Dengue chega a Espanha, mas em Portugal não há ainda razões para alarme
Colónias do mosquito que transmite a infecção, e que até ao momento foram identificadas em território nacional, são "muito pequenas", diz a directora-geral da Saúde.
A notícia de que em Espanha foram detectados esta semana dois casos autóctones de dengue, dois familiares que não tinham saído do país e que ficaram infectados, não deixou as autoridades de saúde portuguesas à beira de um ataque de nervos. O mosquito Aedes albopictus, que transmite não só dengue mas também outros vírus, como o zika, já foi detectado em Portugal continental (no Norte e no Algarve) em 2017, mas apenas em pequeno número, e as autoridades nacionais asseguram que os nossos sistemas de vigilância estão a funcionar.
A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, e a coordenadora da Rede de Vigilância de Vectores do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, Maria João Alves, afirmam que não há, por enquanto, razões para alarme nem sinais de risco acrescido para a saúde da população em Portugal, onde a situação tem estado sempre a ser monitorizada. Mas sublinham que estão atentas.
A imprensa espanhola anunciou esta quarta-feira que “o dengue chegou a Espanha”, dando conta de que a doença originária de zonas tropicais provocou os primeiros casos autóctones no país – dois familiares que contraíram a patologia depois de passarem férias em municípios de Múrcia e Cádis. Ambos tiveram já alta e há ainda um terceiro caso suspeito que aguarda os resultados das análises.
A infecção transmite-se através da picada destes mosquitos infectados com o vírus, não havendo transmissão pessoa a pessoa - o mosquito pica uma pessoa portadora do vírus e transmite-o a outra quando a pica.
“Não há razões para alarme, mas há razões para estarmos atentos e melhorarmos a vigilância”, assume a directora-geral da saúde, que garante que, por enquanto, o risco “é muito pouco significativo em Portugal”, uma vez que as colónias deste tipo de mosquito de origem asiática até ao momento identificadas em território nacional (em Penafiel e no Algarve, em 2017) são "muito pequenas". Já Espanha tem maiores colónias de mosquitos em determinadas regiões do país, uma vez que tem condições atmosféricas que propiciam a sua multiplicação, explica.
Ainda no final de Setembro passado, depois de o Aedes albopictus ter sido detectado em dois municípios da Extremadura espanhola, região que faz fronteira com o Alentejo e a Beira Baixa, a directora-geral já tinha destacado que a vigilância da situação está assegurada em Portugal.
Esta espécie do mosquito (Aedes albopictus), que é de origem asiática, tem sido detectada em vários locais na Europa ao longo dos últimos anos, e o facto de se ter encontrado não significa, por enquanto, que haja invasão, sublinha. “Há 30 anos que anda a aproximar-se da Europa, a conquistar terreno”, diz Graça Freitas.
“Têm sido notificados na Europa casos autóctones (de pessoas que não viajaram para fora do país) mas esporádicos. Houve dois casos em França em 2010” e no ano seguinte também foram detectados “alguns casos na Croácia”, recorda também Maria João Alves. Aliás, a rede que coordena, a Revive, tem procurado esta espécie de mosquito desde 2008, afirma a especialista, frisando que a estratégia passa por estar vigilante para detectar e reagir atempadamente, de maneira a evitar que os mosquitos se tornem abundantes.
Maria João Alves lembra também que na região da Madeira, onde outra espécie deste género de mosquito (Aedes aegypti) existe desde 2005, ocorreu um primeiro surto de dengue em 2012, com mais de 1300 casos clinicamente analisados. São, assim, precisos alguns anos desde a introdução dos mosquitos para que haja transmissão no próprio território, acentua.
Apesar de ser esperada pelos especialistas, que dizem que "era apenas uma questão de tempo”, a confirmação dos primeiros casos autóctones em Espanha foi considerada “muito relevante”, do ponto de vista epidemiológico, por José Manuel Cisneros, presidente da Sociedade Espanhola de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, em declarações ao El País. “Temos uma nova doença infecciosa para enfrentar, apesar de contarmos com um sistema sanitário preparado, muito mais do que o da maioria dos países em que o dengue tem tido um grande impacto na saúde pública", afirmou José Manuel Cisneros.
A dengue manifesta-se, habitualmente, por febre, dores de cabeça, dores nos músculos e nas articulações, vómitos e manchas vermelhas na pele e, mais raramente, por um quadro hemorrágico.
A principal medida de prevenção é a protecção contra a picada do mosquito, dado que não existe vacina para a doença.