França segue para a final no dia em que Ronaldo “voltou” ao Mundial
Um golo de Umtiti, no início da segunda parte, colocou o conjunto de Didier Deschamps na terceira final da sua história. Todas nos últimos torneios disputados na Europa.
A cabeça de Samuel Umtiti colocou a França pela terceira vez na sua história na final de um Mundial. Isto no dia em que se comemorava o segundo aniversário do triunfo português no Euro 2016 que desolou a nação tricolor, em Paris. Aquela que muitos apelidaram de final antecipada teve apenas um golo, mas não foi por falta de oportunidades. Tudo acabou por ser resolvido num lance de bola parada, no início da segunda metade.
Instantes antes do arranque da partida ninguém diria que se iria disputar uma meia-final no estádio do Zenit, em São Petersburgo. O tema transversal a todas as conversas não tinha a ver com a França ou a Bélgica, mas sim com Cristiano Ronaldo.
A confirmação da sua transferência para a Juventus e a despedida do Real Madrid agitou todos os jornalistas no Media Center e até grande parte dos adeptos no exterior, em particular aqueles que não estavam ligados a nenhuma das equipas em confronto. Na sua maioria latino-americanos, que preencheram grande parte dos mais de 64 mil lugares ocupados nas bancadas, dividindo-se no apoio às duas selecções em confronto.
A estrela global portuguesa cedeu por fim o palco à França e Bélgica que protagonizaram uma primeira metade emotiva, entre duas selecções que tratam bem a bola, com vários lances de perigo, mas mais aparatosos do que eficazes. Nota mais para os belgas, que procuraram a sua sorte desde o apito inicial, assumindo o encontro e suportando depois a reacção do adversário. A noite não era dos ponta-de-lanças mas das defesas e em particular dos homens entre os postes.
Antes do início do jogo, o antigo dono da baliza do Paraguai, José Luis Chilavert, garantiu ao PÚBLICO que estariam no relvado dois dos melhores guarda-redes mundiais da actualidade. O antigo internacional, agora com 52 anos e com bastante peso a mais não desiludiu. A sua preferência ia para o belga do Chelsea, que considera o legítimo sucessor de Buffon, pela sua personalidade e capacidade de liderança.
Courtois confirmou-o em campo. Foi ele que foi mantendo a desvantagem da sua equipa pela margem mínima na segunda parte, quando a Bélgica arriscou tudo no ataque e sofreu vários calafrios com os contra-ataques venenosos dos franceses. Mas, do outro lado, esteve também um imperial Hugo Lloris.
A perder desde os 51’, a Bélgica provou um pouco da receita que aplicou ao Brasil, nos quartos-de-final. A França cedeu-lhe a bola e teve de assumir a partida perante uma defesa cerrada do outro lado. Dificilmente encontrava espaços, apesar dos esforços continuados de Eden Hazard e Kevin De Bruyne para municiarem um solitário Romelu Lukaku, vigiado de perto por Umtiti para onde quer que fosse. A lição estava bem estudada por Didier Deschamps que viu e reviu a partida com os pentacampeões sul-americanos.
O médio franco-camaronês fez um bom trabalho quando teve de defender e melhor quando foi chamado ao ataque. Saltou mais alto do que Marouane Fellani (muito mal na fotografia) e, ao primeiro poste, desviou a bola de cabeça para dentro das redes. Já Fellaini, um dos heróis dos encontros frente ao Japão e Brasil ainda procurou a sua redenção. Também de cabeça, atirou muito perto do poste aos 65’.
Golo desconcentrou a Bélgica
Antes, a Bélgica desconcentrou-se com o inusitado golo e esteve muito perto de sofrer o segundo instantes depois. No melhor lance do ataque francês, Kylian Mbappé trouxe alguma magia ao encontro, ao isolar de calcanhar Olivier Giroud. Mas o ponta-de-lança do Chelsea insistiu em continuar em branco neste torneio e permitiu o corte providencial de Dembélé.
A Bélgica continuou na luta pelo resultado, recompôs-se e voltou a assumir as responsabilidades. Mas ao contrário do que fez ao Brasil, não criou assim tantas oportunidades para chegar, pelo menos, ao empate e levar a partida para prolongamento. A noite não era de milagres como aquele que resultou numa extraordinária reviravolta com os japoneses.
Pior: deixou-se enervar pelo antijogo que os franceses começaram a praticar na ponta final, quando o encontro esteve mais tempo parado do que propriamente com a bola a rolar. Neste particular acusou alguma falta de tarimba e caiu no enredo do adversário. E instantes antes do apito final, acabaria por ser Courtois a impedir o segundo golo a uma nova tentativa de Giroud, seu companheiro de equipa em Londres.
A França é o primeiro finalista na Rússia e aguarda agora pelo adversário que sairá nesta quarta-feira da partida de Moscovo entre a Inglaterra e a Croácia. Será sempre uma final inédita no torneio, como já estava selado desde os quartos-de-final.
Depois de terem vencido o seu único Mundial, em 1998, em casa, ao derrotarem o Brasil de Ronaldo (o Fenómeno), por 3-0, e de terem sido derrubados no derradeiro jogo do Mundial de 2006 na Alemanha — após ultrapassarem Portugal na meia-final, com um golo de Zidane — pela inesperada Itália, nas grandes penalidades, os “galos” voltam a ter possibilidade de chegar ao trono do futebol. Marcaram presença nas finais dos últimos três campeonatos mundiais disputados na Europa.