A ideia partiu de um grupo de cinco alunos do mestrado em Tecnologia e Ciência Alimentar, iniciativa conjunta entre a Universidade do Porto e a Universidade do Minho. Depois de descobrirem a drèche numa aula de Biotecnologia Alimentar, uma questão nunca mais lhes saiu da cabeça: por que razão é que o principal subproduto da indústria cervejeira não seria aproveitado? Como não encontraram resposta, decidiram pôr mãos à obra e criaram o Salt&Dreche, que na sexta-feira, 25 de Maio, conquistou o terceiro lugar no concurso Ecotrophelia Portugal, que distingue os produtos alimentares ecológicos mais inovadores criados por estudantes universitários.
É provável que o nome não te soe familiar. A drèche é um subproduto da indústria cervejeira, constituído por resíduos de cereais, como a cevada, o trigo ou a aveia, geralmente utilizado na alimentação animal. "É um produto bastante desperdiçado e que maioritariamente vai para a ração animal, mas tem propriedades benéficas para a dieta humana, [por isso] porque não utilizá-lo?", questiona Maria Dias, porta-voz da equipa. Além disso, é um produto de baixo custo e possui um elevado valor nutritivo.
Depois de alguma pesquisa, os estudantes descobriram que algumas marcas já tinham testado aplicações da drèche, combinando, por exemplo, farinha de drèche, em maior quantidade, com a de trigo. "Mas apenas isso", sublinha a jovem. A equipa quis ser pioneira e três meses depois nasceu o Salt&Dreche, um snack salgado feito a partir desta matéria-prima incomum, à qual os estudantes juntaram uma série de especiarias "para conferir sabor ao produto". E sem corantes, nem conservantes.
Os Drechies, nome pelo qual se intitulam, confessam que, um dia, gostariam de comercializar a sua criação. Afinal, transformaram um produto que até à data não era utilizado na alimentação humana, com pouco ou nenhum valor comercial, num alimento pronto a ser degustado, "com resultados a nível de sabor, de aroma e de textura bastante bons e com bastante aceitabilidade", acrescenta Rui Ferraz, da mesma equipa.
O projecto acabou por ser escolhido para concorrer ao prémio. Todos os alunos de Biotecnologia Alimentar desenvolveram ideias, que foram depois apresentadas ao resto da turma. "No final, seleccionámos os que teriam mais potencialidade a nível de inovação 'eco', não tanto pelos sabores ou conceitos, mas sobretudo pelo aproveitamento, já que é disso que se trata o Ecotrophelia", explica Maria Dias. Correu bem. Para além do terceiro lugar do concurso, e que lhes valeu um prémio de 500 euros, o Salt&Dreche venceu ainda a distinção Born From Knowledge, um programa de valorização do conhecimento científico e tecnológico promovido pela Agência Nacional de Inovação, que lhes dará acompanhamento durante 12 meses.
Dos dez finalistas ao Ecotrophelia Portugal, prémio promovido pela PortugalFoods e pela Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares, a grande vencedora foi a feijoada vegetariana pronta-a-comer Bean Ready. A equipa distinguida vai agora representar Portugal na competição europeia do prémio, que se realiza no Salão Internacional de Alimentação (SIAL), em Paris. Em segundo lugar ficou a Legutê, que se dedica à produção de patés de leguminosas, levando para casa 1000 euros. Às três premiadas foi ainda atribuído pela Patentree um serviço de diagnóstico e consultoria de propriedade industrial aos projectos.