Governo quer responsáveis pela morte de 38 pessoas na derrocada de viaduto em Génova
“Toda a ponte terá de ser demolida”, anunciou o secretário de Estado para as infra-estruturas, Edoardo Rixi. Multa pode chegar aos 150 milhões de euros.
Uma grande parte da ponte Morandi, um longo viaduto rodoviário da auto-estrada 10 que atravessa um dos vales e o rio Polcevera, próximo da cidade italiana de Génova, ruiu esta terça-feira, provocando mais de três dezenas de mortos, entre os quais três crianças, segundo o balanço mais recente do vice-primeiro-ministro e ministro do Interior italiano, Matteo Salvini.
O Governo regional da Ligúria e a agência noticiosa italiana Ansa dão conta de pelo menos 38 mortos. Entre as vítimas mortais existem três crianças de 8, 12 e 13 anos. Há 16 feridos, de acordo com as mesmas fontes, alguns em estado grave. Escreve a Ansa que dois dos feridos graves viviam em casas próximas do local do incidente e foram esmagados pelos destroços. “Os dados serão actualizados e espera-se que os números aumentem”, disse Luigi d’Angelo, da Protecção Civil italiana, numa conferência de imprensa durante a tarde.
Governo quer encontrar culpados
Já o ministro das Infraestruturas, Danilo Toninelli, disse numa mensagem na rede social Facebook que “os directores da Autostrade per l’Italia devem demitir-se antes de tudo” e avançou que o Governo italiano “activou todos os procedimentos para a possível revogação das concessões e a imposição de uma multa de até 150 milhões de euros”.
O ministro das Infra-estruturas disse "num país civilizado não se pode morrer por uma ponte que desaba" e reiterou que os culpados "desta tragédia injustificável devem ser punidos".
“Toda a ponte terá de ser demolida”, anunciou o secretário de Estado para as infra-estruturas, Edoardo Rixi, citado pela agência Ansa, mesmo tendo em conta as “sérias repercussões no trânsito e problemas causados a cidadãos e empresas”. “Uma ponte destas não se desmorona por causa de um raio, nem por uma tempestade”, acrescenta. “Os culpados devem ser encontrados.”
Fonte dos bombeiros disse à Ansa que outras zonas da ponte também estão “em risco de colapso” e que, por isso, “os edifícios circundantes” estão a ser evacuados. Pelo menos 440 pessoas tiveram de abandonar as suas casas, relata a agência noticiosa italiana.
Buscas continuam
Há, pelo menos, uma dezena de desaparecidos. “Ainda estamos a tentar retirar sobreviventes dos escombros”, disse Alessandra Bucci, da polícia de Génova, citada pela Reuters. “Esperamos encontrar mais sobreviventes.”
O comandante da Protecção Civil, Angelo Borrelli, citado pela Ansa, acrescenta ainda que “no momento da derrocada transitavam [na ponte] 30 a 35 carros” e dez veículos pesados que terão caído de uma altura de 45 metros. “Teme-se uma grande tragédia”, disse o ministro dos Transportes, Danilo Toninelli. Quatro pessoas terão sido retiradas dos escombros com vida.
Fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas indicou, nesta terça-feira, à agência Lusa que “até ao momento, não há qualquer indicação de portugueses envolvidos”.
A estrutura passava por cima de vários edifícios, estradas e uma linha ferroviária. De acordo com o diário italiano La Repubblica, os serviços de emergência genoveses mobilizaram todos os seus meios para o local, onde estarão cerca de 200 bombeiros.
Horas depois do incidente, o ministro do Interior, Matteo Salvini, afirmou que a derrocada desta ponte mostra a necessidade de investir mais nas infra-estruturas italianas, mesmo que isso signifique ignorar os constrangimentos dos orçamentos europeus, se necessário. “Devemos questionar-nos se respeitar esses limites [orçamentais] é mais importante do que a segurança dos cidadãos italianos”, disse Salvini, que também admitiu querer “os nomes e apelidos dos responsáveis”, porque “uma tragédia como esta não é aceitável em 2018”.
“Não é aceitável que uma ponte tão importante (...) não tenha sido construída [de forma] a evitar este tipo de colapso”, diz Edoardo Rixi, secretário de Estado dos Transportes e Infra-estruturas.
Na mesma linha, o ministro dos Transportes, Danilo Toninelli, acrescentou em declarações à televisão estatal italiana que o desastre mostra o estado de degradação das infra-estruturas em Itália e a falta de manutenção e que “os responsáveis terão de pagar”.
Luigi d’Angelo, da Protecção Civil, disse que as informações disponibilizadas às autoridades ainda não permitiam apurar as causas do acidente. Ainda assim, os media italianos dão conta de uma possível falha estrutural no viaduto que pode ter provocado o desabamento.
É a empresa Autostrade per l’Italia, unidade de infra-estruturas do grupo Atlantia, controlado pela família Benetton, que gere a secção de auto-estrada que ruiu. O responsável da Autostrade pela área de Génova, Stefano Marigliani, disse à Reuters que o incidente “foi inesperado e imprevisível”. “A ponte é constantemente monitorizada e muito mais supervisionada do que o requerido por lei.” Acrescentou ainda que não havia “razões para considerar que a ponte era perigosa”.
O viaduto foi construído entre 1963 e 1967, diz o jornal Corriere della Sera, e terá sido alvo de obras de renovação em 2016, acrescenta a Reuters. No momento da queda, cerca das 10h30 (hora de Lisboa), caía uma tempestade sobre Génova, de acordo com os bombeiros. Uma testemunha no local disse à agência Ansa ter visto um raio a atingir a ponte antes da derrocada.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, deixou uma mensagem de pesar no Twitter: “Os nossos pensamentos estão com as vítimas, com as suas famílias e com todo o povo italiano. França está ao lado de Itália nesta tragédia e pronta a oferecer todo o apoio necessário.”
Também o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, usou a mesma rede social para enviar as suas condolências: “Expresso as minhas mais profundas condolências pelas vítimas da derrocada da ponte em Génova. A Comissão Europeia dará todo o apoio e encorajamento a todas as pessoas envolvidas nas operações de salvamento.”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, expressou ao chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella, condolências pela morte de pelo menos 30 pessoas na sequência da queda do viaduto em Génova. “Neste momento difícil, quero enviar sentidas condolências aos familiares das vítimas e também expressar a Vossa Excelência, em meu nome e no do povo português, toda a solidariedade para com o povo italiano e, em particular, para com todos os que foram afectados, a quem envio os votos de rápida recuperação”, lê-se na mensagem enviada pelo chefe de Estado português e que foi divulgada no site da Presidência da República.
Marcelo Rebelo de Sousa também falou ao telefone com o Presidente italiano, o que é referido numa nota da Presidência da República. com Liliana Borges e Lusa