Juncker tenta convencer um Trump cada vez mais adepto de taxas
Na véspera de receber o presidente da Comissão Europeia para falar sobre comércio, Trump explica a sua estratégia: quem não aceitar um acordo justo com os EUA, vê as taxas alfandegárias subirem.
Depois de, em Abril, Angela Merkel e Emanuel Macron terem saído da Casa Branca sem resultados e de, em Junho, a cimeira do G7 ter agravado ainda mais o clima de tensão, esta quarta-feira será a vez de Jean-Claude Juncker tentar em Washington convencer o presidente dos Estados Unidos a suavizar a sua estratégia comercial proteccionista. A tarefa do presidente da Comissão Europeia já se adivinhava difícil e, depois da mensagem deixada por Donald Trump esta terça-feira na sua conta do Twitter, não poderia ter ficado mais complicada: “As taxas alfandegárias são o máximo! Um país que tenha vindo a tratar os Estados Unidos injustamente no comércio, ou negoceia um acordo justo, ou é atingido com taxas alfandegárias. É tão simples como isso”.
Apesar dos apelos de várias instituições internacionais e de diversas indústrias dentro do seu próprio país para evitar uma guerra comercial, o presidente norte-americano não parece inclinado a recuar em qualquer das medidas já tomadas, como o aumento das taxas sobre as importações de aço e alumínio. E dá sinais de querer passar à prática as ameaças que tem vindo a fazer, como a de aumentar as taxas aplicadas às importações de veículos automóveis provenientes da Europa ou de aplicar novas taxas em todos os produtos chineses.
Esta intenção é evidente, não apenas nas declarações públicas do presidente. Ao mesmo tempo, a Casa Branca dá passos para estar melhor preparada para uma escalada do conflito comercial, reservando uma verba de 12 mil milhões de dólares para apoiar os agricultores que forem mais afectados pelas retaliações que venham a ser feitas pela Europa, China, Canadá ou México.
Perante isto, os líderes europeus mostram dificuldades em definir uma estratégia clara de resposta. Embora do lado norte-americano, o conselheiro económico de Trump tenha afirmado que espera ouvir de Jean-Claude Juncker uma proposta de acordo com os EUA, do lado europeu tem-se assistido a um esforço para não dar uma importância excessiva ao encontro desta quarta-feira. Angela Merkel afirmou que aquilo que Juncker irá fazer é apresentar a Trump “possibilidades de discussão”. E o porta-voz da Comissão Europeia foi ainda mais vago, falando apenas da tentativa de “desdramatizar quaisquer tensões potenciais em torno do comércio”.
Um dos problemas na definição de uma resposta europeia é o facto de entre as principais potências do continente haver posições diferentes sobre a matéria. A Alemanha, que baseia grande parte da força da sua economia nas exportações, tendo por isso muito a perder com uma escalada da guerra comercial (principalmente se esta chegar ao sector automóvel), teme que uma resposta demasiado agressiva da UE a Trump possa tornar o conflito incontrolável. A França, com bastante menos a perder é mais adepta de uma resposta mais musculada às medidas aplicadas por Washington.
Ainda assim, em Bruxelas e mesmo em Berlim, ninguém parece disposto a pura e simplesmente ceder às ameaças de Trump. Juncker voltou a afirmar que a UE está preparada para responder com taxas a qualquer subida de taxas feita pelo EUA às importações europeias. E o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, assumiu uma posição de força. "Não vamos deixar que nos ameacem e pura e simplesmente recuar, porque, se fizermos isso uma vez, receio que tenhamos que lidar com um comportamento desse tipo muitas vezes no futuro”, disse.
A visita de Juncker a Washington acontece no fim de 10 dias particularmente complicados para a relação entre os EUA e a UE. No início da semana passada, pouco antes do seu encontro com Vladimir Putin, Donald Trump incluiu os países da UE numa lista de “inimigos” dos EUA, por causa da questão comercial. E, alguns dias depois, a UE aplicou uma multa recorde à norte-americana Google, o que levou o presidente dos EUA a afirmar: “eu bem vos tinha dito”.