Tancos: Ministro da Defesa reconhece "embaraço" pelo envolvimento de militares

O governante considerou ainda que o pedido de demissão do CDS "não faz sentido nenhum" e é "uma espécie de bullying político".

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Azeredo Lopes, esta semana, na tomada de posse do novo director da Polícia Judiciária Militar, Paulo Isabel ANTÓNIO COTRIM/LUSA

O ministro da Defesa reconheceu nesta quinta-feira que preferiria "mil vezes" que se pudesse olhar para Tancos como "uma questão bem resolvida", e assumiu o embaraço causado pelo envolvimento de militares numa investigação criminal.

"Se me pergunta se é agradável todo o conjunto de situações que tem vindo a lume, não, não é. Estaria a mentir. Preferia mil vezes que tudo isto não tivesse ocorrido, preferia mil vezes que a investigação já pudesse estar concluída, preferia mil vezes que pudéssemos olhar para Tancos como uma questão bem resolvida", declarou aos jornalistas em Bruxelas.

Todavia, Azeredo Lopes defendeu que, numa perspectiva mais optimista, prefere que, após a descoberta do material militar furtado dos paióis de Tancos, se esteja mais perto da solução.

Questionado sobre se a detenção do major Vasco Brazão, que estava na República Centro-Africana em serviço com o contingente português da força das Nações Unidas, foi motivo de embaraço durante o encontro dos ministros da Defesa da NATO, o governante argumentou que esta causou apenas "o embaraço e o lado desagradável de qualquer militar que esteja envolvido numa investigação criminal".

"É o único embaraço que essa situação causa. Agora, repito, respeito muito duas coisas: primeiro, aquilo que está sob segredo de Justiça, segundo a presunção de inocência. O aspecto que é menos bom é qualquer militar ver-se envolvido em qualquer investigação criminal", completou.

O ministro da Defesa considerou ainda que o pedido de demissão do CDS "não faz sentido nenhum", e constituiu "uma espécie de bullying político", mas disse encarar "com normalidade" a constituição de uma comissão de inquérito sobre Tancos.

"Neste caso, já tenho um bocadinho a pele dura, porque o CDS pede a minha demissão desde 3 de Julho de 2017. Ao fim de um ano, três meses e dois dias, já criei alguma resistência. Sem querer fazer ironia, acho que não faz sentido nenhum. Se tivesse sentido, obviamente já teria apresentado a minha demissão, não tenho apego a cargos que não me leve a ter a lucidez de analisar o que faço", sustentou.

Na segunda-feira chegou a Portugal e foi detido o major Vasco Brazão, que também foi porta-voz da Polícia Judiciária Militar. Segundo o Ministério Público, em causa estão "factos susceptíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, receptação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".

A Polícia Judiciária deteve, em 25 de Setembro, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, o director e outros três responsáveis da Polícia Judiciária Militar, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.

Na sexta-feira, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decretou prisão preventiva para o director da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, e para o civil.

O furto de material militar dos paióis de Tancos (instalação entretanto desactivada) foi revelado no final de Junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.