“Não perca tempo com Teodorin Obiang”

Sobre um irmão sabemos muito. Sobre o outro não sabemos quase nada. É sobre os dois que se discute a sucessão do ditador da Guiné Equatorial

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Corre o rumor de que Teodoro Obiang Mbasogo, Presidente da Guiné Equatorial há 40 anos, vai anunciar o seu sucessor nos próximos dias. A especulação repete-se quando há cerimónias solenes — e para a semana o país celebra 50 anos de independência.

Há uma pergunta que vem sempre agarrada ao rumor: o escolhido vai ser Teodorin Nguema Obiang Mangue, mais velho e filho da primeira-dama, ou Gabriel Obiang Lima, filho da segunda-dama?

O exercício evidencia o contraste entre os dois meios-irmãos — o doido condenado e o discreto impoluto — e por isso é atraente. Mas reduz a escolha à reputação e a uma guerra de mães — a mãe nacional (Constancia Obiang) e a mãe estrangeira (Celestina Lima é de São Tomé e Príncipe) — e nada é assim tão simples.

Nos mil e um contactos sobre a Guiné Equatorial que fiz nas últimas semanas, um equato-guineense disse-me às tantas, impaciente com as perguntas sobre o primogénito: “Não perca tempo com Teodorin.” O pai promoveu-o a primeiro vice-Presidente em 2016 e é considerado o favorito do ditador. Mas já sabemos tanto sobre ele que basta ler as notícias. “Não há muito por descobrir. Todo o mundo sabe tudo sobre Teodorin.”

E por isso, com agradecimentos a várias polícias, justiças e jornais, aqui vai uma resenha rápida do muito que já sabemos sobre o possível futuro Presidente do nosso novo “país-irmão” da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa.

O filho mais velho do ditador da Guiné Equatorial teve ou tem processos na justiça em pelo menos cinco países: EUA, França, Suíça, Brasil e África do Sul. Num caso houve um acordo judicial, noutro uma condenação a três anos de prisão com pena suspensa, noutros o litígio continua aberto. Os processos deixaram um rasto de branqueamento, desvio de fundos públicos, abuso de confiança e corrupção. Um dia vai ser feito um filme.

Uma das primeiras acusações, a da Califórnia, em 2011, marcou o tom. Se Obiang Jr. ganhava 6.799 dólares por mês como ministro das Florestas, como é que podia ter a vida que tinha? No caso: um jet privado de 30 milhões, uma casa em Malibu de 38,5 milhões, outra em Bel Air de 6,5 milhões. Para não falar da paixão por Michael Jackson: pagou 275 mil dólares por uma das suas luvas brancas com cristais; 80 mil por um par de meias (e outras coisas num total de 3,2 milhões). Pagou também 245 mil dólares por uma bola de basquete autografada por Michael Jordan, num só mês comprou 80 mil dólares em roupa na Gucci e 50 mil na Dolce & Gabbana. Nessa altura, Teodorin Obiang já tinha um Maserati de dois milhões de dólares, dois Bugatti Veyrons, oito Ferraris, sete Rolls Royces, cinco Bentleys, quatro Mercedes, dois Lamborghinis e um Aston Martin. A lista da acusação americana era longa. Estes são só exemplos. No meio da investigação, o então jovem ministro levou a sua colecção de carros para Paris. Foi aí que 11 carros foram arrestados e ele acabou por ser condenado. O pano de fundo era o mesmo: branquear e roubar os cofres públicos da Guiné Equatorial para uso privado. Mas já em 2006, os jornais escreviam sobre a batalha legal de Teodorin Obiang contra a justiça da África do Sul que o acusou de, para além de já ter casas em Los Angeles, Buenos Aires e Paris, mal chegou a Cape Town, num só fim-de-semana, ter comprado dois Bentleys, um Lamborghini e duas casas. Agora, em Setembro, aterrou num avião privado no aeroporto de Viracopos, perto de São Paulo. A polícia quis ver as malas: tinha 1,3 milhões de dólares em cash e 15 milhões de dólares em relógios.

Têm alguma razão os que dizem que não vale a pena perder muito tempo a estudar o filho primogénito do ditador Obiang. Até porque a família é grande, os filhos são dezenas e não sabemos quase nada sobre nenhum deles. 

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