Esqueçam o “Brexit” e contem borboletas, pede David Attenborough
O especialista em conservação da vida selvagem assegura que estar em contacto com a natureza traz benefícios para a saúde mental.
O naturalista David Attenborough, uma das caras mais conhecidas da televisão britânica, pediu à população do Reino Unido que, durante 15 minutos, fizesse uma pausa nos debates sobre o “Brexit” e participasse na maior contagem de borboletas do mundo que começa esta sexta-feira.
“Estou a pedir às pessoas que desviem a atenção das disputas e problemas sobre o que vamos enfrentar com o “Brexit”, que se sentem num lugar calmo onde o sol esteja a brilhar, e vejam quantas borboletas chegam e as contem”, pediu Attenborough durante uma entrevista à estação britânica BBC Radio 4 (afiliada da BBC).
O especialista em vida selvagem, de 92 anos, é presidente da organização Butterfly Conservation (Conservação das Borboletas), encarregue pela iniciativa Big Butterfly Count, que incentiva as pessoas de todo o país a observarem 17 espécies de borboletas e a registarem os avistamentos online durante as próximas três semanas. O objectivo é conduzir um estudo anual sobre a conservação destes animais e o estado do ambiente. Entre as várias espécies de borboletas, algumas a identificar são a borboleta-azul-do-azevinho (Celastrina argiolus), a borboleta-limão (Gonepteryx rhamni), a bela-dama (Vanessa cardui), ou a almirante-vermelho (Vanessa atalanta).
Nos últimos 40 anos, mais de três quartos das borboletas do Reino Unido viram as suas populações diminuírem. Este ano, as condições meteorológicas da região poderão ser favoráveis ao desenvolvimento destes animais, com um Inverno frio seguido de um clima estável no final da Primavera e início do Verão. Porém, caso as temperaturas elevadas provoquem um período de seca durante o Verão poderá ser “catastrófico” para a conservação das borboletas, tal como aconteceu em 1976. Isto porque as plantas murcham e os insectos, mais concretamente as lagartas (das quais nascem as borboletas através de um processo de metamorfose), acabam por morrer por falta de alimento, explica a organização Butterfly Conservation citada pela BBC News.
David Attenborough, apresentador de séries documentais como Planet Earth e The Blue Planet, explicou ainda que, além desta iniciativa ajudar a reunir dados sobre o estado de conservação da vida selvagem, a natureza oferece “um precioso espaço para respirar” longe do stress e pressões da vida moderna e “acalma a alma e o espírito”. A organização britânica para a saúde mental Mind apoia a tese do naturalista e assegura, de acordo com o diário britânico Guardian, que estar em contacto com o ambiente ajuda a prevenir e a atenuar os efeitos de problemas como a depressão ou a ansiedade.
E não é preciso ir muito longe, basta observar a vida que nos rodeia até mesmo nos nossos jardins: “Tive o privilégio de ter testemunhado alguns espectáculos de vida selvagem de tirar o fôlego em lugares distantes, mas algumas das minhas experiências mais memoráveis aconteceram quando eu estava simplesmente sentado e a observar a vida selvagem que vive onde eu vivo”, conclui Attenborough. Por isso, “esqueçam as desgraças do 'Brexit' e quaisquer outras desgraças políticas que possam ver à volta do mundo e concentrem-se no mundo natural, que estava aqui antes de nós [chegarmos] e continuará aqui depois”, aconselha o naturalista.
Em 2017, a grande contagem de borboletas no Reino Unido teve cerca de 60 mil participantes (a maior participação de sempre). Porém, o número médio de borboletas avistadas (por contagem) foi o menor de que há registo desde que o estudo começou em 2010. As causas estarão relacionadas com as alterações climáticas, assim como a perda de habitat, com algumas das espécies de borboletas mais comuns no Reino Unido a entrarem em declínio, especialmente nas zonas urbanas. Em Portugal, um estudo recente revelou que cerca de 10% das borboletas diurnas poderão estar em risco de extinção.
Texto editado por Teresa Firmino