Desperdício alimentar global pode aumentar um terço até 2030

Se as tendências actuais se mantiverem, diz um novo estudo, o desperdício alimentar irá aumentar até 2,1 mil milhões de toneladas por ano – uma quantidade de comida que custará 1,3 biliões de euros.

Foto
Imagem de arquivo Miguel Manso

O desperdício alimentar pode aumentar quase um terço até 2030, altura em que mais de dois mil milhões de toneladas de alimentos serão deitados ao lixo, disse na terça-feira um grupo de investigadores que deixaram um aviso: uma crise “muito preocupante” pode estar à vista, impulsionada pelo crescimento da população mundial e pelas mudanças de hábitos nas nações em desenvolvimento.

As Nações Unidas definiram o objectivo de cortar pela metade o desperdício de alimentos até 2030. Mas um estudo da consultora Boston Consulting Group concluiu que, se as tendências actuais se mantiverem, o desperdício alimentar irá aumentar até 2,1 mil milhões de toneladas por ano – uma quantidade de alimentos que custará quase 1,3 biliões de euros.

“Estamos a observar uma crise real em termos globais”, disse um dos autores do estudo, Esben Hegnsholt, à Thomson Reuters Foundation. “A quantidade de desperdício e as suas implicações sociais, económicas e ambientais são sérias se não mudarmos de trajectória. Quando lutamos contra o desperdício, estamos a lutar contra a fome, pobreza e aquecimento global.”

Cerca de um terço dos alimentos de todo o mundo é perdido ou deitado fora a cada ano. Actualmente, a humanidade desperdiça 1,6 mil milhões de toneladas de alimentos por ano, o que custa cerca de um biliião de euros.

Muito deste aumento relaciona-se com o aumento da população mundial. Mais gente resulta em mais desperdício, disse Hegnsholt, parceiro e director da consultora.

O lixo doméstico vai aumentar em países em desenvolvimento, acompanhando as mudanças no rendimento disponível, lê-se no relatório que identificou cinco alterações principais que podem ajudar a poupar cerca de 700 mil milhões de dólares em comida perdida.

Entre as mudanças sugeridas inclui-se uma maior consciencialização entre consumidores, regulações mais fortes, maior eficiência na cadeia de distribuição e maior colaboração na cadeia de produção de alimentos.

Liz Goodwin, directora do programa de desperdício de alimentos no Instituto de Recursos Mundiais, disse que o relatório levanta problemas sérios, mas que simplifica demais algumas soluções. “[Estas alterações] estão relacionadas com a forma como as nossas vidas mudaram e com o facto de os alimentos serem agora muito mais baratos”, disse, citando o aumento da procura por conveniência e a falta de capacidades culinárias junto das gerações mais jovens.

Goodwin diz acreditar que as medidas para cortar no desperdício estão a surtir efeito, e que em termos globais se está a trabalhar para alcançar uma redução de 50% até 2030. Consumidores, negócios e reguladores terão de fazer a sua parte, acrescentou.

“Precisamos de uma mudança nas nossas atitudes face ao desperdício alimentar. Creio que temos de chegar a um ponto onde já não é aceitável deitar comida no lixo”, disse.