Há uma luz que fica da luminosidade de Helena Almeida e não faz mal se faz chorar
Morreu Helena Almeida. Como é que pode ser? Vi-a na segunda-feira, cheia de luz, como sempre está.
Morreu Helena Almeida. Como é que pode ser? Vi-a na segunda-feira, cheia de luz, como sempre está. Ela e o Artur tinham chegado do Algarve e estavam ainda mais bonitos do que no princípio do Verão.
A Maria João perguntou-lhe se já tinham descansado das férias. A Helena riu-se e respondeu que ainda não.
Ela e o Artur faziam o casal mais encantador que já conheci. Eram um casal como nenhum outro, melhor. Não eram uma artista e um arquitecto.
Eram a Helena e o Artur. A Helena não trazia o Artur para as fotografias dela. Ele já lá estava na imaginação dela.
A Helena e o Artur eram indissociáveis mas eram inteiramente a Helena e o Artur. O que tinham em comum era um amor e uma amizade muito grandes. Inventaram uma maneira de viver em que ambos eram essenciais um ao outro mas sem nunca terem de adaptar as almas individuais de cada um.
Dir-se-ia impossível mas eles conseguiram. E aproveitaram essa obra viva para viver.
Para as pessoas de fora, companheiras de esplanada como a Maria João e eu, faziam uma comédia de casal, um fingimento de conflito para não desanimar os outros casais ainda em construção.
A Helena era uma grande artista em cada coisa da vida dela. Todos os grandes artistas são assim. Por isso é que são tão raros. Era luminosa na maneira como se vestia, cada peça era bonita mas era o conjunto – os sapatos, as meias, o casaco – que deslumbrava.
Apetecia-nos sempre falar mais com ela e com o Artur mas eles precisavam de estar um com o outro, a falar e rir das coisas deles, a brilhar de cumplicidade e de gosto pela vida.
Adeus, Helena querida. Não acredito que nunca mais a vou ver. Um abraço, querido Artur. Teve muita sorte. A Helena também. E nós também.
Não imagino a quantidade de pessoas a dizer o mesmo nesta hora tão triste. Tivemos muita sorte.