Austrália enfrenta catástrofe agrícola devido à seca

Agricultores da Nova Gales do Sul vêem-se forçados a vender ou abater os seus animais devido à escassez de água e alimentos. Governo avança com ajuda financeira.

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Vestígios da seca na cidade de Gunnedah, em Nova Gales do Sul (Austrália) DAVID GRAY/Reuters
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Gado a ser alimentado numa região afectada pela seca na cidade de Tamworth, Nova Gales do Sul (Austrália) DAVID GRAY/Reuters
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O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, durante uma visita a uma quinta em Nova Gales do Sul (Austrália) IVAN MCDONNELL/LUSA

As autoridades australianas declararam oficialmente, nesta quarta-feira, que 100% da área do estado da Nova Gales do Sul (o mais populoso do país, e com quase nove vezes o tamanho de Portugal) se encontra em seca.

A falta de água tem causado grandes prejuízos aos agricultores de todo o país, mas o estado de Nova Gales do Sul, responsável por cerca de um quarto da produção agrícola nacional, é o mais afectado. Por esse motivo, o Governo federal australiano, junto com as autoridades estaduais, forneceram um total de 576 milhões de dólares australianos (cerca de 368 milhões de euros) em fundos de emergência aos agricultores, que podem ainda concorrer a financiamentos adicionais, disponibilizados pelo Governo, de até 12 mil dólares (7,67 mil euros) cada. 

O ministro das Indústrias Primárias de Nova Gales do Sul, Niall Blair, mostrou-se preocupado com a situação e afirmou, citado pela estação televisiva australiana ABC, que “não existe nenhuma pessoa no estado que não tenha a esperança de ver alguma chuva para os nossos agricultores e comunidades regionais”. Numa altura em que na Austrália é Inverno, os agricultores enfrentam solos cada vez mais secos, colheitas destruídas e escassez de água e alimentos para os animais.

O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, sublinha que alguns agricultores chegam a pagar até dez mil dólares australianos (6,39 mil euros) por um camião de feno para alimentar o gado, um valor muito elevado que é explicado pela escassez de água. Muitos produtores vêem-se forçados a matar ou vender os seus animais. A ajuda financeira é por isso bem-vinda, mas há quem diga que a medida equivale a “muito pouco" e que surge "muito tarde”, escreve o jornal The Australian

Em algumas zonas de Nova Gales do Sul, em Julho, foram registados menos de dez milímetros de chuva, o quinto Julho mais seco de que há registo naquele estado, segundo a agência Reuters. Estas condições meteorológicas têm impacto na vegetação e nos solos, que carecem de água e humidade para prosperarem. Para os próximos meses, as previsões continuam a apontar para condições mais secas do que o normal.

Nesta quarta-feira, as autoridades australianas afirmaram que 23% das regiões de Nova Gales do Sul se encontram em “seca intensa” e as restantes em seca (ou afectadas pela seca). Mas o fenómeno alastrou-se a outros estados australianos. Em Queensland, metade da região está em seca e algumas zonas de Victoria e da Austrália do Sul estão também a ser afectadas. 

Malcolm Turnbull alertou, no passado domingo, que o país se tinha tornado a “terra das secas e das chuvas fortes”, cita a BBC. Acreditando que as alterações climáticas têm tido impacto nalguns fenómenos, como a elevada pressão atmosférica, que estão relacionados com o aumento das temperaturas e períodos de seca, o primeiro-ministro australiano reafirmou ainda, segundo diário britânico Guardian, o compromisso do seu Governo na redução das emissões de dióxido de carbono. 

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O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, durante uma visita a uma quinta em Nova Gales do Sul (Austrália) IVAN MCDONNELL/LUSA

Aumento das temperaturas na Europa

Apesar de a actual seca ser considerada uma das mais graves de sempre, os australianos também recordam a seca mais devastadora para o país foi a chamada seca do milénio de 1997-2005, que destruiu quase metade da produção agrícola australiana, e que coincidiu com duas manifestações do El Niño. Para 2018, os analistas australianos estimam que a produção agrícola possa diminuir bastante, com uma colheita de trigo a atingir as 21,9 milhões de toneladas, e avisam ainda que os resultados podem ser piores caso não chova. Os efeitos visíveis já são dramáticos. Há árvores de grande porte, com cerca de 100 anos, que estão a morrer. “A seca é um pouco como o cancro”, diz à Reuters Margo Wollaston, residente na cidade de Tamworth, em Nova Gales do Sul. “Parece que te corrói e fica mais vez mais seco e cada vez mais severo”.

Longe da Austrália, no Hemisfério Norte, também se tem assistido a vagas de calor que têm afectado grande parte da Europa, com a Suécia a enfrentar uma onda de incêndios florestais que levaram a um pedido de ajuda internacional, e o Reino Unido a registar temperaturas superiores a 30 graus Celsius.

Em Portugal, sábado passado foi o dia mais quente dos últimos 18 anos em Portugal continental, com os termómetros a ultrapassarem os 46 graus Celsius em Alvega, no concelho de Abrantes, e a potenciarem incêndios como o que deflagrou na sexta-feira em Monchique, e que continua fora de controlo.

Sem consenso sobre se as temperaturas globais das últimas semanas são já uma consequência directa das alterações climáticas, os especialistas indicam contudo que a onda de calor é um aviso sobre os tempos vindouros, pelo que é urgente travar as emissões de dióxido de carbono e, consequentemente, o aumento da temperatura média da Terra, correndo o planeta o risco de ultrapassar um ponto de não retorno

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