Agentes de Alfragide tentam descredibilizar em tribunal investigação da PJ
Já foram ouvidos os 17 polícias da PSP acusados de tortura e racismo de que foram alvo seis jovens da Cova da Moura.
Ao fim de quase um mês do início do julgamento, os últimos cinco dos 17 agentes da PSP acusados de tortura e racismo, entre outros crimes, foram ouvidos esta terça-feira pelo colectivo de juízes do Tribunal de Sintra. Mantiveram todos a tese de que seis jovens da Cova da Moura tentaram invadir a Esquadra de Alfragide a 5 de Fevereiro de 2015, que foi disparado um tiro de shotgun por um dos agentes para controlar a situação e que nenhuma das acusações que lhes é imputada pelo Ministério Público (MP) de violência e ódio racial é verdadeira.
Apostaram na tentativa de descredibilizar a investigação feita pela Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária, que recolheu provas e fez perícias que sustentam o processo-crime do MP.
Depois de seguirem a linha de ataque dos polícias e advogados - que têm insistido no facto de o reconhecimento feito pela PJ não ter obedecido a todas as regras, nomeadamente por os agentes estarem à civil e não fardados - os agentes Juliana Batista, Joel Machado, Nuno Gomes e Sérgio Rodrigues foram mais longe. Juliana Batista disse ser “uma vergonha” o processo de reconhecimento feito pela PJ, em que ouviu alguém induzir as vítimas a identificá-la a ela em particular. O mesmo tipo de acusação fez Joel Machado, que está neste momento suspenso de funções no âmbito de outro processo relativo a ofensas à integridade física: disse ter ouvido alguém na PJ a apontar para ele e a dizer “tem a certeza de que não foi aquele?”
Já Nuno Gomes acusou o inspector da PJ de o “coagir a assinar” o reconhecimento: “Não me deixaram ler as declarações, meteram uma folha em branco em cima”. E Sérgio Rodrigues declarou que a ida à PJ “o marcou” e também acusou a Judiciária de influenciar o reconhecimento. Acusou ainda um inspector da PJ de lhe ter dito coisas não próprias como: “Aquilo foi uma festa, foder pretos”.
O arguido confessou que a acusação o traumatizou até porque a mulher é de origem cabo-verdiana. É acusado pelo MP de nada ter feito para evitar as agressões aos jovens, mas diz desconhecer a razão pela qual está a ser julgado.
Reconhecimentos na Judiciária
Os reconhecimentos na PJ foram feitos na presença de um advogado e do procurador do Departamento de Investigação e Acção Penal da Amadora na altura, Paes de Faria. Nenhum dos que agora são arguidos pediu abertura de instrução do processo. Sobre a razão pelo qual não puseram a PJ em causa quando foram acusados, têm respondido que “foram mal” instruídos pelo advogado e por isso dispensaram-no e são agora representados por outros.
O julgamento prossegue para a semana quando serão ouvidas as primeiras testemunhas.
A acusação do Ministério Público divide-se em dois momentos: um primeiro, em que uma equipa da PSP vai à Cova da Moura fazer patrulhamento e detém Bruno Lopes, alegando que este tinha atirado pedras à carrinha da polícia - aí, o agente terá disparado dois tiros e atingido duas moradoras; um segundo, quando amigos deste jovem, entre eles um membro da direcção do Moinho da Juventude, instituição galardoada com prémio de Direitos Humanos da Assembleia da República, se dirigem à esquadra para pedir esclarecimentos mas acabam detidos e acusados de invasão da esquadra.
Os agentes mantêm a tese de que os seis jovens da Cova Moura que se deslocaram à esquadra no dia 5 de Fevereiro de 2015 participaram numa “invasão” para tirar da esquadra um amigo, Bruno Lopes, detido horas antes na Cova da Moura. Defendem também que levaram Bruno Lopes para a esquadra depois de este ter atirado pedras à carrinha da polícia.