Doentes respiratórios são os mais vulneráveis a poeiras que vão chegar do Norte de África

Elevada concentração de partículas regista-se até domingo, pelo menos. E junta-se às altas temperaturas. Médicos de várias especialidades deixam conselhos a quem pode sofrer mais.

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Massa de ar quente e seco do Norte de África arrasta partículas muito finas NFACTOS/ LARA JACINTO

Não serão só as altas temperaturas. De quinta a domingo, o ar em Portugal continental vai ficar repleto de partículas de areia muito fina provenientes do Norte de África — serão arrastadas pelo vento provocado por uma massa de ar quente e seco vinda da região. Esta poeira vem dificultar a vida a quem já tem doenças respiratórias crónicas, mas os médicos alertam que também é preciso ter cuidado com crianças, idosos e grávidas.

A principal consequência para quem já tem alguma doença crónica respiratória, como a asma, a rinite alérgica ou doença pulmonar obstrutiva crónica, é o “agravamento do quadro clínico”, explica Pedro Martins, imunoalergologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica. Para quem tem asma, por exemplo, mais poeira no ar pode significar um aumento da tosse, de pieira e de muco. É uma “resposta inflamatória a estas partículas”, detalha a pneumologista Susana Sousa.

O Verão, explica, “não costuma ser muito crítico para este tipo de doentes” o que pode levar a que “facilitem na medicação”. Mas é importante cumprir à risca os tratamentos e não esquecer a medicação de alívio rápido, avisa.

A médica nota ainda que há casos de pessoas que não sabem que têm uma doença respiratória crónica e que “é nestas alturas que são diagnosticadas”. E mesmo não tendo nenhuma destas doenças, a poeira no ar pode provocar tosse e irritação dos olhos. O essencial é manter as janelas fechadas, evitar sair nas horas de maior calor, uma vez que as temperaturas elevadas vão dificultar a dispersão das partículas, e manter-se hidratado.

Calor e areia

Esta situação “não é nada fora do normal”, garante Francisco Ferreira, professor universitário e presidente da associação ambientalista Zero. Por dia, o limite diário estabelecido pela legislação europeia para a concentração de partículas no ar naturais e decorrentes da actividade humana é de 50 microgramas por metro cúbico, explica ao PÚBLICO. Nos próximos dias, contudo, a previsão, que é tanto mais fidedigna quanto mais próxima estiver da data real, é que se atinja uma concentração de cerca de 70 microgramas. “Não podemos fazer nada”, detalha. E porque o fenómeno está associado a uma causa natural, esta é mesmo a “única situação” em que se prevê que o valor estabelecido possa ser ultrapassado.

Já fora do normal, será o calor esperado para os próximos dias. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou em alerta vermelho nove distritos do continente. O aviso — que indica um risco extremo que advém da persistência de valores elevados de temperatura máxima — vigora entre amanhã e sexta-feira.

Aumento de mortalidade

A Fundação Portuguesa do Pulmão emitiu, entretanto, um comunicado onde lembra que “as ondas de calor, pelas suas repercussões sobre a saúde das populações, provocam aumento do número de episódios de doença, de urgência hospitalar e excesso de mortalidade”. Crianças, idosos, obesos, pessoas com doenças crónicas (diabetes, alcoolismo, doenças renais, hepáticas e cardiovasculares) são, tal como os doentes respiratórios, os mais vulneráveis.

Já a Sociedade Portuguesa de Cardiologia aconselha, em primeiro lugar, “que as pessoas se mantenham hidratadas, sendo que a sede é já um sinal de desidratação”. Em segundo lugar, deve evitar-se estar no exterior nas horas de maior calor e, por último, “evitar o exercício físico no exterior ou em locais sem sistema de arrefecimento”.

Os distritos em alerta vermelho são Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Portalegre, Santarém e Vila Real. Todos os outros ficam para já em alerta laranja. Quanto às temperaturas, que poderão atingir máximos históricos, espera-se que os termómetros cheguem aos 45 graus em algumas zonas do distrito de Évora.

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Fonte: Modelo Skiron Dust, Universidade de Atenas
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