Depois do resgate, a gruta de Tham Luang vai ser museu e cenário de filme
O resgate pôs o complexo de grutas de Tham Luang no mapa. Para receber os que as visitarem, as autoridades tailandesas querem instalar um museu.
A saga dos 12 rapazes e do treinador que ficaram presos dentro de uma gruta durante 17 dias chegou ao fim na terça-feira, com o resgate dos últimos rapazes. Agora, nasce o interesse internacional pela gruta de Tham Luang, que, de acordo com o chefe da operação de resgate, Narongsak Osottanakorn, vai transformar-se num museu. Será também cenário de um filme – e já há dois estúdios interessados em produzi-lo.
As autoridades tailandesas já previam que o interesse pela gruta onde o grupo de rapazes e o seu treinador ficaram presos fosse aumentar. Na terça-feira, numa conferência de imprensa, o primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha, antecipava o aumento da afluência de turistas ao local, mas alertava para a necessidade de se tornar a gruta mais segura — nomeadamente através da instalação de iluminação e sinalética, para evitar incidentes como este. Pedidos semelhantes aos dos moradores, que querem avisos mais claros para o risco de inundação.
As grutas de Tham Luang são um dos maiores complexos de grutas da Tailândia e um ponto turístico da área de Mae Sai, na província de Chiang Rai, junto da fronteira com a Birmânia. Este resgate colocou-a no mapa.
“A área vai tornar-se num museu vivo, para mostrar como a operação decorreu”, revelou o chefe de operações na quarta-feira. “Vamos montar uma base de dados interactiva. Vai tornar-se numa grande atracção da Tailândia”, contou sem adiantar mais pormenores. Não se sabe quando é que esse novo museu poderá abrir nem se ficará aberto ao público durante todo o ano. O perigo de cheias repentinas é real durante a época da monção, que se prolonga de Junho a Outubro. Foi precisamente o que encurralou os 12 rapazes e o treinador dentro da gruta.
Por enquanto, o local permanece fechado e assim vai continuar por tempo indefinido, de acordo com Chongklai Worapongsathorn, vice-director-adjunto do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Natureza, citado pela BBC.
A disputa pelos direitos do filme
Há pelo menos dois estúdios interessados em produzir filmes sobre o resgate e um já esteve no local.
Ainda os 13 membros da equipa de futebol Wild Boars (javalis selvagens) não tinham sido resgatados, já a empresa norte-americana Pure Flix – especializada em filmes de inspiração cristã – tinha anunciado que os seus produtores já estavam no terreno.
O co-fundador do estúdio, Michael Scott, estava na Tailândia porque é neste país que vive durante uma parte do ano e foi para a Chiang Rai para ajudar no resgate, escreve a Variety.
“Ver toda esta coragem” foi “um acontecimento muito emocionante e pessoal para mim”, disse Scott, num vídeo que publicou no Twitter, filmado no local do resgate. No mesmo clip, revela que a sua mulher foi amiga de infância de Saman Gunan, a única vítima mortal deste acidente — Gunan era um antigo mergulhador da Marinha tailandesa que se voluntariou para ajudar no resgate, mas ficou sem ar enquanto distribuía tanques de ar ao longo do percurso dentro da caverna.
David A.R. White, o outro co-fundador do estúdio, disse ao Wall Street Journal que a preparação para o filme estava em curso e já tinha começado a falar com actores, argumentistas e investidores interessados numa possível parceria.
Mas há pelo menos outro estúdio interessado na mesma ideia: o Ivanhoe Pictures, que, dizem os responsáveis, foi o escolhido pelo Governo tailandês e pela Marinha para rodar o filme do resgate. A realização ficará a cargo de Jon M. Chu, que tem no currículo filmes como Ela Dança, Eu Danço (Step Up) ou o segundo filme da série Truques de Mestre.
Nos tweets que escreveu sobre o assunto, Jon M. Chu menciona uma das questões mais discutidas assim que se começou a falar numa adaptação cinematográfica: a escolha dos actores que interpretariam os principais papéis. Se o filme ficasse a cargo de um estúdio de Hollywood, temia-se que os actores escolhidos fossem todos brancos, e não tailandeses, como são os principais intervenientes desta história. “Recuso-me a deixar que Hollywood faça uma lavagem branca à história do resgate na Tailândia! Nem pensar”, escreveu o cineasta.
Equipas de especialistas no terreno
A 23 de Junho um grupo de rapazes, com idades entre os 11 e os 15 anos, foi dado como desaparecido pela mãe de um deles, que reparou que o filho não tinha regressado do treino de futebol. Os rapazes, todos da mesma equipa, e o treinador, de 25 anos, aventuraram-se dentro de uma gruta, num complexo no Norte da Tailândia, e ficaram encurralados quando o nível da água subiu.
As buscas começaram e contaram com ajuda internacional. Diversas equipas de especialistas, incluindo 30 militares norte-americanos, responderam ao pedido de ajuda do Governo tailandês e juntaram-se aos cerca de 1000 socorristas tailandeses. Os rapazes foram localizados com vida sete dias depois de serem dados como desaparecidos.
Foram precisos dez dias para montar uma operação de salvamento de sucesso: o percurso não é fácil e o facto de estar parcialmente inundado não ajudou. Foram equacionadas várias soluções, mas o grupo de resgate decidiu-se por uma: seriam escoltados, um por um, por dois mergulhadores. Depois de três dias de operações de resgate os 13 saíram da gruta – numa operação que só não foi absolutamente feliz porque um dos voluntários morreu durante a preparação da missão. Estão todos bem e a recuperar no hospital em Chiang Rai.