Trinta e nove dos 58 motociclistas do grupo Hells Angels que foram detidos em Portugal na semana passada ficaram em prisão preventiva. Os restantes 19 vão sair em liberdade, mas ficam obrigados a apresentarem-se periodicamente às autoridades e estão proibidos de participar em eventos motards, confirmou o tribunal em comunicado. A decisão da juíza de instrução Maria Antónia Andrade foi anunciada esta quarta-feira aos advogados dos arguidos no Campus da Justiça, em Lisboa.

A nota dá conta que os arguidos estão "fortemente indiciados" pela prática dos crimes de associação criminosa, tentativa de homicídio qualificado, roubo, ofensas à integridade física graves e tráfico de droga, além de detenção e tráfico de armas. 

O tribunal precisa ainda que "foi considerado existir em concreto [risco de] perturbação do decurso do inquérito, perigo de fuga e um forte perigo de continuação da actividade criminosa". Por isso, aplicou a prisão preventiva a 39 suspeitos, três dos quais poderão ficar em prisão domiciliária se os serviços prisionais concluírem que reúnem condições para tal.

Os 19 suspeitos que vão ficar em liberdade, além de terem que se apresentar às autoridades da sua área de residência, estão proibidos exercer segurança privada e de se ausentar para o estrangeiro. A juíza deu aos arguidos cinco dias para entregarem o passaporte. Estes 19 suspeitos estão igualmente proibidos de participarem em quaisquer eventos motards, de irem a qualquer uma das cinco filiais dos Hells Angels em Portugal e de contactarem com os restantes arguidos ou outros elementos daquele grupo. Desta última proibição só estão isentos os suspeitos que são familiares próximos. 

As medidas de coacção decretadas ficaram aquém das que tinham sido pedidas pelo Ministério Público: prisão preventiva para 50 suspeitos, prisão domiciliária para quatro e para outros quatro apresentações periódicas às autoridades policiais. 

Detidos na quarta-feira da semana passada, os arguidos foram identificados entre a tarde de quinta-feira e a manhã de sexta. Nesse dia à tarde começaram os interrogatórios judiciais que se prolongaram até domingo. Isto apesar da esmagadora maioria dos suspeitos ter optado pelo silêncio.

Rixa num restaurante do Prior Velho

A recente instalação em Portugal de uma filial do grupo de motociclistas Los Bandidos, uma organização internacional rival dos Hells Angels, está na base do caso de violência mais grave que integra esta investigação da Unidade Nacional de Contra Terrorismo.

Trata-se de uma rixa num restaurante do Prior Velho, em Loures, ocorrida em Março passado, que fez seis feridos, três dos quais graves. Este episódio levou o Ministério Público a imputar três tentativas de homicídio a uma parte substancial dos motociclistas detidos. Munidos de armas brancas, mas também de tacos de basebol, os Hells Angels espancaram membros dos Los Bandidos. No final, Mário Machado, o ex-líder de extrema-direita que ficou à frente da filial dos Bandidos, ameaçou retaliar.

A proximidade da concentração de motos de Faro, que decorre entre esta quinta-feira e domingo, assumiram responsáveis da PJ, foi determinante para a data da megaoperação, lançada na quarta-feira da semana passada. As autoridades reconheceram temer que o evento, um dos maiores do género da Europa e que atrai muitos milhares de pessoas, pudesse vir a servir de palco de novos confrontos entre os Hells Angels e o grupo Los Bandidos.

Apesar das detenções, os receios das autoridades não desapareceram totalmente. As polícias admitem que há a possibilidade de elementos dos Hells Angels de outros países europeus se deslocarem a Portugal para a concentração de Faro. Essa hipótese levou várias polícias europeias, em colaboração com a Polícia Judiciária, a vigiar as movimentações dos Hells Angels e a reforçar o dispositivo de segurança associado ao evento motard.