Jovem escravizada no Iraque encontrou o agressor na Alemanha

Com 14 anos, Ashwaq Haji foi vendida pelo Daesh a um homem que a usou como escrava sexual. Voltou a encontrar o agressor na Alemanha, onde estava refugiada há três anos.

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Soldado iraquiano a passar por uma bandeira do Daesh pintada na parede em Mossul, no Iraque Reuters/Alaa Al-Marjani

Ashwaq Haji foi escravizada sexualmente durante quase um ano por um homem que a comprou ao Daesh. Finalmente, conseguiu fugir e refugiar-se na Alemanha, mas quando começava a acreditar que estava em segurança e longe do pesadelo voltou a encontrar o seu agressor numa rua alemã. O homem não só a reconheceu como estava a par até da sua morada, conta à agência turca Bas News?. Ashwaq Haji reportou a situação às autoridades alemãs, mas a polícia disse-lhe que nada podia fazer. Aterrorizada, a jovem iraquiana, que já estava integrada na Alemanha há mais de três anos, abandonou o país. Segundo a vítima, há mais casos como o seu.

Ashwaq Haji tinha apenas 14 anos quando o Daesh invadiu a sua aldeia no Norte do Iraque. A adolescente da minoria yazidi, grupo religioso com milhares de anos que há séculos está concentrado no Norte do Iraque, foi uma das milhares de crianças e mulheres raptadas pelo grupo terrorista. Ashwaq Haji foi vendida pelo grupo terrorista por 100 dólares. O homem que a comprou, Abu Humam, usava-a como escrava sexual. 

Foi forçada a converter-se ao Islão e a decorar o Alcorão em árabe. Depois de dez meses a ser constantemente violada e vítima de violência, Ashwaq Haji conseguiu fugir. 

Arranhou o corpo e fingiu que se tratava de uma reacção alérgica para que pudesse ir ao hospital. Lá deram-lhe comprimidos para dormir. Colocou-os na comida do agressor. Nessa noite, ela e outras quatro jovens yazidi fugiram. Tiveram de caminhar 14 horas até chegarem ao refúgio mais perto. Aí integrou um programa de asilo na Alemanha, destino procurado por grande parte dos refugiados da minoria yazidi. Apoiada por um grupo de ajuda humanitária, estava há três anos num campo de refugiados perto de Estugarda.

Em Fevereiro deste ano, já com 19 anos, Haji voltou a encontrar o homem que a violava e que lhe batia numa rua alemã. O homem, que se dirigiu primeiro em alemão, chamou-a pelo nome. "Congelei quando olhei para a cara do homem: era Abu Humam, com a mesma barba assustadora e o rosto horrível”, contou à BBC e à agência turca Bas News. Do interior de um carro, o homem perguntou-lhe se era a Ashwaq. "Não", respondeu a jovem, "assustada a tremer". O agressor insistiu. "Sei que tu és a Ashwaq. E eu sou Abu Humam." A partir daí começou a falar árabe. "Tive tanto medo. Sabia que era ele. Mal conseguia falar. Nunca na minha vida imaginei que iria viver isto na Alemanha." Entrou num supermercado e só saiu quando se sentiu segura.

O procurador-geral federal alemão confirmou que Ashwaq Haji reportou o episódio às autoridades alemãs cinco dias depois. As autoridades disseram-lhe que ele estava registado como refugiado, tal como ela, e que não havia provas para o deter. “Disseram-me que, tal como eu, era um refugiado e que não podiam fazer nada." Deram-lhe um número de telefone para o qual ligar caso fosse novamente abordada. Ashwaq Haji chegou a pedir que fossem consultadas as câmaras de segurança do supermercado ao lado do qual aconteceu o encontro, mas nada aconteceu.

Em pânico, Ashwaq Haji decidiu deixar a Alemanha. O desespero e receio de encontrar novamente o agressor falou mais alto do que um recomeço de vida no novo país. "Se nunca passaram por algo assim, não conseguem imaginar o que é. Quando uma rapariga é violada pelo Daesh... Vocês não conseguem imaginar o que é encontrar o vosso agressor outra vez", justificou.
Frauke Köhler, porta-voz do tribunal alemão que seguiu o caso, garantiu que as autoridades alemãs fizeram tudo ao seu alcance para rastrear a localização do agressor, mas que não conseguiram. Quando voltaram a contactar Haji, ela já tinha saído da Alemanha. 

Düzen Tekkal, fundadora da associação de direitos da comunidade yazidi sediada em Berlim, afirma que este não é um caso isolado e que mais mulheres relataram encontros com os seus agressores.

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