Últimas garrafas da colecção de Henri Jayer vendidas por 30 milhões de euros

No lote encontram-se garrafas daquele que é considerado um dos vinhos mais caros do mundo, o Cros-Parantoux, Vosne-Romanée Premier Cru do "rei da Borgonha", que pode ultrapassar os 10 mil euros por garrafa.

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Regis Duvignau/Reuters

As últimas garrafas da colecção pessoal de Henri Jayer, lendário produtor de vinho francês conhecido como o "rei da Borgonha" (região do sudeste de França) ou o "mestre do Pinot Noir" (uma casta de uva tinta produzida essencialmente nessa região), foram vendidas num leilão em Genebra, neste domingo, por 30 milhões de euros.

Para surpresa de muitos, a quantia arrecadada superou até mesmo as estimativas dos especialistas, que tinham avaliado inicialmente a colecção entre 5,7 e 11,2 milhões de euros (6,7 e 13 milhões de francos suíços). No total, eram 1064 as garrafas da adega do famoso vinicultor, entre as quais 855 garrafas tradicionais padrão e 209 garrafas magnum (de 150 centilitros). A mais antiga data de 1970 e a mais recente de 2001, segundo o diário francês Le Monde. O lote 160 foi o mais caro do leilão: constituído por um conjunto de quinze garrafas magnum de Cros-Parantoux, Vosne-Romanée Premier Cru (considerado um dos vinhos mais caros do mundo), datadas entre 1978 e 2001. Este lote, que tinha sido avaliado entre 237 mil e 406 mil euros, foi vendido por mais de um milhão de euros. Uma garrafa de Vosne-Romanée Premier Cru pode frequentemente ultrapassar os 10 mil euros, de acordo com o site Wine-Searcher

O leilão, iniciativa das filhas de Henri Jayer (que morreu em 2006, aos 84 anos), durou seis horas e meia e contou com cerca de uma centena de compradores, provenientes de todo o mundo, que puderam fazer as suas ofertas presencialmente ou através do telefone ou internet. Teve lugar no Domaine de Châteauvieux, em Genebra, e foi organizado pela leiloeira Baghera Wines. Um porta-voz da leiloeira assegurou, segundo o Le Monde, que a venda representou "um volume de negócios de 34,5 milhões de francos suíços" (29,8 milhões de euros), um valor recorde para uma única venda. "Doze anos depois da sua morte, os vinhos assinados pelo famoso produtor de vinho da Borgonha continuam a ser, inquestionavelmente, os vinhos mais caros do mundo", acrescentou a leiloeira.

As garrafas faziam parte da colecção pessoal de Henri Jayer, que as foi guardando ao longo da vida na adega da sua propriedade na aldeia de Vosne-Romanée, onde se produzem os melhores vinhos tintos da Borgonha. Os vinhos adquiriram novos rótulos e cápsulas antes de serem leiloados, garantindo a sua rastreabilidade e autenticidade. "Estas garrafas e magnums da sua reserva pessoal eram um pouco como o seu laboratório, uma maneira de ver os seus vinhos vintage envelhecerem ao longo dos anos", explicaram à Agence France-Press Lydie e Dominique Jayer, filhas do produtor. "Foi [uma decisão] natural para nós, já que não podíamos beber todas estas garrafas, oferecê-las para venda para que os amantes de vinho pudessem comprá-las e bebê-las em sua homenagem", acrescentaram.

Assegurando que Henri Jayer se tornou "o emblema da Borgonha aos olhos do público", o enólogo suíço Jacques Perrin – que conhecia Jayer pessoalmente – explicou à mesma agência de notícias francesa que aquele vinho tem "toda a graça do Pinot [Noir], a esbeltez, a estrutura, a delicadeza aromática", características que Jayer "fez de tudo para preservar". Perrin, que tinha chegado a duvidar de antemão da avaliação inicial dos especialistas, acrescentou que, para além do "efeito da especulação", o preço por que foi vendida a colecção reflectiu o "efeito coleccionador", estimulado pela ânsia de adquirir "este último vestígio de uma herança, quase uma relíquia".

Michael Ganne, director executivo da leiloeira Baghera Wines, afirmou, por sua vez, que a grande força daqueles vinhos "é realmente a fruta, que tem uma elegância e subtileza incríveis", assegurando a sua qualidade. Ganne esclareceu que "os compradores deste tipo de vinho são geralmente coleccionadores bastante conhecidos", prevendo que os interessados nesta colecção seriam licitantes regulares provenientes da Ásia, América e Europa.

Assegurando que o pai era um apaixonado por vinhos e pelo seu trabalho, as filhas de Henri Jayer esperam que os novos proprietários destas garrafas não as deixem meramente a ganhar pó (e valor) nas suas adegas. "Não esqueçamos que o vinho é sinónimo de partilha, e estes vinhos foram feitos, acima de tudo, para serem bebidos e apreciados", concluíram.

Texto editado por Pedro Guerreiro

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