Associação diz que há doentes pressionados para não recorrerem a cuidados continuados
Coordenação Nacional responde: são "relatos casuísticos", mas "sempre que tais situações ocorram" devem ser expostas à Entidade Reguladora da Saúde.
A Associação Nacional dos Cuidados Continuados (ANCC) disse nesta terça-feira que há funcionários de hospitais públicos a pressionar doentes idosos fragilizados para desistirem de aceder à rede de cuidados continuados integrados, sugerindo mesmo lares de idosos ilegais, para libertar camas.
A ANCC diz, em comunicado, ter conhecimento de casos em que "diversos funcionários dos hospitais públicos pressionaram doentes idosos, fragilizados física e emocionalmente, para que desistam da tentativa de ter acesso à Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados".
Segundo refere a associação, são usadas "todo o tipo de desculpas para não dar andamento aos processos de inscrição na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) como por exemplo ter um cartão de cidadão por renovar", para evitar o aumento das listas de espera, uma situação refutada pela Coordenação Nacional dos Cuidados Continuados Integrados.
Questionada pela Lusa sobre estas alegadas pressões, a Coordenação Nacional dos Cuidados Continuados Integrados afirmou que não tem como rebater porque se tratam de denúncias baseada em "relatos casuísticos". Contudo, solicita que, "sempre que tais situações ocorram", sejam expostas à Entidade Reguladora da Saúde ou à Coordenação Nacional dos Cuidados Continuados Integrados.
A coordenação da rede rejeita ainda "qualquer insinuação de, através dessa estratégia, [querer] diminuir a dimensão da lista de espera" para a RNCCI.
Para a ANCC, "é triste, lamentável", esta "postura por parte do Governo e de alguns funcionários de hospitais públicos", prejudicando "cidadãos doentes e fragilizados, que trabalham ou trabalharam, pagando os seus impostos para, entre outras coisas, pagar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), e depois quando dele precisam, são tratados desta forma."
"Esta situação que se passa nos hospitais portugueses em geral, de tentarem libertar camas sugerindo inclusive lares ilegais, e de pressionar as famílias para que levem os seus familiares, muitas vezes sem condições, acontece e as pessoas têm receio de falar", disse José Bourdain.
A coordenação explica, no entanto, que esta lista é pública e pela análise dos seus dados pode-se concluir que "a sua extensão depende essencialmente da oferta de camas e lugares disponíveis na Rede".
José Bourdain diz ainda que há doentes a integrar a RNCCI que precisariam de outro tipo de cuidados, como apoio domiciliário ou um lar de idosos. Sobre esta questão, a Coordenação da RNCCI explicou que a referenciação é feita por profissionais do SNS no "estrito respeito dos critérios para cada tipologia, definidos em lei", mas adianta que, caso se constate "alguma discrepância", é conferido com a equipa de coordenação local a possibilidade de reavaliação do doente.
"Apesar da inegável qualidade do sistema de referenciação, admitimos que o perfil epidemiológico dos potenciais candidatos à RNCCI tem sofrido alguma evolução, verificando-se que são pessoas cada vez mais idosas e dependentes. Tal exige que todos os níveis de cuidados se adequem a esta realidade e se preocupem em oferecer a estas pessoas cuidados que confiram qualidade de vida e dignidade", acrescentou.