Drama a bordo do Lifeline é o resultado das políticas “xenófobas e racistas” da UE, acusa eurodeputado

João Pimenta Lopes, do PCP, pernoitou na embarcação que resgatou 234 refugiados no Mediterrâneo e foi barrada nos portos italianos. “Situação dramática pode transformar-se numa catástrofe”, alerta.

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Condições a bordo são "degradantes", diz João Pimenta Lopes EPA /Felix Weiss / HANDOUT
Itália, Malta, navio
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Embarcação da ONG alemã conta com 234 pessoas a bordo EPA /HERMINE POSCHMANN / MISSION LIFELINE / HANDOUT

João Pimenta Lopes responsabilizou a União Europeia e as suas políticas “xenófobas e racistas” pela situação humanitária “dramática” que se vive no mar Mediterrâneo. O eurodeputado do PCP visitou e pernoitou numa embarcação da organização não-governamental alemã Mission Lifeline, que aguarda há quatro dias por uma autorização de desembarque, e testemunhou as “condições degradantes” dos 234 refugiados que se encontram a bordo.

“Os testemunhos que recolhemos dão nota de uma situação dramática, que envolve violência extrema, tráfico de seres humanos e escravatura. As políticas xenófobas e racistas da UE, no que diz respeito às restrições, limitações e alterações aos regulamentos sobre os pedidos de asilo – contrárias ao direito internacional – estão a alimentar estes fenómenos”, lamenta o comunista, em declarações ao PÚBLICO, apontando o dedo a Bruxelas pelas consequências “desastrosas” das suas “políticas de ingerência e de intervenção em países terceiros”, nomeadamente na Líbia.

“Muitas das pessoas com quem falámos disseram-nos que apenas procuram uma situação de segurança. Isto traduz muito a realidade dos países de onde vêm e a necessidade de uma resposta solidária europeia. Que nunca existiu, apesar de alguns países a apregoarem”, refere.

O navio Lifeline aguarda há dias por uma decisão do novo Governo de Itália – cujo ministro do Interior é o líder da Liga (extrema-direita), Matteo Salvini –, para poder entrar em águas internacionais e ancorar num porto italiano. A Alexander Maersk, uma embarcação comercial, aguarda orientação semelhante, com 113 pessoas a bordo.

No Lifeline, ao largo de Malta, encontram-se 234 pessoas, maioritariamente oriundas do Sudão – mas também do Chade, da Eritreia, da Serra Leoa, da Costa do Marfim e da Nigéria – e que, antes de resgatadas pela ONG, se encontravam à deriva no mar, numa “situação crítica”, distribuídas entre dois barcos de borracha. Segundo Pimenta Lopes, há 14 mulheres e 4 crianças (duas com menos de dois anos) no grupo. Para além disso, pelo menos 77 dos resgatados têm menos de 18 anos.

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Eurodeputado do PCP lamenta "consolidação da 'Europa-fortaleza'" DR

Depois de pernoitar no navio, entre domingo e segunda-feira, o eurodeputado deu conta das condições “degradantes” em que se encontram os imigrantes no Lifetime, que, recorda, “não é uma embarcação de transporte de passageiros, mas de resgate”. Nesse sentido, “não está preparada para quatro dias nestas condições”, em que “todo o convés está ocupado por pessoas”.

E o pior pode estar para vir. “Prevê-se uma degradação das condições do mar a partir de amanhã [terça-feira]. Poderemos ter casos de quedas e de enjoo, que originam muitas vezes situações de desidratação e que podem ser fatais para pessoas que já se encontram debilitadas e com pouca resistência física”, alerta o comunista, admitindo mesmo a possibilidade de “perdas de vidas humanas”, se não forem tomadas “medidas urgentes”. “É uma situação dramática que se pode transformar numa catástrofe”, teme.

O eurodeputado diz não compreender a estratégia de alguns governos europeus, como o italiano, de “criminalizar” organizações com a Mission Lifeline, que se limitam a executar uma tarefa que faz parte das “responsabilidades dos próprios Estados”.

E critica os resultados da tão badalada “resposta comum europeia” à questão migratória. “Fala-se muito na necessidade de uma resposta comum, mas aquilo que se tem verificado é que quanto mais se avança na harmonização das respostas de socorro e salvamento, mais degradantes são as condições para estas pessoas”, atirou.

Relativamente à cimeira europeia que reunirá os chefes dos Governos dos 28 no final da semana, Pimenta Lopes não espera grandes novidades em matéria de imigração, apenas a “consolidação desta ‘Europa-fortaleza’”.

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