Articulou com Rio visita a Luanda? "Tenho canais de comunicação que não são públicos"

Augusto Santos Silva explica, sobre a relação com Angola, que há "um mito" da "frieza" das relações diplomáticas.

Augusto Santos Silva: "Tenho canais de comunicação que não são públicos" Público/Renascença

O ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, começou a ser investigado pela justiça portuguesa em 2012. As relações diplomáticas e comerciais nos últimos seis anos ficaram afectadas por isso?

Não diria que sim. Ficaram afectadas no sentido em que as autoridades angolanas entenderam que o clímax, o fecho da abóboda das relações, que era a possibilidade de haver visitas do chefe de Estado ou chefe de Governo, não podia realizar-se. Fora desse nível, as relações foram sempre excelentes.

As exportações decresceram mais de 20%.

Mas a razão é outra. A crise em Angola significou menos capacidade de importação da parte dos angolanos. Há um mito da frieza do relacionamento que deve ser desmontado. No período da suposta frieza entre os dois países, Angola foi dos primeiros países do mundo a apoiar a candidatura do engenheiro António Guterres a secretário-geral da ONU. Angola não disse apenas que votaria a favor, ajudou-nos a mobilizar o apoio de toda a África para a candidatura portuguesa. Durante este período, eu próprio, o ministro da Defesa e os meus secretários de Estado visitámos Angola. 

Rui Rio e Assunção Cristas também visitaram Angola. Como viu essas visitas, antecipando-se ao primeiro-ministro?

Não sei se foi antecipação ao primeiro-ministro. Se nós todos remarmos para o mesmo lado, o barco do interesse nacional anda mais depressa. A política externa não é uma corrida de crianças para saber quem chega primeiro ao berlinde. O que caracteriza uma diplomacia madura e eficaz como a portuguesa é que não joga nos 100 metros, joga mesmo na maratona. Corridas de 100 metros perco-as todas. Não é isso que a diplomacia precisa. Vejo [essas visitas] com toda a naturalidade. A relação entre partidos também ajuda à relação entre os Estados. Neste momento, cinco dos sete partidos representados no Parlamento têm uma boa relação com o MPLA.

Isso quer dizer que as visitas de Cristas e Rio foram articuladas com o Governo?

Não respondo a essa pergunta.

Porquê?

Em matérias de soberania, incluindo o MNE e política externa, tenho canais de informação e comunicação com os partidos políticos que permitem ter fluxos de informação que não são públicos. Como não são públicos, não tenho nenhum comentário a fazer acerca deles. 

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