Director de centro cultural português proibido de entrar na Rússia
Responsável admite que a continuidade da escola, situada em Moscovo, está em risco.
Encontrar quem diga duas ou três palavras numa língua que não a russa nas ruas de Moscovo é um desafio. Poucos, quase todos jovens, desenrascam-se em inglês, mas as várias décadas de isolamento internacional na era soviética resultaram em que quase todos os habitantes da Rússia sejam monolingues. Há, no entanto, quem procure inverter essa realidade. Situado a cerca de dois quilómetros do Kremlin, o Centro de Língua e Cultura Portuguesa (CLCP) conta com dez professores e cerca de 250 alunos, 90% deles russos, que procuram nesta escola aprender a língua lusa. Porém, Stanislav Mikos, director e fundador da instituição, está há um ano proibido de entrar na Rússia, cenário que, segundo o próprio, pode levar ao encerramento do único centro que possui um protocolo com o Instituto Camões no país.
Nasceu na antiga União Soviética, em Kiev, e é filho de pai polaco e de mãe russa, mas, como sublinha em conversa com o PÚBLICO, é “cidadão português” e não tem qualquer outra nacionalidade. Stanislav Mikos abandonou a capital da Ucrânia quando tinha 11 anos. Cresceu nos Açores e viveu também no Porto, cidade onde se licenciou em Música e em Letras. Em 2005, mudou-se para Moscovo, fundando no ano seguinte uma escola de língua portuguesa associada à embaixada portuguesa, que posteriormente se transformaria no CLCP.
“Na altura não havia nenhuma escola de língua portuguesa e a embaixada recebia telefonemas de pessoas em Moscovo que estavam à procura de uma possibilidade de aprenderem português. Como uma das minhas licenciaturas é na área de Línguas, o embaixador sugeriu que tomasse a iniciativa de abrir uma escola. Na altura era o único que dava aulas. Agora somos dez professores — quatro portugueses e seis russos — e temos cerca de 250 alunos”, explica.
O único estabelecimento de ensino em Moscovo onde só se ensina português tem, no entanto, outras valências. “Não nos limitamos a ministrar aulas de português. A promoção da cultura portuguesa também é uma prioridade. Organizamos bastantes eventos, normalmente em colaboração com a embaixada, e, pelo menos duas ou três vezes por ano, organizamos visitas de estudo a Portugal para os nossos alunos.”
Sem explicações
Numa dessas visitas, realizada em Maio do ano passado, aconteceu o que, garante Stanlislav Mikos, só “pode ser um equívoco”: “Quando estava a regressar, apresentei o meu passaporte na alfândega russa e disseram-me que o meu nome estava na lista de pessoas a quem a entrada no país estava proibida. Disseram-me para pedir mais informações na embaixada da Rússia em Lisboa. Foi o que fiz, mas não me foi dada qualquer explicação. A nossa embaixada em Moscovo também dirigiu uma nota diplomática ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo a questionar por que motivo foi proibida a entrada na Rússia do director do Centro de Língua e Cultura Portuguesa, mas também não recebeu qualquer resposta.”
Apesar de continuar a dirigir o CLCP através de Lisboa, Stanislav Mikos admite estar neste “momento a lutar para salvar o centro” e que está “a perder a luta”. “As autoridades portuguesas não nos prestam qualquer apoio para me ajudar a voltar ao meu posto de trabalho. Nem sequer me ajudam a averiguar as razões do que se passou. Tendo esgotado todas as outras possibilidades, cheguei ao ponto de escrever à Presidência da República, pois o nosso Presidente estará na Rússia para assistir ao jogo Portugal-Marrocos”, revela.
Confrontado com “uma nova equipa diplomática portuguesa em Moscovo”, que “provavelmente não quer mais um problema”, este português prevê que “caso não haja nenhuma evolução positiva nos próximos meses, é bem possível que o maior centro de língua portuguesa na Rússia esteja a completar o 12.º e o último ano da sua existência”.