Não vai ser Fátima, mas vem aí uma revolução em Carcavelos

Hotéis, empresas, casas: Carcavelos, à beira-mar, prepara-se para uma mudança radical de figura.

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O primeiro impacto visível do novo campus deu-se na multiplicação de projectos imobiliários à sua volta Rui Gaudêncio

“Se a expectativa é Fátima, vamos desapontar”, brinca Pedro Santa Clara quando o assunto é o impacto económico da chegada da Nova SBE a Carcavelos. Não é que a abertura da faculdade não vá significar uma revolução na zona, mas ela vai ocorrer “gradualmente”, acredita o professor e responsável da Fundação Alfredo de Sousa que acompanha as obras do campus.

Foi a esta fundação privada, criada para “apoiar a Nova SBE”, que a Câmara de Cascais cedeu em 2016, por um prazo de 50 anos, o terreno onde se ergue o novo equipamento. “Essa fundação é a dona do campus, é quem está a desenvolver a obra”, diz Pedro Santa Clara, explicando que a cedência do terreno é renovável desde que se mantenha “o mesmo ramo de actividade” – uma faculdade, portanto.

A câmara teve de expropriar os antigos donos do vasto espaço, num processo que não foi pacífico e que terminou, segundo Santa Clara, “de forma amigável”. Ao PÚBLICO, a autarquia liderada por Carlos Carreiras recusou-se a dizer qual o valor final das expropriações: "Não nos é possível dizer". Há quatro anos, um tribunal decretara quase 8,5 milhões de euros como valor justo.

“As pessoas têm medo de sobrecarregar Carcavelos e eu penso que não acontece isso”, opina Pedro Santa Clara. “Esta população vai estar aqui maioritariamente durante o dia, durante a semana, quando muita da população de Carcavelos está em Lisboa; e durante o inverno, quando não há veraneantes.” Certo é que, mais ou menos a reboque da abertura da faculdade, há já vários projectos a andar: a mesma empresa que explora as residências do campus quer abrir mais 400 quartos na Quinta dos Lombos e há um student hotel planeado para o outro lado da estrada da Nova SBE.

Nuno Alves, presidente da junta da União de Freguesias de Carcavelos e Parede, não tem dúvidas: “A inauguração da Nova é o mais importante marco para a freguesia nos últimos 20 anos. Vai colocar a freguesia no mapa.” O autarca diz que Carcavelos “já está a sofrer uma renovação” graças à chegada da universidade e antecipa novos investimentos privados. “Temos notado uma melhoria de espaços que estavam abandonados. Assim que a faculdade começou a ser construída, as pessoas finalmente acreditaram que ia acontecer”, afirma Nuno Alves.

A mesma ideia têm mediadores imobiliários da zona. “Houve um acréscimo substancial na compra de casas, nomeadamente na Quinta de São Gonçalo, mesmo ao lado da faculdade”, informa Francisco Borges Sousa, da imobiliária Jopredi, que existe na vila desde 1987. Foi “há cerca de dois anos” que se começou a notar esta corrida, diz, que se reflectiu nos preços de venda. “Houve um boom muito grande. Há dois, três anos, encontrava facilmente um T3 ali por 260 mil euros. Agora estão a 480 mil.”

Filipa Santos, comercial da Remax Parede, diz que já não há oferta para tanta procura. Quem lhe tem batido à porta são sobretudo professores universitários e pessoas interessadas em fazer investimentos: arrendar ou revender. A mediadora relata que, recentemente, vendeu um imóvel na Parede que estava “parado há quatro anos” porque foi encarado como rentável.

Nos últimos meses foram anunciados vários projectos de grande dimensão para Carcavelos, como a reconversão da antiga fábrica Legrand, na Quinta da Alagoa, em parque empresarial, onde empresas como a Nestlé e a McDonald’s contam criar 2500 postos de trabalho até 2019. A urbanização da Quinta dos Ingleses, a pouca distância da Nova e à beira da praia, por isso muito polémica, cujo estudo de impacte ambiental esteve recentemente em consulta pública, também pode arrancar brevemente. Em Janeiro, o vice-presidente da Câmara de Cascais disse que, naquela zona, abririam cinco hotéis: quatro de cinco estrelas e um de quatro.

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