A meteorologia ajudou: 2018 ainda está abaixo da média
Por enquanto, este ano segue tranquilo. As chuvas na Primavera foram uma benesse e os números dos incêndios assim o indicam. Mas já houve anos assim que acabaram mal. Mas também já ardeu tanto que o risco já não é o mesmo.
Entre 1 de Janeiro e 14 de Junho, houve 4742 incêndios rurais que resultaram na destruição de 4676 hectares, segundo o sistema de informação do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Estes números estão muito abaixo da média dos últimos dez anos para o mesmo período graças a uma meteorologia benévola, algo que também já tinha acontecido em 2016.
O número de ignições até nem está longe da média: de 2008 a 2017 esta situa-se nas 5400, enquanto agora está nas 4742, o que face ao que choveu não deixa de ser um número muito elevado. Mas em termos de área ardida, a distância é enorme: 4676 hectares para 11.357 de média.
Assim, neste primeiros cinco meses e meio de 2018, já se esfumaram 1736 hectares de florestas, 2808 hectares de matos e 132 de zonas agrícolas. Se compararmos com o ano passado, por esta altura já tinha havido mais de 6500 incêndios que destruíram quase 17 mil hectares de área total.
Muitos destes incêndios têm origem em queimadas, uma prática ancestral que muitos continuam a fazer e que o Governo pretende agora regular. Além do potencial destrutivo que podem ter se feitas sem controlo, o certo é que este ano já vitimaram seis pessoas que não conseguiram escapar ao fogo que atearam para queimar sobrantes da actividade agrícola e florestal.
Se se olhar para os incêndios com mais de 30 hectares, aqueles registados pelo EFFIS (Sistema de Informação Europeu sobre Fogos Florestais), confirma-se este quase meio ano benévolo: houve 34 fogos com estas características, contra uma média de 38 entre 2008 e 2017, e a área destruída por estes incêndios maiores foi de 1288 hectares contra os 6058 de média.
O facto de esta Primavera ter sido a terceira mais chuvosa desde 1931 ajuda a explicar estes números. No entanto, também em 2016 já tinha sido assim, tendo Maio sido o mais chuvoso dos 22 anos anteriores. Porém, nesse ano acabaram, mais tarde, por serem destruídos mais de 160 mil hectares, a maior destruição face aos dez anos anteriores.
Mas o que diz a experiência é que a violência dos fogos é cíclica – muito ligada ao tempo em que a vegetação volta a estar em condições para arder. Aconteceu em 2003-2005. Voltou a acontecer nos últimos anos. Se terminou ou não, é impossível saber. Mas mesmo que em 2018 se conjugassem novamente as condições meteorológicas extremas que ocorreram no ano passado, a área ardida não deveria ultrapassar os 300 mil hectares – contra os 440 mil de 2017. As contas são de Paulo Fernandes, especialista em fogos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e que fez parte da Comissão Técnica Independente que analisou os fogos do ano passado.
Este é um cenário limite, o máximo dos máximos, mas mesmo assim um imenso perigo. O facto de em 2016 e 2017 já ter sido destruída muita área florestal e de mato baixa as probabilidades de uma tão elevada destruição. Mas o risco continua elevadíssimo em certas zonas. Os distritos de Castelo Branco e Faro estão no topo das preocupações num país em que 1,9% do território (175 mil hectares) tem grandes hipóteses de ficar devastado neste ano.
Há zonas do país, como é o caso dos concelhos de Monchique, Oleiros, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Paiva e Aljezur, onde a probabilidade de se registarem fogos é muito elevada. Nas zonas mais problemáticas, há 23% de hipóteses de ocorrerem incêndios superiores a 250 hectares, o que é uma catástrofe, segundo um estudo da responsabilidade de Antónia Turkman e Feridun Turkman, do Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa e que teve a colaboração de José Miguel Pereira e Ana Sá, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (ISA), e de Carlos da Câmara, do Instituto Dom Luiz, também da Universidade de Lisboa.
Tem-se tentado que nem tudo fique nas mãos do S. Pedro. Há medidas em curso tanto do lado da defesa como do lado da prevenção. Mas não é num ano que um problema de décadas, muitas décadas, é resolvido. O que torna incontornável o facto de a meteorologia continuar a ser o joker no destino da floresta nacional neste Verão de 2018.