Os professores que se amanhem sozinhos
Em quem votarão os professores nas próximas eleições? Neste momento, já não é só o PS em risco de perder esse grande eleitorado.
O Bloco de Esquerda e o PCP deixaram cair a reivindicação da contagem do tempo de serviço dos professores para o próximo Orçamento do Estado. Depois de meses de expectativa, onde pelo menos o Bloco chegou a condicionar a aprovação do OE2019 à resolução do problema dos professores, a um mês da apresentação do documento, tanto comunistas como bloquistas deixaram os docentes a falar sozinhos. Jerónimo, em entrevista à RTP, fez questão de sinalizar que não é sindicalista (um distanciamento curioso vindo de um secretário-geral do Partido Comunista, o partido dos trabalhadores). Catarina Martins, que tinha admitido que a questão seria inegociável, também veio recuar – também para o Bloco o tempo de serviço dos professores não é prioridade do Orçamento.
Por estes dias, os sindicatos de professores pedem à esquerda que não aprove o Orçamento sem um acordo no tempo de serviço, mas a esquerda manda-os amanharem-se sozinhos. O principal trunfo dos sindicatos desapareceu de cena e isso prova a enorme fragilidade com que Bloco de Esquerda e PCP partem para estas negociações do OE, o que tem sido particularmente visível na arrogância que o PS e o Governo dedicaram particularmente ao Bloco na semana passada – o que, de resto, não é inédito, e tem crescido à medida que os socialistas têm percebido a sua força nas sondagens.
Bloquistas e comunistas estão numa situação difícil em que o poder todo de negociação parece estar do lado do Governo que, em simultâneo, tem arrecadado a popularidade da devolução de rendimentos, cuja maior rapidez se deve ao acordo com o BE e PCP. E resta saber o que, no fim da legislatura, ganharão com as cedências que têm feito, nomeadamente agora ao deixarem cair os professores, nas legislativas de 2019. Em quem votarão os professores nas próximas eleições? Neste momento, já não é só o PS em risco de perder esse grande eleitorado.
P.S.: Os relatórios da OCDE sempre tiveram neste país, nomeadamente no tempo da troika, o encanto de colocar pobres contra pobres. Com o recente Education at a Glance, mais uma vez se confirmou. A ideia de que os professores são ricos é apenas delirante – felizmente, não ganham como tantos licenciados neste país, apenas o ordenado mínimo.