Direcção de Informação da RTP com conflitos internos e versões contraditórias sobre futuro
Paulo Dentinho apresentou novo organograma da direcção com dois subdirectores diferentes, mas foi recusado pela administração. Na RTP há uma guerra interna que até já envolve queixa na PJ.
Se a ida do presidente da RTP ao Parlamento para explicar a alegada substituição da direcção de Informação acalmou a polémica para o exterior, na verdade não serviu de muito no interior da empresa pública de rádio e televisão. O director de Informação Paulo Dentinho apresentou à administração um novo organograma para a sua direcção, com dois novos subdirectores que iriam substituir António José Teixeira e Hugo Gilberto, respectivamente António Esteves e João Fernando Ramos. Mas fê-lo antes de definir um projecto estratégico para a Informação da RTP para os próximos anos, como a administração lhe pedira. A equipa liderada por Gonçalo Reis acabou por recusar a mudança de nomes insistindo que quer mesmo primeiro um plano, confirmou o PÚBLICO junto de várias fontes.
Ao PÚBLICO, porém, Paulo Dentinho garante que não apresentou qualquer proposta para renovar a equipa, mas tem “alguns nomes para a nova fase”, sobre a qual está em “reflexão” e que passa por dar um “boost” para que a RTP tenha uma informação irrepreensível e na linha da frente. “Ninguém recusou o que quer que fosse”, insistiu. “Do ponto de vista legal, quem constitui a equipa sou eu. E no dia em que não for assim, algo vai mal…”
Entretanto, começaram a aparecer casos polémicos dentro da empresa. Há uns meses, o anterior conselho de redacção recebeu uma lista dos convidados do Jornal 2, conduzido por João Fernando Ramos, em que se dizia que havia uma presença excessiva de convidados do PS e do Governo e também de entidades que patrocinavam o carro com que o jornalista participa no Rali de Portugal. O assunto foi debatido no conselho de redacção, mas o director Paulo Dentinho não quis que ficasse registado em acta, porque se tratou de uma informação anónima.
Essa lista voltou agora a circular com mais detalhes, afirmando-se um “estudo académico” que será apresentado no final deste ano sobre o Jornal 2 entre Janeiro de 2017 e Abril de 2018. Não tem autoria nem a indicação da instituição de ensino superior onde terá sido feito e também não explica que critério que seguiu para escolher as edições do Jornal 2 que analisa – nuns meses são oito, noutros sete, dois, ou quatro. As conclusões alegam que mais de 52% dos convidados eram da área do PS e que os patrocinadores do carro de João Fernando Ramos somavam mais presenças que o CDS, PCP e PEV juntos. João Fernando Ramos disse ao PÚBLICO estar a ser “alvo de bullying profissional”. Argumenta que o estudo está “truncado”, porque não analisa as edições diárias do Jornal 2 e até andou a questionar todas as instituições de ensino superior com cursos na área da Comunicação Social, mas em nenhuma localizou uma equipa que esteja a estudar aquele noticiário.
João Fernando Ramos diz que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) monitoriza o Jornal 2, e nunca apontou qualquer desvio do pluralismo político-partidário, e refuta as acusações sobre violação deontológica pelos convites a entidades que patrocinam o seu carro, como a associação de industriais de madeira ou a empresa imobiliária Decisões e Soluções. “Não são patrocínios. Quem faz uma prova por ano não tem patrocínios; eu não sou piloto”, defende, para depois admitir que “a equipa tem patrocínios. Mas eu não ganho nada com isso”. Para o jornalista, alguém “quer condicionar de forma infame” o seu trabalho e “a constituição da equipa do Paulo Dentinho”. João Fernando Ramos fez, por isso, uma queixa-crime na PJ e no Ministério Público e os emails serão alvo de “investigação informática”.
O estudo foi enviado ao Conselho Geral Independente (CGI) e ao provedor do telespectador. O CGI confirmou ao PÚBLICO que já pediu elementos sobre o assunto à administração, mas só deve debater a questão na reunião da próxima semana. E o provedor, Jorge Wemans, questionou o remetente do estudo, perguntando como foi feito – em que universidade, com base em que informações – e recebeu como resposta que teve por base as edições disponíveis no RTP Play. “Tenciono verificar se tem alguma coisa que valha a pena analisar”, disse ao PÚBLICO.
A alegada denúncia teria também seguido para a ERC, Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, Procuradoria-Geral da República. As duas primeiras disseram ao PÚBLICO não ter registo da queixa.
Outra pedra na engrenagem é o concurso para o novo correspondente em Washington, cujo prazo foi prorrogado de 25 de Maio para 10 de Junho sem que a redacção tenha tido justificações. Mas Paulo Dentinho disse ao PÚBLICO que a escolha já foi feita e que o nome está na administração para homologação.