Vova Pesotsky e a United Colors of Ronaldo

O fã que já tem um autógrafo conseguiu ir a Sochi à espera de ver um golo do ídolo. Também houve quem viesse da Índia para torcer por Espanha e por Ronaldo.

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Cristiano Ronaldo LUSA/JOSE COELHO

Vova Pesotsky tem dez anos e é de Moscovo. Não entende uma palavra de português mas é fã incondicional da selecção nacional, tudo por causa de Cristiano Ronaldo. Conseguiu convencer o pai, Aleksey Pesotsky, a comprarem atempadamente bilhetes para o grande embate de Sochi, com a Espanha. Quatro horas antes da partida passeiam nas imediações do estádio vestidos com as camisolas de Portugal, uma vermelha e outra branca. Ambas têm o número sete nas costas e o nome do mais reconhecido embaixador nacional no mundo.

Não há muita gente nas ruas que rodeiam o recinto olímpico que na realidade se situa na localidade de Adler, a cerca de 30 km de Sochi. É uma das várias estâncias balneares desta região, nas margens do Mar Negro, com as majestosas montanhas do Cáucaso, pinceladas de branco, como pano de fundo.

Nesta altura do ano não se vêem muitos turistas, apesar da temperatura superior a 30 graus. A localidade foi completamente transfigurada para receber os Jogos Olímpicos de Inverno, há dois anos, num gigantesco investimento que rondou os 4,3 mil milhões de euros. É um exemplo acabado de gentrificação. Bairros inteiros desapareceram e os seus habitantes foram realojados noutras paragens, a maioria contra a sua vontade, como contou ao PÚBLICO um empresário de Moscovo que viajava no avião que faz a ligação entre Krasnodar e Adler, onde se situa o aeroporto internacional.

Construíram-se dezenas e dezenas de novos e modernos hotéis, mas a maioria está quase sempre desocupada, apesar do turismo da região garantir que passam por aqui anualmente, aproximadamente, um milhão de russos. Muitos outros preferem passar férias na Turquia, com preços mais atractivos. Já os militares e as forças policiais são presença habitual nestas estâncias, desde que o Presidente Vladimir Putin desaconselhou a sua saída para o exterior por motivos de segurança, face aos conflitos em que a Rússia esteve envolvida nos últimos anos. Já estrangeiros são raros e isso explica o facto de praticamente ninguém falar inglês, mesmo na maioria das unidades hoteleiras. Uma situação que se estende ao resto da Rússia, por sinal.

Perto de um parque de diversões ao estilo Feira Popular, nas traseiras do estádio, seguem apressados dois indianos. Também eles vestem a réplica da camisola portuguesa de Cristiano Ronaldo. Sudy Curatui é programador informático e Natush Relhan trabalha em marketing na mesma empresa com sede em Deli, capital da Índia. Mas a sua militância é mais complexa. São adeptos fervorosos do jogador madeirense e do Real Madrid e vão torcer pelo português e pela Espanha neste jogo.

Já perto das entradas para o interior do estádio, um grupo de veteranos a conversar alto não disfarça a sua proveniência. Vêm de Coimbra e “adoptaram” pelo caminho um brasileiro. O nome de um deles chama a atenção: Maló. Nada menos do que o irmão da antiga glória da Académica de Coimbra João Maló, guarda-redes que fez toda a sua carreira na "Briosa", entre 1959 e 1970. São os primeiros portugueses a chegar.

Mas Ronaldo tornou a camisola da selecção portuguesa um fenómeno transnacional. Vova Pesotsky conseguiu um autógrafo do atacante durante a Taça das Confederações, no ano passado, e espera agora ver um golo do seu ídolo, daqueles que fazem levantar estádios.

 

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