse ainda.

Remetendo mais comentários para depois de uma análise com mais tempo desta remodelação, Catarina Martins quis registar que "há mais duas mulheres", o que considera ser "sempre um dado democrático bom porque a paridade também diz alguma coisa da sua qualidade de democracia".

PCP: O que importa é a política

O PCP defendeu que “o que é determinante é a política do Governo”, mais do que a “perspectiva pessoal de cada ministro”, em reacção à terceira e maior remodelação governamental anunciada.

“Para o PCP, para lá do papel que a partir da perspectiva pessoal de cada ministro e de como ela se traduz nas respectivas pastas ministeriais, o que é determinante é a política do Governo”, lê-se numa nota dos comunistas, na qual sublinham tratar-se de uma “estrita decisão do primeiro-ministro”.

“Com ou sem remodelação, o que verdadeiramente importa é que a política do Governo responda aos problemas que estão colocados ao país. Resposta que continua, por opção do Governo e dos seus compromissos com o grande capital, com as orientações da União Europeia e do euro, a ser adiada em áreas decisivas de que são exemplo os direitos dos trabalhadores e legislação laboral, a afirmação do desenvolvimento soberano e uma efectiva valorização os serviços públicos”, alerta o PCP.

PEV: Mau timing

O PEV lamentou que a remodelação governamental ocorra em “vésperas da entrega e discussão” do Orçamento do Estado para 2019 e pediu “mudanças de políticas”.

Em comunicado, o partido afirma: “As vésperas da entrega e discussão do OE não parece ser o momento mais adequado para remodelações governamentais, tendo em conta a necessidade que o Parlamento tem de esmiuçar as diferentes estratégias e rubricas e que o fará agora com ministros que não participaram na elaboração desse documento nas respectivas pastas que agora assumem.”

O comunicado prossegue considerando que “os Verdes têm verificado que a mudança de ministros não tem correspondido, ao longo dos anos e dos governos, a mudanças de políticas, e o que se torna mais importante, muito além de um pronunciamento sobre os nomes em concreto, é garantir um caminho de investimento e de relação da tutela com os seus destinatários que seja dignificante para o desenvolvimento do país.”

Sobre a passagem da secretaria de Estado da Energia para o Ministério do Ambiente, o PEV sublinha que “não é uma novidade em termos governativos, na medida em que essa solução já foi opção de anterior Governo”. E conclui: “O que é fundamental para o PEV, neste caso, não é a acumulação destas pastas, mas sim o que se faz com a sua tutela. Por exemplo, em relação à pesquisa de petróleo ao largo da nossa costa, julgamos que o agora ministro do Ambiente e da Transição Energética deveria posicionar-se pela salvaguarda dos valores ambientais, sociais e da economia tradicional, e não pelos interesses do consórcio ENI/Galp, e também pela descarbonização efectiva do país.”

PAN: Tempo oportuno

O deputado do PAN, André Silva, louvou o tempo oportuno da remodelação governamental levada a cabo pelo primeiro-ministro, António Costa, para não desviar a atenção do debate sobre o OE2019.

“Relativamente ao timing, o Governo escolheu a melhor altura porque consegue que remodelação não fique no centro da actualidade política. Estamos em pleno debate do OE2019. [O timing] parece que foi propositadamente escolhido, hoje, para que não ocupar o centro da actualidade”, diz André Siva à Lusa, acrescentando sobre a escolha de Siza Vieira: “O novo ministro da Economia terá como grande desafio o sector do turismo porque o país precisa de encontrar formas mais sustentáveis para esta actividade e de descentralizar as grandes massas dos centros urbanos. Espero que seja capaz de conseguir encontrar formas alternativas.”

Quanto à escolha de Gomes Cravinho para a Defesa, André Silva afirma tratar-se de “uma pessoa conhecida e reconhecida, com um currículo impressionante”, estimando que a opção foi por uma “figura consensual capaz de reabilitar a imagem das Forças Armadas, bastante manchada nos últimos tempos”.

Sobre Graça Fonseca, o deputado considera: “À nova ministra da Cultura não conhecemos as posições sobre as tradições mais anacrónicas no nosso país, nomeadamente a tauromaquia. Esperamos que traga uma nova perspectiva sobre a matéria, de acordo com os valores éticos mais progressistas do século XXI.”

Já sobre a mudança da Energia, o deputado do PAN defende que “faz todo o sentido que seja incluída no Ministério do Ambiente. É necessário pensar de que formas ambientalmente sustentáveis o país pode dispensar as fontes de energia baseadas em hidrocarbonetos, mas mais importante é fazer-se uma alteração de paradigma e de prioridades nas políticas ambientais, que têm privilegiado os agentes económicos em detrimento do bem comum”.