Bolsonaro, o jagunço à porta do Planalto
Bolsonaro está para o Brasil como Duterte está para as Filipinas. O perigo da chegada do jagunço-salvador-da-pátria à Presidência da República do Brasil é real.
Jair Bolsonaro não precisa de sair da cama do hospital — onde continua internado depois de ter sido vítima de uma facada no princípio do mês — para continuar a liderar as sondagens às eleições para à presidência do Brasil. E isso, como escrevia o Economist na sua última edição, é de facto “um perigo para a América Latina”. Bolsonaro representa o pior do Brasil dos coronéis e da ditadura militar cujos métodos fascistas continua a defender abertamente.
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”, afirmou Bolsonaro em 2016, altura em que, durante o impeachment de Dilma, dedicou o seu voto ao coronel Ustra, o chefe da PIDE lá do sítio e “terror de Dilma Rousseff”. Anos antes tinha dito: “No período da ditadura deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo Presidente Fernando Henrique, o que seria um grande ganho para a nação.”
Bolsonaro está para o Brasil como Duterte está para as Filipinas: já disse de uma mulher “que não merecia ser violada por ser muito feia” e afirmou-se incapaz de amar um filho homossexual — que preferia ver morrer de acidente a aparecer com “um bigodudo”.
O Brasil de Bolsonaro sempre existiu. Infelizmente, a decadência de um PT minado pela corrupção deu-lhe a força que até aqui não tinha conseguido. Como escreve a nossa enviada especial Clara Barata nesta edição, “quando faz campanha, Preto Zezé diz contactar com muitos eleitores que vão votar em Bolsonaro. ‘É um sentimento das pessoas, digamos, não tanto ideológico. Acham que vai ser um salvador da pátria e resolver os problemas da violência. Apesar de estar na política há 27 anos, as pessoas acham que ele nunca foi da política’, diz este candidato”.
O perigo da chegada do jagunço-salvador-da-pátria à Presidência da República do Brasil é real. Quando os democratas falham, não perdem só eleições — abrem comportas de represas muito difíceis de estancar.
P.S. Segue-se um direito de resposta de Pedro Santana Lopes: “Senhor director caro Manuel Carvalho. A Ana Sá Lopes escreveu um editorial que, em parte, assenta num erro. Ou seja, o pressuposto de parte do texto é falso. Eu nunca na minha vida disse, ou diria, que o PR pode fazer reformas. O que tenho dito, sempre, é que os PR as podem, e devem, promover. Solicito a devida correcção, com o mesmo destaque, ao abrigo da lei. Melhores cumprimentos. Pedro Santana Lopes”