Na nova lista vermelha, há um alerta para os Açores: os seus escaravelhos estão em vias de extinção
Milhares de especialistas de todo o mundo actualizaram a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. Um dos dados mais alarmantes é sobre os Açores: mais de dez espécies de escaravelhos estão em perigo de extinção.
Já se sabe quais são as espécies mais ameaçadas do momento. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) foi actualizada e não traz boas notícias: mais de 26 mil espécies em todo o mundo correm perigo de extinção. O grande alerta vai para a Austrália que tem 7% dos seus répteis ameaçados. Já em Portugal, destacam-se os escaravelhos dos Açores, que estão a ser assombrados por plantas invasoras.
Compiladas por milhares de especialistas de todo o mundo, são 93.577 as espécies presentes na Lista Vermelha divulgada esta quinta-feira. Dessas, 26.197 estão “criticamente em perigo”, “em perigo” ou “vulneráveis” e 872 já estão extintas. “A actualização da Lista Vermelha da IUCN revela o massacre que a biodiversidade do nosso planeta está a enfrentar”, afirma Inger Andersen, directora-geral da IUCN, num comunicado da organização. “Espécies invasoras, mudanças nos padrões dos incêndios, ciclones e a divergência entre os humanos e a vida selvagem são apenas algumas das muitas ameaças aos ecossistemas do planeta.”
Há várias espécies que mudam do estatuto de “vulnerável” para de “em perigo”, como a planta da espécie Livistona carinensis e o roedor endémico da Jamaica Geocapromys brownii. As principais causas são a destruição do seu habitat e a caça excessiva. Também a raposa-voadora-mauriciana (Pteropus niger), uma espécie de morcego encontrada nas ilhas do oceano Índico Maurícia e Reunião, viu a sua população diminuir para metade entre 2015 e 2016. Passa assim a estar “em perigo”. Os motivos apontados são a desflorestação, a caça ilegal e os abates aos morcegos motivados por supostos danos causados por eles nas culturas de frutas.
Já a planta da espécie Aquilaria malaccensis, que produz madeira muito valiosa, deixa de estar classificada como “vulnerável” para ficar como “criticamente em perigo”. Nos últimos 150 anos, as suas populações diminuíram mais de 80%. Também três espécies de minhocas do Japão passam a estar “criticamente em perigo”, devido à intensificação da agricultura, à expansão urbana ou aos efeitos da radioactividade causados pelo acidente na central nuclear de Fukushima em 2011 ou pela Segunda Guerra Mundial.
Também há espécies que só agora passam a estar ameaçadas, como o anfíbio da espécie Ansonia smeagol – Sméagol é um dos nomes de uma personagem da saga O Senhor dos Anéis. Nesta lista, está classificado como “vulnerável”.
Outro dado bem preocupante nesta lista é o estado dos répteis na Austrália. A Lista Vermelha inclui 975 espécies de répteis australianos e 7% deles estão em perigo de extinção. “Esta actualização da Lista Vermelha salienta a vulnerabilidade dos lagartos e das cobras da Austrália provocada pelas espécies invasoras, como o sapo-boi e os gatos selvagens, em combinação com as ameaças à perda de habitat devido a ervas daninhas invasoras, construções e incêndios”, considera Philip Bowles, coordenador da autoridade das cobras e dos lagartos da Lista Vermelha da IUCN. “Compreender as ameaças a cada espécie de réptil nativa irá ajudar-nos a trabalhar efectivamente com o Governo Australiano, os grupos de conservação local e com as populações aborígenes.”
Estima-se que só os gatos selvagens matem 600 milhões de répteis por ano. Uma das espécies mais ameaçadas por esses felinos é o lagarto Tympanocryptis pinguicolla, que passou a estar classificado como “em perigo” nesta lista. Também o sapo-boi tem assombrado os répteis. Devido a esse sapo, os lagartos semiaquáticos Varanus mitchelli têm sido dizimados. Em algumas áreas, a sua população desceu até 97%.
As alterações climáticas também têm colocado em perigo os répteis australianos. Por exemplo, o lagarto Techmarscincus jigurru – espécie adaptada ao frio e que só se encontra no cume da montanha mais alta de Queensland – tem vindo a perder cerca de metade da sua população nos últimos 30 anos devido ao aumento de um grau na temperatura naquela área.
Afinal, há uma boa notícia
Nos Açores, a maior preocupação é com os insectos. Para esta lista, foram analisados 100 insectos e verificou-se que 74% deles estão ameaçados de extinção, devido à degradação do habitat, a mudanças no uso do solo, a espécies invasoras e a um clima cada vez mais seco. O caso mais alarmante é o dos escaravelhos: as 12 espécies do género Tarphius analisadas estão ameaçadas de extinção. Para sobreviver, estes escaravelhos dependem de madeira em decomposição ou de cobertura de musgos, mas a planta da espécie Hedychium gardnerianum – dos Himalaias – está lentamente a substituir espécies nativas do arquipélago.
“A espécie Tarphius relictus da ilha Terceira tem sido particularmente afectada por esta mudança e está agora reduzida a uma distribuição de menos de um hectare”, alerta-se no comunicado da IUCN, ressalvando-se que “a criação recente de uma área protegida pelo Governo dos Açores, baseada num projecto de avaliação a esses escaravelhos, dá alguma esperança para o futuro destas espécies.” E Alex Hochkirch, responsável pelo subcomité de invertebrados da IUCN, salienta: “Pequenas mudanças nos habitats têm grandes impactos nos invertebrados e as espécies endémicas das ilhas estão particularmente ameaçadas.”
Afinal, nesta Lista Vermelha, ainda houve espaço para uma boa notícia: foram encontradas na Colômbia e no Equador quatro espécies de anfíbios que se julgavam “criticamente em perigo” ou já mesmo extintas. “Enquanto estas redescobertas são notícias encorajadoras, as espécies ainda continuam a sofrer impactos negativos das ameaças introduzidas pelos humanos”, lembra Jennifer Luedtke, coordenadora da autoridade de anfíbios da Lista Vermelha da IUCN. Apesar de terem sido redescobertas, estas espécies vivem assombradas pela destruição do seu habitat, pela ameaça das espécies invasoras ou pelas alterações climáticas. Por isso, já que ainda temos esta oportunidade, é o momento certo para as conservarmos e prevenirmos a sua extinção.