Crise na Venezuela é "uma ameaça ao continente", diz Temer
Exército brasileiro já chegou ao estado de Roraima para lidar com a crise de migrantes vindos da Venezuela. Michel Temer diz que vai pedir ajuda internacional para encontrar "solução diplomática".
O Exército brasileiro já chegou ao estado de Roraima, a principal rota de entrada no país utilizada pelos migrantes venezuelanos que fogem da grave crise política, económica e social no seu país, anunciou Michel Temer. Para o Presidente brasileiro, a crise no país vizinho é uma ameaça para a América do Sul.
A decisão acontece depois de, no início do mês, um grupo de habitantes locais ter protestado contra a presença de imigrantes venezuelanos e de terem atacado e incendiado acampamentos.
O Presidente brasileiro explicou que, com as autoridades no local, o Governo procura garantir a lei e a ordem e “oferecer segurança aos cidadãos brasileiros e aos imigrantes venezuelanos que fogem do seu país em busca de refúgio no Brasil”. O Exército vai garantir o controlo das fronteiras.
Nos últimos anos cerca de 56 mil venezuelanos fugiram do seu país e pediram refúgio no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Governo brasileiro em Julho. Diz ainda o Governo que muitos destes imigrantes permanecem na capital de Roraima, a cidade de Boa Vista, ou na cidade fronteiriça de Pacaraima, dois locais onde a tensão entre brasileiros e venezuelanos tem escalado.
De acordo com a estimativa do Governo local citada pela Exame, existem aproximadamente 25 mil venezuelanos na cidade. O equivalente a 7,5% da população total. Apesar de parte destes imigrantes ter sido alojada numa dezena de refúgios administrados pelo Exército, pela agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e por organizações não-governamentais, cerca de 10% (2500) destes venezuelanos ainda dormem na rua, dependentes de doações de comida e roupa. Um cenário difícil para quem tenta sobreviver entre um país onde não se sente desejado e o país de origem onde não havia dinheiro para a alimentação, medicamentos e onde as mulheres grávidas não se sentem seguras para ter os seus filhos.
Para Michel Temer, a Venezuela enfrenta um cenário "dramático" por culpa do Presidente Nicolas Maduro. O Presidente brasileiro afirmou que o "desastre humanitário" causado pela crise é resultado das "péssimas" condições às quais o povo venezuelano está submetido.
"Devo dizer, desde logo, que o Brasil respeita a soberania dos estados nas acções, mas temos que lembrar que só é soberano um país que respeita e cuida do seu povo", disse o presidente. "O problema da Venezuela não é mais de política interna. É uma ameaça à harmonia de todo o nosso continente", concluiu Temer, que disse que iria pedir apoio internacional para encontrar uma "solução diplomática".
Já o ministro de Segurança Pública, Raúl Jungmann, admitiu que o processo de transferência de imigrantes para outros estados brasileiros não está a funcionar com a rapidez necessária, mas assegurou que o governo federal está empenhado a em continuar a receber os imigrantes. E reiterou que a fronteira não será fechada.
Peru aperta a fronteira
No Peru, o Governo já declarou estado de emergência e apertou com as regras de entrada no país, exigindo passaportes em vez de cartões de identidade nacionais de imigrantes venezuelanos. Só esta medida fez o número cair para mais de metade no domingo, disse a agência de imigração do Peru. O país está ainda a partilhar informações com a Colômbia.
“Queremos regular este fenómeno. Dar uma oportunidade às pessoas, mas de uma forma ordenada. Não há país que consiga aguentar uma imigração descontrolada”, explicou o director do centro de Migração da Colômbia, Christian Kruger.
Por seu lado, o Presidente venezuelano convidou os migrantes a “voltar para casa”. Na terça-feira, a Venezuela disse que repatriou 89 cidadãos que haviam migrado para o Peru, mas que tentaram retornar depois de sofrer "tratamento cruel", citando “condições difíceis”.
“Um golpe publicitário do Governo”, acusou um activista que trabalha com imigrantes venezuelanos no Peru, citado pela Reuters.