Renato, o bávaro, foi a surpresa que Vitória não previu
Regresso do filho pródigo traiu estratégia do Benfica, que entrou na Liga dos Campeões com uma derrota, sem o golo 100 e impotente perante um Bayern implacável.
À procura da primeira vitória sobre o Bayern Munique, o Benfica não teve argumentos para contrariar os bávaros e a surpresa Renato Sanches, que saiu do Estádio da Luz, após a 1.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões (0-2), com a confiança renovada, fruto da exibição crescente e do golo em que rompeu linhas ao seu melhor estilo para ainda finalizar a passe de James Rodríguez.
Desafiado pela “arrogância” de Rui Vitória, para quem o Bayern não tinha segredos, Niko Kovac decidiu surpreender. Ao contrário do treinador do Benfica, que não apresentou alterações em relação ao “onze” habitual, o técnico croata apostou em Renato Sanches (para suprir a ausência do lesionado Thiago Alcântara) e no colombiano James Rodríguez, uma dupla com estreia a titular.
Os alemães deixavam Müller no banco, mas não prescindiam de uma dinâmica que colocou problemas ao vice-campeão português, normalmente pela profundidade dada por Robben e Ribéry. O ascendente do campeão germânico acabaria por se traduzir num golo de Lewandowski aos 10’, com a categoria do avançado polaco a ser determinante para definir um dos inúmeros lances de perigo na área de Vlachodimos.
O guarda-redes do Benfica ainda evitou o segundo, numa iniciativa de Robben, ganhando tempo para Rui Vitória esboçar uma resposta capaz de abalar a confiança e robustez germânica. O lance que animou as “águias” surgiu em cima da primeira meia hora de jogo, com Salvio a obrigar Neuer a puxar dos galões para evitar o empate. O Benfica capitalizou este momento e saiu momentaneamente da sombra do Bayern, ainda que sem conseguir importunar um adversário demasiado coeso, que por instantes mostrou também capacidade para conter o ímpeto enquanto se reorganizava para um final de primeira parte em que mostrou o que se seguiria, mais uma vez com Robben perto do golo.
Com Renato Sanches a ganhar confiança, o Bayern Munique voltava a pegar no jogo no início da segunda parte. E os primeiros minutos seriam mais uma vez determinantes, com o internacional português a emergir no lance explosivo que anulou qualquer tipo de reacção dos “encarnados”. A jogada de costa a costa, com um toque de classe de Robben a patrocinar a arrancada de Renato, levava o Benfica ao tapete. Sanches acelerou, rompeu linhas e libertou a bola no momento certo, na direita, acompanhando a variação do centro de jogo para a esquerda, onde Ribéry esperou por James Rodríguez. O colombiano cruzou junto à linha de fundo e Renato antecipou-se a Ribéry, assinando o golo que deixou as bancadas divididas entre uma reacção de desalento e o tributo ao jovem projectado no clube da Luz.
A verdade é que o Benfica não capitulou e até foi à procura de algo que pudesse ajudar a inverter o rumo deste jogo de estreia no Grupo E na Champions, onde era importante afastar a imagem pálida deixada na última edição. Quanto mais não fosse pelo 100.º golo do Benfica na Liga dos Campeões dos moldes actuais. Um golo que Rúben Dias esteve perto de assinar — intenção negada por Neuer, implacável neste capítulo, até porque também ele tinha a necessidade de regressar sem mácula à competição em que na época passada só teve uma aparição antes de se lesionar e falhar toda a campanha. Nesta corrida paralela, já depois de Rui Vitória e Niko Kovac terem ajustado as equipas com as primeiras substituições, acabaria por entrar Müller (88’), que só precisava de pisar o relvado para atingir o 100.º jogo na Liga dos Campeões.
Os “encarnados” sacrificaram Salvio e Pizzi na esperança de poderem tirar um coelho da cartola de Gabriel (em estreia na prova). E o brasileiro não esteve muito longe de marcar a um Bayern Munique que até tem concedido golos nas mais recentes deslocações. Nessa perspectiva, Rui Vitória manteve o suíço Seferovic até ao fim, apesar de o antigo avançado de Niko Kovac ter estado distante da baliza de Neuer, que só por uma vez visou com algum perigo.
O Benfica acabaria por não resistir à maior capacidade e qualidade do futebol dos pentacampeões europeus, não perdendo, apesar de tudo, a auto-estima que acumulara em 11 encontros sem derrotas.