Extrema-direita sobe, mas não tanto, na Suécia
Os dois grandes blocos políticos, um de centro-direita e um de centro-esquerda, acabam empatados e sem maioria. Ambos se recusam a trabalhar com os Democratas Suecos.
As eleições suecas pareciam ter terminado com um empate técnico entre os blocos de centro-esquerda e de centro-direita, com a extrema-direita a subir mas não tanto como o previsto, de acordo com as sondagens à boca das urnas que pareciam confirmadas pelos resultados quando já estavam contados mais de dois terços dos votos.
A primeira sondagem, da TV4, deu a liderança aos partidos de centro-esquerda (Partido Social-Democrata, Verdes e o Partido de Esquerda), que poderia ficar com cerca de 40,1% dos votos. Uma segunda projecção, minutos depois, da estação de televisão SVT, dava uma ligeiríssima vantagem ao outro bloco, de centro-direita (Partido Moderado, Partido do Centro, Liberais e Democratas-Cristãos), que obteria 39,6% contra 39,4% do bloco de centro-esquerda.
Em termos de deputados, na recta final da noite eleitoral os dois blocos tinham exactamente o mesmo número: 143.
Segundo os resultados parciais, os Democratas Suecos, anti-imigração e anti-União Europeia, teriam 17,7%, uma subida em relação à eleição anterior em que obtiveram 12,9%. Um resultado mais abaixo do que previam muitas sondagens pré-eleitorais (acima dos 20%) e que faria o partido manter-se como terceira força política (com uma projecção de 63 deputados).
Estas legislativas foram consideradas as mais importantes da Suécia desde há muitos anos pela ameaça da extrema-direita, depois de uma campanha centrada no tema da imigração. A participação eleitoral desceu em relação às últimas eleições atingindo, apesar disso, 84,3%.
Durante a noite, o grande volume de acessos levou o site da comissão eleitoral a ficar, a certa altura, inacessível. Havia algum suspense e questionado por um jornalista, um dos principais políticos do país, Carl Bildt, antigo primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, escusava-se a fazer comentários. "Ainda não há nada para dizer."
O jornalista do Financial Times Richard Milne resumia: as duas sondagens à boca das urnas mostram “essencialmente um empate entre o centro-esquerda e o centro-direita (cada um dos campos marginalmente à frente em cada sondagem)”. E os Democratas Suecos conseguem aumentar significativamente a sua votação, "mas menos do que alguns temiam". Nenhum bloco admite trabalhar com o partido de extrema-direita, que tem raízes no movimento neonazi sueco.
Para Sarah de Lange, especialista em populismo e radicalismo da Universidade de Amesterdão, “mais impressionante do que os ganhos e perdas de partidos individuais é a continuação da fragmentação do sistema partidário”, escreveu no Twitter. “Os maiores partidos estão a ficar mais pequenos e os mais pequenos estão a ficar maiores.”
Cas Mudde, outro especialista em populismo, da Universidade da Georgia (EUA), aponta que enquanto o bloco de direita parece ter ficado relativamente estável, o de esquerda perdeu mais de cinco pontos percentuais. "Isto, em conjunto com a significativa viragem à direita tanto da direita como da esquerda, é uma grande perda para a esquerda sueca." Ainda assim, há a destacar a subida do Partido de Esquerda, ex-comunista.
A viragem à direita que o analista político refere notou-se sobretudo na adopção de políticas mais restritivas de asilo e imigração: sob o Governo do social-democrata Stefan Löfven, a Suécia passou de ser o país que mais refugiados recebeu per capita em 2015 para o que tem hoje uma das políticas de asilo mais restritivas.
A principal lição a tirar, para Cas Mudde, é: "Seguir a direita radical em políticas e no discurso não vai impedir que se perca votos anti-imigrantes. Tanto os social-democratas como o Partido Moderado viraram à direita e mesmo assim desceram muito.” No caso do Partido Social-Democrata, por exemplo, é preciso recuar a 1911 para encontrar um resultado semelhante (na altura, 28,8%, hoje parecia ser 28,2%).
O efeito mais imediato da fragmentação é a difícil governabilidade. Muitos observadores destas eleições antecipam que a formação de um executivo irá demorar algum tempo, e a falta de uma maioria absoluta obrigará a acordos com o bloco oposto. Um governo integrando a extrema-direita como na Dinamarca ou Finlândia é considerado muito pouco provável, assim como um apoio do partido a um Governo minoritário.
“Haverá um longo caminho antes que tenhamos um Governo”, antecipava a professora de ciência política Marie Demker, da Universidade de Gotemburgo, ouvida pelo diário espanhol El País. “Mas acredito que apesar de tudo, a solução mais provável seja que o bloco maior – seja ele de centro-direita ou de centro-esquerda – possa governar com o apoio do outro.”