Bruno de Carvalho destituído
Os sócios do Sporting disseram “sim” à revogação com justa causa do mandato dos membros do Conselho Directivo. Depois de ter dito que não ia, até o presidente “leonino” apareceu para votar. Acabou a noite derrotado, anunciando que não será recandidato em Setembro.
Bruno de Carvalho foi destituído da presidência do Sporting. Os resultados oficiais, divulgados à 1h deste domingo, confirmam a destituição do presidente "leonino", com uma dimensão ainda mais esmagadora do que era esperado horas antes, quando começaram a ser conhecidas as contagens parciais: 65% dos sócios votaram a favor da saída do actual presidente contra 35% a favor da sua continuidade. Como cada sócio tem um número diferente de votos em função da antiguidade, isto significa que 71,36% dos votos foram a favor da destituição e 28,64% contra.
De acordo com os resultados finais, a que a Lusa teve acesso, 9477 dos votantes, com uma correspondência de 53.517 votos, disseram sim ao afastamento de Bruno de Carvalho, enquanto 5138, correspondentes a 21.475, preferiam a continuidade do presidente.
Nesta Assembleia Geral participaram 14.735 sócios, o que fez desta uma das AG mais concorridas de sempre da história do clube e a primeira vez que um presidente foi destituído desta forma.
Depois de ter garantido nos últimos dias que não iria marcar presença nesta reunião magna dos sócios sportinguistas, Bruno de Carvalho, que está suspenso do cargo (uma decisão que o próprio contesta, que que foi confirmada pelos tribunais), acabou por ir ao Altice Arena e depositou os seus oito votos em urna, ele que tinha passado boa parte do dia a fazer o acompanhamento da votação com mensagens no Facebook. Mas os seus oito votos acabaram por não fazer a diferença no desfecho desta assembleia que é uma grande derrota para ele, depois do seu triunfo com 86% dos votos nas eleições de 2017 e uma vitória semelhante na AG de Fevereiro passado em que colocou a sua liderança à votação em paralelo com a alteração dos estatutos do clube.
Entra agora em acção a Comissão de Gestão nomeada por Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral e liderada por Artur Torres Pereira. Esta comissão estará em funções até 8 de Setembro, data anunciada por Marta Soares para a realização de eleições no clube.
Ao final da noite, Bruno de Carvalho disse a um grupo de adeptos que não se irá recandidatar — "de certeza".
Um dia longo
Este sábado foi um dia longo para os sportinguistas. As portas do Altice Arena abriram às 12h e foi a essa hora que os primeiros sócios começaram a entrar. À medida que o tempo ia passando, as filas à porta do recinto foram-se formando e o tempo de espera para entrar foi aumentando. Longe do Parque das Nações, Bruno de Carvalho ia fazendo o seu próprio relato “ao minuto” no Facebook, com mensagens a reafirmar as suas ideias em relação ao que se estava a passar, acompanhadas de fotos e vídeos que ia recebendo e recolhendo das redes sociais de quem estava no local. As mensagens começaram bem cedo e, ao todo, foram 24.
A AG tinha início marcado para as 14h. Respeitando os estatutos, esperou-se mais meia hora e a votação começou de imediato. Como sempre acontece, a comunicação social estava impedida de assistir à reunião magna e limitada a recolher impressões dos sócios que iam entrando e saindo, mas foi quem estava lá dentro que começou a divulgar imagens do que se ia passando, imagens em que eram visíveis milhares de pessoas no recinto, entre a plateia e as bancadas. A afluência foi tal que, durante o dia, os sócios chegaram a esperar cerca de duas horas, entre as filas para entrar no pavilhão e as filas para votar.
Passaram pelo Altice Arena ex-presidentes (Dias da Cunha, Sousa Cintra, José Roquette), entre outras personalidades relevantes no universo sportinguista, como Frederico Varandas, antigo director clínico dos “leões” e candidato a candidato em futuras eleições, ou Álvaro Sobrinho, presidente da Holdimo, que é o maior accionista da SAD depois do clube. O empresário angolano, que tem sido um dos alvos de Bruno de Carvalho, foi um dos protagonistas desta AG. Sobrinho foi alvo de tentativas de agressão quando se encontrava já dentro do recinto e na fila para votar, o que obrigou à intervenção das forças de segurança — o empresário saiu da fila, mas acabaria mesmo por votar, sob escolta.
Enquanto decorria a votação, cerca de 100 sócios subiram ao palanque para curtas intervenções de alguns minutos, intervenções limitadas pela MAG a dois minutos de duração, a maioria delas com palavras de apoio a Bruno de Carvalho. Nesta altura, ainda não tinha chegado o presidente suspenso, mas foram chegando rostos que estão do seu lado, como Augusto Inácio, director do futebol “leonino”, Elsa Judas, presidente da Comissão Transitória da MAG, ou Nuno Saraiva, director de comunicação dos “leões”. Só bem ao fim do dia é que Bruno de Carvalho apareceu no Altice Arena, e nem foi para a fila. Entrou directamente pela garagem, dirigiu-se à MAG e pediu para falar, mas já tinham fechado as inscrições para intervir, e o presidente “leonino” acabou por ir votar, ao contrário do que tinha prometido. Marta Soares seria o último sócio a votar, por volta das 20h30.
As prioridades
Há muitas pastas urgentes que precisam de ser resolvidas. Está ainda por concluir a reestruturação financeira, que passa, no plano de Bruno de Carvalho, pelo aumento do capital social da SAD “leonina” num montante total de 18 milhões e uma nova emissão de VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis), no montante global de 55 milhões de euros e em condições idênticas à anterior emissão de 80 milhões.
No imediato, também é preciso resolver o empréstimo obrigacionista no valor de 15 milhões de euros e que a SAD “leonina” previa lançar a 28 de Maio. Devido à instabilidade que o clube vive, a CMVM suspendeu a emissão deste empréstimo, que a SAD sportinguista considera essencial para o reembolso do empréstimo de 2015 e para outras operações de tesouraria da sociedade.
A gestão do futebol profissional é outra das prioridades. Na última semana, Bruno de Carvalho anunciou um novo treinador, Sinisa Mihajlovic, e o plantel voltou ao trabalho, com algumas caras novas e alguns regressos, mas está longe de estar definido, sobretudo por causa das nove rescisões de alguns dos melhores jogadores da equipa. Lidar com estas rescisões unilaterais alegando justa causa dos jogadores será urgente, seja pela via negocial ou pela via judicial, não se sabendo se, com a saída de Bruno de Carvalho, haverá algum destes futebolistas a rasgar a carta de rescisão.