Está a nascer a “obra quase impossível” para ligar Monsanto ao Tejo
Com algum atraso, a construção do corredor verde de Alcântara está a decorrer em vários sítios. O viaduto sobre a Avenida Calouste Gulbenkian começa este mês a ser erguido.
“Não é uma grande sensação estar aqui por baixo?”, pergunta José Sá Fernandes enquanto estica as costas para trás, ergue a cabeça e aponta para o Aqueduto das Águas Livres, que paira sobre as nossas cabeças. “É que ninguém passa por aqui a pé”, diz o vereador da Estrutura Verde da Câmara Municipal de Lisboa.
Estamos muito perto da estação de Campolide, que deixámos há minutos. Caminhamos num terreno, entre a via-férrea e a Avenida Calouste Gulbenkian, em que uns operários estão a alisar a terra e a desenhar com pedra o sítio por onde passará a futura ciclovia. Ali assentam dois pilares do aqueduto setecentista, que dão forma a um dos arcos ogivais que marcam a paisagem do Vale de Alcântara. É neste local que está a nascer um novo corredor verde, com o qual a autarquia pretende ligar Campolide a Alcântara, o parque de Monsanto ao rio Tejo, através de caminhos pedonais, uma ciclovia e um parque urbano.
“Esta obra era quase impossível. Ninguém acreditava nisto”, comenta o vereador. “Este é o vale mais importante de Lisboa, mas é só estradas, linha de comboio, uma confusão. Este projecto permite dar-lhe um arranjo paisagístico muito interessante. Tem verde, tem ciclovia, tem junção de bairros, tem eficiência energética, tem reaproveitamento da água”, congratula-se Sá Fernandes.
Quando este corredor foi anunciado, em Setembro de 2016, o vereador apontava o fim dos trabalhos para dali a um ano, mas esse prazo não se cumpriu e as obras só agora decorrem a bom ritmo.
Junto à estação de Campolide, a circulação viária já foi alterada, os passeios cresceram e está a aparecer a ciclovia que depois há-de continuar vale abaixo até à Avenida de Ceuta e a Alcântara. O vereador indica que também está a ser recuperada uma azinhaga ali perto para “quem estiver na Gulbenkian e quiser vir de bicicleta até aqui poder fazê-lo”. Conseguem-se assim dois objectivos, explica Sá Fernandes: “Ligar o Bairro da Liberdade e o núcleo antigo de Campolide à estação”, que fica no meio do vale e a alguma distância dos pólos habitacionais.
Mais à frente, ultrapassado o aqueduto, vai surgir um viaduto pedonal paralelo à ponte do caminho-de-ferro, passando por cima da Avenida Gulbenkian. A construção dessa estrutura deve iniciar-se “no fim de Julho”. É através dela que se vai poder aceder ao renovado e ampliado Parque Urbano da Quinta da Bela Flor, um grande espaço verde na encosta do bairro com o mesmo nome. “Acho que finalmente se vai fazer jus aos nomes dos bairros, o da Liberdade e o da Bela Flor, que estão completamente isolados e desligados do resto da cidade”, diz Sá Fernandes.
Ainda não dá para perceber como vai ficar este parque urbano a não ser pelas fotomontagens que a câmara divulgou há dois anos, que mostram grandes zonas relvadas onde, aqui e ali, despontam áreas floridas de aspecto campestre e uma espécie de bosque. A zona de hortas urbanas que já existe será alargada e as plantações vão ter em conta que, por ali, há produção artesanal de sabonetes.
No extremo sul do futuro parque já decorrem as escavações para um túnel que passará por baixo da linha de comboios e ligará à Avenida de Ceuta. “O túnel vai ter uns painéis informativos sobre o aqueduto, o ciclo da água e o corredor verde”, diz o vereador. A água é fulcral neste projecto, pois está previsto que toda a rega seja feita com água reaproveitada, proveniente da Estação de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara. Também a ribeira que está prevista para o separador central da Avenida de Ceuta e o lago a nascer junto ao bairro da Quinta do Loureiro vão recorrer a água reutilizada. Mas essas intervenções serão as últimas, ainda não estão calendarizadas.