Bolsonaro com melhorias, mas ainda sem previsão de alta
O candidato de extrema-direita às presidenciais do Brasil continua sem apresentar sinais de infecção.
O estado de saúde de Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita às eleições presidenciais brasileiras, melhorou, anunciou neste domingo o hospital de São Paulo onde o político, esfaqueado durante um comício em Minas Gerais, está internado.
Bolsonaro, de 63 anos, permanece nos cuidados intensivos do hospital Albert Einstein e não tem ainda previsão de alta - o ataque de quinta-feira provocou perfurações nos intestinos. O golpe no abdómen do candidato foi profundo, atingindo várias partes do intestino e uma veia. ?Bolsonaro continua sem apresentar sinais de infecção.
O hospital informou que o político já está a passar mais tempo fora da cama, mas continua a ser alimentado por via intravenosa. Estes procedimentos ajudam a acelerar a recuperação do funcionamento do intestino e a reduzir riscos de trombose e de complicações pulmonares, escreve a Folha de São Paulo.
Nas últimas sondagens, Jair Bolsonaro surge à frente na primeira volta (cerca de 22% das intenções de voto) , mas perderia numa segunda volta contra todos os candidatos, excepto o do PT, com quem empata.
A polícia mantém um suspeito do ataque ao candidato do Partido Social Liberal sob custódia e continua a investigar os motivos do ataque. O homem, que pode sofrer de problemas de saúde mental, disse que estava a cumprir ordens de Deus.
O cristão contra os direitos humanos
O ataque a Bolsonaro acrescentou incerteza a umas eleições já marcadas pela imprevisibilidade. Com afirmações polémicas e extremas sobre mulheres, homossexuais, negros e criminosos, Bolsonaro é para muitos dos seus apoiantes um outsider que quer limpar o sistema, diz a Reuters.
Capitão do Exército reformado e defensor da ditadura militar – regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 –, Bolsonaro iniciou a carreira política adoptando posições extremadas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.
Ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder que conseguiu mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão económica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo que as lideranças políticas tradicionais do país se viram envolvidas em escândalos de corrupção.
Chamado de “mito” e “herói” pelos apoiantes e de “perigo à democracia” por críticos e adversários, Bolsonaro está na política brasileira há 28 anos e foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, mas sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.
Na campanha, Bolsonaro defende os valores tradicionais da família cristã, o porte de armas e prega que o combate à violência no Brasil, país que atingiu a marca de 63.800 homicídios em 2017, deve ser feito de forma violenta pelas autoridades.
Entre as propostas mais polémicas para a área de segurança pública está a implantação de uma figura jurídica no sistema legal para impedir que policiais que cometem homicídios em serviço sejam julgados criminalmente.
O candidato declarou, também, que se for eleito não vai aplicar recursos do Governo em instituições que actuam na defesa dos direitos humanos, afirmando pretender retirar o Brasil do Comité de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Ela é muito feia, jamais a violaria”
Bolsonaro já foi condenado por injúria e apologia ao crime de violação após uma ofensa contra a deputada Maria do Rosário, em 2003.
Após uma discussão, Bolsonaro declarou que a deputada não merecia ser violada: "Porque ela é muito feia, não faz meu género, jamais a violaria. Eu não sou violador, mas, se fosse, não iria violar porque não merece.”
Bolsonaro também foi acusado pela Procuradoria-Geral do Brasil do crime de racismo, em 2016, quando comparou a animais os descendentes de negros africanos que fugiram antes da abolição da escravatura e vivem em comunidades rurais demarcadas no interior do Brasil.
O candidato também responde num processo por declarações homofóbicas, feitas num programa de televisão e é investigado por suspeita de apologia da tortura.
A última acusação baseia-se na homenagem que fez ao coronel Brilhante Ustra, conhecido torturador brasileiro, no momento em que votava a favor da destituição da ex-Presidente Dilma Rousseff, que anos antes de entrar para a política foi presa e torturada durante a ditadura militar por este militar.