Melhores ferrovias e mais comboios entre as exigências de autarcas de todo o país

Supressões de horários, atrasos, falta de condições e lentidão são alguns dos problemas da ferrovia denunciados pelos autarcas.

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Nelson Garrido

O declínio das linhas férreas tem estado entre as preocupações de vários autarcas de norte a sul do país, que reclamam ao poder central investimento em melhores ferrovias e mais comboios. A modernização da ligação de comboio entre Porto e Vigo, para uma circulação mais rápida, foi uma das maiores reivindicações ao nível de infra-estruturas ferroviárias dos autarcas do distrito de Braga, que exigiam uma paragem em Nine do comboio de alta velocidade que ligaria o Norte de Portugal à Galiza.

Actualmente essa paragem do chamado comboio "Celta" está garantida, mas continuam a existir reivindicações por parte de alguns dos municípios do Norte de Portugal, em particular Braga e Barcelos. O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio (PSD), entende que, além da paragem em Nine, o comboio que liga o Porto a Vigo deveria também parar em Braga, defendendo por isso a criação de uma nova estação ferroviária na zona norte do concelho e um interface que ligue a linha ferroviária ao aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Já para o presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes (PS), a existência do "Celta" e da paragem do Alfa Pendular e do Intercidades em Nine "em nada implica que não pare também em Barcelos". Os presidentes das Câmaras de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa (PSD), e São João da Madeira, Jorge Vultos (PS), são os autarcas que mais têm insistido na requalificação da Linha do Vouga, a única em via estreita ainda em exploração em Portugal.

"É um investimento caro, mas temos plena consciência do contributo da nossa região para a criação de riqueza do país, sabemos perfeitamente que outras zonas beneficiam do nosso trabalho e estamos fartos de pagar impostos para serem investidos noutras regiões", afirma Emídio Sousa.

O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques (PSD), tem-se mostrado preocupado com a possibilidade de a prometida requalificação da Linha da Beira Alta não avançar. Na sua opinião, a ferrovia é decisiva para a região e, apesar de o Governo ter dito que talvez em 2019 haja condições para lançar o concurso e aproveitar os fundos comunitários, o autarca social-democrata pergunta pelo cronograma.

Almeida Henriques tem defendido que só uma nova linha, de ligação entre Aveiro e Salamanca, será um investimento verdadeiramente estruturante.

O presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira (PS), está satisfeito com a antecipação da obra de requalificação da linha da Beira Baixa, no troço que liga a Covilhã à Guarda e que estava desactivado desde 2009, inserida no Plano Ferrovia 2020. O autarca diz que as obras decorrem a bom ritmo e que após a sua conclusão, prevista para o final da primavera de 2019, será uma "alternativa limpa, barata, cómoda e ambientalmente sustentável" para os utentes.

Em Maio, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD), voltou a defender ser "absolutamente urgente e emergente" uma solução para a linha ferroviária de Cascais, já que a situação é de "quase desespero". O autarca referiu apoiar uma "panóplia de soluções, que tem a ver com a intensidade de investimento, soluções tecnológicas".

No Alentejo, a Câmara de Évora tem vindo a protestar contra a "deterioração" do serviço de transporte ferroviário Intercidades entre a cidade e Lisboa, por a CP — Comboios de Portugal estar a substituir os comboios normais por automotoras mais antigas.

"Os utentes estão a pagar um serviço", que é o Intercidades, mas "não estão a ser servidos convenientemente", porque "o transporte que é utilizado não é aquele que foi prometido e que as pessoas estão a pagar", disse à Lusa o vice-presidente de Évora, João Rodrigues (CDU).

Na Linha do Leste, tem sido o Partido Ecologista "Os Verdes" a defender a construção de um ramal ferroviário desde a estação de Portalegre até ao parque industrial da cidade, além da criação de uma ligação Intercidades entre Lisboa e Badajoz (Espanha), como forma de potenciar a linha férrea.

Já para a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), a linha ferroviária da região é hoje o resultado de "anos de sucessivos desinvestimentos" e o transporte ferroviário só melhorará quando se concluir a sua electrificação, prevista para 2020.

Jorge Botelho, presidente da AMAL e da Câmara de Tavira (eleito pelo PS), espera que o actual Governo, que anunciou a conclusão da electrificação para 2020, termine esse trabalho "essencial" para os transportes na região e dê "um passo à frente para a modernização" da ferrovia no Algarve, para permitir depois criar ligações intermodais com a rodovia e melhorar a acessibilidade às cidades.

O PÚBLICO foi andar de comboio em plena crise de Verão na ferrovia, entre supressões, avarias e carruagens a ferver. Veja a série de reportagens A Ver Passar Comboios.