China condena clube de imprensa de Hong Kong por discurso de separatista
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse num comunicado que “condenava” o Clube de Correspondentes por receber activista e disse que existe um “limite” para a liberdade de imprensa.
Os governos da China e de Hong Kong criticaram, na terça-feira, um dos mais importantes clubes de imprensa da Ásia por ter servido de palco para o discurso de um activista a favor da independência. Estas críticas suscitaram um debate sobre a viabilidade das liberdades concedidas à cidade.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou a que o Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong retirasse o convite a Andy Chan, um dos fundadores do Partido Nacional de Hong Kong, que pertence ao movimento emergente pela independência e está em risco de ser proibido. Mas o clube de correspondentes avançou com o evento.
No discurso, Chan disse que os seus ideais não eram diferentes dos de muitos outros cidadãos que sonham com a democracia. “Se Hong Kong se tornasse verdadeiramente uma democracia, a sua soberania deveria permanecer com os cidadãos de Hong Kong,” disse.
“A China é, por natureza, um império, uma ameaça a todas as sociedades livres no mundo,” acrescentou.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse num comunicado que “condenava” o Clube de Correspondentes por receber Chan e disse que existe um “limite” para a liberdade de imprensa.
Afirmou que quaisquer discursos ou acções que pretendessem separar Hong Kong da China seriam “punidos de acordo com a lei” e que o clube “não está acima da lei”.
“Pedimos ao Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong que reflicta, corrija erros, siga as leis da China e da Região Administrativa Especial com acções práticas, e respeitem o desejo de 1,4 mil milhões chineses,” disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O secretário para a Administração de Hong Kong Matthew Cheung disse que era “lamentável” que o clube tivesse providenciado uma plataforma para as opiniões de Chan e que violou a constituição de Hong Kong, uma vez que esta diz que o centro financeiro é uma parte “inalienável “da China.
O Clube de Correspondentes, cujos membros incluem jornalistas locais e internacionais - entre as quais da Reuters - mas também advogados seniores e oficiais do governo, há muito que se apresenta como uma instituição enérgica que acolhe e defende a liberdade de expressão.
O actual presidente da organização, Victor Mallet, diz que ao longo dos anos o clube nunca apoiou ou se opôs às várias e diferentes opiniões dos oradores. “O Clube de Correspondentes acredita que os seus membros, e o público em geral, têm o direito de ouvir as opiniões de cada lado de qualquer debate,” disse Mallet. “Respeitamos totalmente a lei e promovemos a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa em toda a Ásia.”
“Ele é um traidor”
Alguns peritos jurídicos negaram que o discurso tenha violado as leis de Hong Kong.
“Sem uma verdadeira proibição do Partido Nacional de acordo com as leis locais, nem Chan nem o Clube de Correspondentes parecem ter violado nenhuma lei de Hong Kong,” disse Simon Young, professor na Faculdade de Direito da Universidade de Hong Kong.
“Pressupõe-se que existe uma lei que pode ser utilizada para castigar, mas não diz qual,” acrescentou.
Cerca de 50 manifestantes pró-China juntaram-se à frente do histórico edifício do clube, empunhando as vermelhas bandeiras da China, gritando contra Chan e o clube através de altifalantes e sob o olhar atento da polícia.
“Ele é um traidor,” disse Jimmy Tso, que usava um boné preto e uma t-shirt com a bandeira chinesa.
Aproximadamente uma dúzia de activistas pró-independência com cartazes que apoiavam Chan foram impedidos pela polícia de se aproximarem da entrada principal do clube e dos grupos pró-Pequim.
“Eu não vou mudar de opinião,” disse Chan, de 27 anos, reconhecendo que os pedidos por independência enfureceram alguns democratas de Hong Kong que receiam que Pequim reprima todos os partidos da oposição.
“Hong Kong enfrenta uma uniformização nacional oriunda da China… Estamos por nossa conta e somos uma nação que está rapidamente a ser anexada à China,” disse.
A miniconstituição de Hong Kong, a Lei Básica, declara que a antiga colónia inglesa, que voltou a ser governada pelos chineses em 1997, é uma parte “inalienável” da China.
Mas Hong Kong opera sob um acordo “um país, dois sistemas” que lhe confere um grau alto de autonomia e liberdade que não há na China.
O incidente gerou um novo debate sobre a liberdade da cidade quando comparada com a China, com figuras importantes pró-China a exigir leis de segurança nacional mais severas, que provavelmente limitariam a liberdade de expressão.
Os independentistas dizem que a separação da China iria proteger as liberdades concedidas à cidade das garras de Pequim, que quer controlar a política, a academia, a legislação e os meios de comunicação.
Ao longo dos últimos dois anos, seis deputados pró-democracia foram destituídos dos seus cargos públicos e alguns jovens activistas foram presos.
Tradução de Ana Silva