Abrandamento no combate ao VIH/sida pode hipotecar conquistas
Portugal já atingiu dois dos objectivos do programa das Nações Unidas para o VIH/sida — conhecido como 90/90/90 — a identificação das pessoas infectadas e a manutenção de carga viral indetectável em doentes em tratamento.
A directora do Programa Nacional para a Infecção VIH/Sida, Isabel Aldir alertou esta quinta-feira para a necessidade de manter o empenho e investimento na luta contra a doença, considerando que um abrandamento pode hipotecar o que já foi conquistado.
"Tudo o que conquistámos até agora é facilmente hipotecado se houver um desaceleramento em algumas das estratégias, quer em termos de diagnóstico, quer em termos de luta contra o estigma, quer em termos de prevenção de novas infecções", disse Isabel Aldir em declarações aos jornalistas durante a cerimónia de apresentação do relatório "Infecção VIH e Sida - Desafios e Estratégias".
O programa das Nações Unidas para o VIH/sida — conhecido como 90/90/90 — pretende que, até 2020, 90% das pessoas com VIH/sida estejam diagnosticadas, que 90% dos diagnosticados estejam em tratamento e que 90% dos que estão em tratamento atinjam uma carga viral indetectável ao ponto de ser impossível transmitir a infecção.
Portugal já atingiu dois desses objectivos: a identificação das pessoas infectadas e a manutenção de carga viral indetectável em pessoas em tratamento.
De acordo com o último relatório da situação de Portugal, e com dados de 2016, 91,7% das pessoas que vivem com a infecção VIH estão diagnosticadas, 86,8% das pessoas diagnosticadas estão a ser tratadas e 90,3% das pessoas que estão em tratamento têm carga viral indetectável.
Portugal está entre o restrito grupo de países europeus com mais pessoas com VIH diagnosticadas e com mais doentes em tratamento que deixaram de transmitir a infecção, revelou hoje um responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Isabel Aldir explicou que esta é a tradução de todo um empenho que tem existido por parte de toda a sociedade na luta contra esta doença mostrando que é possível alcançar o objectivo de eliminar a doença enquanto problema de saúde publica em Portugal.
Esta área, adiantou, foi sempre vista como prioritária por todos os governos nos últimos 35 anos.
Sobre o diagnóstico da doença, existe ainda em Portugal uma percentagem considerável de diagnósticos tardios que, segundo Isabel Aldir, é mais frequente nos heterossexuais, uma franja da população que não se identifica como estando em risco.