Nuno Cardoso é o próximo director do Teatro Nacional São João
O responsável da companhia Ao Cabo Teatro e ex-director do Teatro Carlos Alberto sucede a Nuno Carinhas, cuja encenação de Otelo, de Shakespeare, está actualmente em cena no palco do São João.
O encenador e actor Nuno Cardoso vai ser o próximo director artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ), substituindo Nuno Carinhas, que actualmente tem em cena a sua encenação de Otelo, de Shakespeare, estreada na passada sexta-feira, e que em Dezembro dirigirá também Uma Noite no Futuro, um espectáculo concebido a partir de textos de Gil Vicente e de Samuel Beckett.
A substituição de Carinhas por Nuno Cardoso foi confirmada esta terça-feira por um comunicado do Ministério da Cultura (MC), que anuncia a entrada em funções do novo director artístico a 1 de Janeiro de 2019. E o MC agradece a Carinhas “a forma exemplar como desempenhou as suas funções, o seu enorme sentido de missão, dedicação e empenho ao longo de quase dez anos na direcção artística do TNSJ”.
À frente do teatro nacional portuense desde Março de 2009, “Nuno Carinhas distinguiu-se pela divulgação dos grandes repertórios dramáticos, nomeadamente, da dramaturgia em língua portuguesa, pautando-se sempre por critérios de excelência técnica e artística”, acrescenta a nota do ministério, que enfatiza também a atenção que o actual director artístico sempre prestou “ao tecido teatral da cidade do Porto e do país, através do desenvolvimento de uma política de co-produção com outras estruturas e companhias”.
Também o presidente da administração do TNSJ, Pedro Sobrado, não apenas sublinha o "papel capital" que o encenador "teve nestes dez anos", como prevê: "Vamos precisar de algum tempo até sermos capazes de medir o alcance do trabalho do Nuno Carinhas à frente do São João". E acrescenta: "o Nuno é tão discreto no seu discurso programático como o é no seu discurso cénico, mas – sem espavento, sem bravatas e soundbytes – foi capaz de desenvolver um trabalho marcante a vários níveis: com orçamentos reduzidíssimos, criou espectáculos que perfazem hoje a personalidade artística deste teatro, ao mesmo tempo que investiu na sobrevivência de um tecido teatral severamente castigado".
Sobrado lembra ainda ao PÚBLICO que Carinhas "ampliou a programação do TNSJ para lá da esfera estrita das artes cénicas, dedicou especial atenção às edições, envolveu-se na abertura ao público do Centro de Documentação, e convocou as equipas para o seu próprio crescimento". E conclui: "A minha actual condição no TNSJ não é sequer alheia ao trabalho do Nuno Carinhas, que me 'inventou' como dramaturgista".
Já Nuno Cardoso, diz Pedro Sobrado, é, como ele próprio, "um dos elementos da prole gerada por este Teatro Nacional nos últimos 20 anos", e que agora "regressa à casa que é a sua, a casa a que pertence". Reconhecendo que a sua nomeação "tem o impacto de uma novidade imensa numa estrutura que se distingue por uma estabilidade muito rara", o administrador observa que se trata, na verdade, de "uma escolha que respeita e visa essa mesma estabilidade, não só porque o percurso do Nuno Cardoso enquanto encenador de repertório se adequa ao que a lei orgânica do São João exige, mas também porque ele conhece bem esta casa: trabalhou aqui, nos anos de Ricardo Pais, como coordenador de programação do TeCA; encenou várias produções próprias entre 2003 e 2007; e o seu trabalho como encenador tem sido recorrentemente programado pelo Nuno Carinhas".
De Coimbra ao Porto
Director artístico da companhia Ao Cabo Teatro, Nuno Cardoso vai assim regressar ao TNSJ, onde encenou, durante a direcção de Ricardo Pais, espectáculos como O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind (2004) ou Woyzeck, de Georg Büchner (2005).
Cardoso dirigiu também o Auditório Nacional Carlos Alberto de 1998 a 2003, e tornou-se coordenador de programação desta sala quando da sua integração, nesse ano, na estrutura do teatro nacional portuense. Permanecerá no cargo até 2007, quando abandona a equipa do TNSJ.
Nascido em 1970 em Canas de Senhorim, Nuno Cardoso iniciou o seu percurso no Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) e foi um dos fundadores, em 1994, no Porto, da companhia Visões Úteis, onde encenou As Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira, Casa de Mulheres, de Dacia Mariani, ou Porto Monocromático, uma co-produção com o TNSJ que marca, em 1997, o início de uma longa colaboração com o teatro que agora vai dirigir.
Sexto Sentido (1999), de Regina Guimarães, Abel Neves, António Cabrita e Francisco Mangas, Antes dos Lagartos (2001), de Pedro Eiras, Pas-de-Cinq+1 (1999), de Mauricio Kagel, Paysage Choisi (1999), a partir de textos de Federico García Lorca, De Miragem em Miragem Se Fez a Viagem (2000), de Carlos J. Pessoa, Antígona (2001), de Sófocles, Plasticina (2006), de Vassili Sigarev, Ricardo II (2007), de Shakespeare, Platónov (2008), A Gaivota (2010) e As Três Irmãs (2011), de Tchékhov, Medida por Medida (2012), de Shakespeare, A Visita da Velha Senhora (2013), de Friedrich Dürrenmatt, Coriolano (2014), de Shakespeare, Britânico (2015), de Jean Racine, O Misantropo (2016), de Moliére, ou Timão de Atenas, de Shakespeare, apresentado já este ano no Teatro Rivoli, são, além dos já referidos, alguns dos muitos espectáculos que encenou, ao mesmo tempo que foi subindo regularmente aos palcos enquanto actor.
Paralelamente desenvolve projectos teatrais de cariz comunitário ou envolvendo actores não profissionais, como com PRJ. X. Oresteia, realizado no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira (2001), R2 (a partir de Ricardo II), com jovens do Bairro da Cova da Moura (2007) ou Porto S. Bento, com moradores do Centro Histórico do Porto (2012).
Em 2016, Cardoso recebeu o Prémio Autores, da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), pela encenação de Demónios, de Lars Norén, numa co-produção da Ao Cabo Teatro com O Cão Danado e o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.
Notícia corrigida para precisar que Nuno Carinhas só se despedirá do TNSJ em Dezembro com a produção Uma Noite no Futuro.